Nat: E o que a pericia disse?
Eu: Que meu helicóptero não passou por vistoria. Eu recebi um documento como se ele tivesse sido vistoriado, mas ele não foi. A Embraer se responsabilizou porque a ANAC teve acesso até as imagens das câmeras dos galpões de revisão e meu helicóptero sequer entrou no galpão. Ele ficou lá, no mesmo lugar.
Nat: Mas não te deram um documento Pri?
Eu: Sim, deram... E o documento era falso. Eles não tinham mais tempo para a vistoria, então simularam um documento qualquer, três pessoas assinaram assumindo que haviam feito a vistoria e me entregaram.
Nat: Meu Deus... Falha técnica e falha humana de quem não fez a revisão então?
Eu: Sim. Meu painel apagou, porque meu helicóptero estava com um vazamento de óleo, com dois cabos soltos no painel porque na simulação de que tinham feito uma vistoria, eles mexeram de qualquer jeito soltaram os cabos do painel, mas não conectaram. Isso acionou a painel automático, mas com o vazamento de óleo o painel automático não foi suficiente para manter tudo funcionando foi onde tudo foi desligando até chegar no motor. Malena morreu pouco após o impacto, Jorge e Denis morreram na hora e a Marina foi ejetada quando a porta abriu e caiu na areia. Ela voltou a andar a menos de um ano. Está bem, pelo que sei. Ela me manda mensagem, me manda email, me liga, mas eu nunca respondo.
Nat: Por que Pri? Você não teve culpa de nada. Pelo contrário, se você não tivesse feito o que podia para salvar a todos, você e ela não estariam aqui hoje.
Eu: Culpa de sobrevivente talvez. Recebemos uma indenização milionária depois de 2 anos. As famílias do Denis e do Jorge receberam também, mas eu os ajudei anonimamente durante esse tempo, ajudei a Marina também. Depois de mais de quatro meses no hospital, eu fui pra casa. Eu não consegui passar 24 horas na minha casa da Gávea. Tudo lá me lembrava a Malena. Ela decorou toda aquela casa. Então eu fui pra casa do Joá. Isolada, quase sem vizinhos, com uma vista linda do mar. Nunca mais entrei num helicóptero, nunca mais voltei na minha empresa. O Rodrigo passou a cuidar de tudo pra mim. Contratei um motorista pra minha filha por causa da escola e por causa das minhas consultas médicas, meus pais são responsáveis legais pela minha filha caso algo aconteça comigo. Eu já tinha transtorno de bipolaridade, mas era super controlado e com isso ficou pior e eu parei de usar algumas medicações, não gostava dos terapeutas e virei essa bagunça. Evitava que meus funcionários me vissem, mesmo eles nunca tendo se assustado comigo, eu me sentia mal, eu me sentia feia, eu me sentia um monstro. Eu criei um mundo bem escuro pra mim onde ninguém podia me ver, onde eu podia ser essa Priscilla machucada cheia de cicatrizes e cheia dor. Só deixava me ver quem eu queria e quando eu queria e as pessoas se acostumaram com o meu novo sistema e sempre funcionou bem.
Nat: Sonha muito com ela?
Eu: As vezes. – não queria explicar aqueles sonhos repetidos a ela.
Nat: Pri, obrigada por me contar sua história, me ajudar a entender o universo dentro da sua mente e dentro do seu coração.
Eu: Não tive muita escolha né? Você meio que quebrou meu sistema implantado a força por mim e pulou a janela do meu coração que tinha a porta trancada a 7 chaves. – ri.
Nat: É... Talvez... – riu. – Eu não quero tirar o lugar da Malena do seu coração. Mas quero abrir um novo espaço ai dentro pra mim, se você se permitir sentir algo por mim e me permitir te amar.
Eu: Eu sinto... E eu sinto muita coisa por você Natalie por mais que eu tenha tentado resistir. Eu as vezes penso que estou traindo a memória da minha mulher e ao mesmo tempo vem a culpa. – suspirei.
Nat: Não acha que ela gostaria que você fosse feliz? Você ainda tem uma vida pela frente, ainda tem a missão de criar sua filha.
Eu: Os sonhos que tenho com ela de uns tempos pra cá, ela vem... – suspirei – Ela vem pedindo para deixa-la ir e ser feliz.
Nat: Então seja Pri. A deixe ir. A morte dela já foi sofrida pra ela, não fique prendendo-a aqui cultuando a memoria dela de maneira tão angustiada. Isso está impedindo a evolução dela em outro plano e está te impedindo de seguir em frente e de se perdoar pelo que aconteceu, mesmo você não tendo sido culpada de nada. Tira esse peso dos seus ombros Priscilla, você não precisa senti-los. Você não precisa carrega-los. E você não está traindo a memoria dela. Cuida de você também. Você precisa se cuidar.
Eu: Eu não sou o tipo de pessoa que pede ajuda.
Nat: Quer ser ajudada?
Eu: Quero – a olhei nos olhos.
Nat: Então conta comigo...
Eu: Obrigada. – sussurrei.
Nat:Eu estou aqui... –eu precisava viver e me deixar ser amada e me permitir amar.
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Marcas do Passado
FanfictionNatalie Kate Smith, 34 anos uma mulher que perdeu tudo por causa de um casamento fracassado e cheio de brigas com Tiago Deam que tem sua idade e hoje está preso por tráfico de drogas. Ela não imaginava que seu marido era um dos maiores traficantes d...