Capítulo 30-"Canção da Lâmina"

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Uma criança sem nome, sem lugar no mundo, filha de escravos. Por sorte do destino o homem que era dono desses escravos, Elerd Qinlar, os tratava bem, diferente de seus companheiros elficos que normalmente os viam como meros produtos. Os dois eram escravos domésticos e, assim como a garota, ajudavam nos serviços da casa. Foi nessa época que a garota recebeu um nome do dono: Ceres, de uma lenda elfica antiga sobre uma estrela que brilhava forte no céu.

Elerd era um dos poucos primogênitos da família Qinlar, famosa por carregar o estilo da Canção da Lâmina entre os segredos da família. Eles dominam uma tradição arcana que incorpora esgrima e dança. Originalmente criada por elfos, esta tradição foi adotada por praticantes não-elfos, que honram e expandem os caminhos dos elfos.

Em combate, um usuário desse estilo usa uma série de manobras intrincadas e elegantes que afastam os danos e permitem que ele canalize magia em ataques devastadores e uma defesa astuta. Muitos que observaram um cantor de lâminas trabalhando lembram-se da exibição como uma das experiências mais bonitas de suas vidas, uma dança gloriosa acompanhada por uma lâmina cantante. Uma dessas pessoas era Ceres, que acompanhava dia e noite o treinamento de Elerd na Canção da Lâmina e tentava copiar seus movimentos e habilidades.

Algumas semanas depois Elerd a pegou bisbilhotando seu treino e, ao invés de puni-la ou vende-la, decidiu ensinar sobre a arte de sua família. Seus pais e descendentes ficariam revoltados com o ato de Elerd ensinar a arte da família a uma humana escrava, mas ele não se importava. O afinco e vontade de melhorar da garota o deixou inspirado.

Durante toda sua infância, Ceres treinou a Canção da Lâmina. Após a morte de seus pais, oriunda de uma doença incurável, Elerd adotou Ceres aos treze anos, e assim a garota carregou o sobrenome Qinlar. Após isso Ceres treinou com ainda mais afinco e conseguiu até mesmo superar seu mestre no combate. A prova disso foi a habilidade que Ceres desenvolveu, o Silêncio Cantante, que permitiu a Ceres conjurar magias sem componentes vocais.

Aos dezoito anos o chamado da aventura alcançou a mulher, que rumou até o coliseu mais próximo. inicialmente, foi lhe barrada a entrada por ser "frágil e fraca", mas Ceres calou a boca de todos ao vencer os gladiadores locais naquela noite, e colocar seu nome na boca do povo. Elerd ficou preocupado, é claro, mas sabia que sua filha poderia se cuidar muito bem com o que sabe.

Dois anos depois, Elerd foi obrigado a voltar a sua cidade natal em Kefala, e foi assim que os dois se separaram. Ceres continuou a lutar em Flávia, na cidade de Cartadius, até alcançar o topo do local e ser condecorada como "A Lâmina de Cartadius". Porém, aquilo não era o suficiente.

Assim como seu nome diz, Ceres nasceu para ser a estrela mais brilhante, e por isso sempre almejou um confronto contra a mais brilhante luz. Aquele momento, aquela luta contra o Executor, era a comprovação de tudo o que Ceres viveu. Todas as horas treinadas, todos os dias não dormidos, todo o esforço, foi para aquele momento, aquela luta.

De longe, na sacada de Cícero, Linnor consegue sentir o esforço de Ceres. Ela colocaria tudo o que tem nesse golpe. Toda sua força, toda sua energia arcana, todos os seus sonhos. Karna, Tomoki e Mavmarir também sentem: aquele será o golpe final de Ceres, seu golpe mais forte.

Ceres se aproxima de um atordoado Timotio, e o atinge com a ponta da rapieira, de baixo para cima. Todos os gladiadores, mas mais evidentemente Miyahara, Linnor, Elerd e Lansios, conseguem perceber duas ondas de impacto percorrendo o corpo do minotauro no momento em que a rapieira o toca, uma única vez.

Subitamente, a capa de Linnor começa a tremular um pouco para frente, O cachimbo de Rhastiel se apaga e a barba de Mímir começa a voar um pouco, acertando a cara de Lok'tar. Um pouco depois disso, uma grande onda de vento percorre o coliseu e se junta na ponta da rapieira negra de Ceres, que lança Timotio para longe.

A arena é varrida pelos ventos. A plateia fica em silêncio por alguns instantes, olhando o Executor lá, caído no chão. O portão por onde os Conquistadores de Rubruv entraram estava agora quebrado, e em cima dele estava Timotio, deitado.

Alguns segundos se passaram, como se todos esperassem que o Executor se levantasse e recomeçasse a luta. Ceres desmancha sua rapieira negra e faz um giro de saudação para a torcida. Cortando o silêncio da arena, o Apresentador anuncia:

"Vi-Vitoria dos Conquistadores de Rubruv!"

"Cacete..." Cochicha Hector, surpreso pela força da gladiadora.

Cícero se levanta da cadeira e se vira para Linnor.

"Você viu isso, Campeão de Albalor?!" Um brilho intelectual aparece em seus olhos. "Ela fez assim! E assim! E depois fuuuussh! Ela foi muito boa! Você entendeu o que aconteceu?"

"Não." Diz Linnor, tentando manter a calma.

Na sacada de Albalor, Nym se pergunta de onde Ceres tirou essa força extraordinária. Rhastiel acende seu cachimbo de novo e Azon sorri, pois finalmente começou a entender que aquele Torneio não seria tão fácil quanto ele imaginou.

Ulbrok engole em seco ao perceber que terá que enfrentar pessoas como Ceres, mas depois ganha confiança ao lembrar que também passou por um árduo treinamento. Miz'ri guarda o livro que terminou de ler e pega outro. Elerd enxuga uma lagrima que começava a cair.

Mímir tira sua barba do rosto de Lok'tar e começa a alisa-la.

"Vejo que o Elerd treinou ela muito bem." Mímir se vira para os companheiros. "Acho que vamos ter dificuldade, não é?"

"Eu não entendi porra nenhuma do que aconteceu." Diz Lok'tar. "Mas se batermos nela primeiro que ela bater na gente, vamos ganhar."

"Acho que a gente não vai ter problema." Diz Otan, calmo.

Na saca de Atervos, Naqrin olha empolgado para a apresentação que viu. Akash bate palmas enquanto elogia a força de Ceres e dos outros Conquistadores de Rubruv. Lansios bebe sua taça e a coloca de novo no braço da cadeira.

"Ela é boa... Quase tão boa quanto vocês." Diz Lansios, com um sorrisinho no rosto.

"Quase tão boa?" Pergunta Miyahara, percebendo o raro, porém genuíno, sinal de afeto do alto elfo.

"Não se acostume, eu não elogio tantas vezes." Ele volta a ter sua postura rígida.

A arena é tomada por aplausos e gritos nos nomes dos Conquistadores de Rubruv, em especial para Ceres Qinlar, atração principal da batalha.  O Apresentador aparece na cerca da sacada dos Conquistadores de Albalor, dando um susto em todos.

"Vejam bem senhoras e senhores! o que vocês veem agora é um verdadeiro milagre! O Executor foi executado!"

A plateia vai a loucura e grita o nome dos aventureiros em resposta ao terrível jogo de palavras do halfling. Todos os gladiadores do torneio nem se movem ao ouvir as palavras, exceto Akash, que adora o espetáculo que vê.

"Os vencedores são os Conquistadores de Rubruv. E como vocês bem sabem, aquele que derrotou o Executor deve se tornar o Executor!"

E, mais uma vez, a plateia vai a loucura.

Old Dragon: Torneio da Conquista Onde histórias criam vida. Descubra agora