Capítulo 42

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NATALIE NARRANDO...

Vê-la foi um misto de sentimentos. Ouvir toda a história dela foi a sensação mais louca que eu já senti. Me senti dentro de um filme que eu queria logo que acabasse. Agora eu entendia o trauma dela e era muito pesado. Sentir tudo aquilo deveria ser terrível pra ela e só de imaginar era horrível imagina conviver com isso. A gente estava se dando bem. Estavamos dando uma chance para sentirmos tudo que sentíamos uma pela outra e estava sendo bom. Eu me sentia amada, e percebi que nunca me senti assim antes, mesmo ficndo casada tanto tempo. Por falar em casamento, ela queria saber sobre a minha vida. Ela se abriu pra mim, então eu tinha que me abrir com ela também.

Pri: Me fala de você... Você nunca falou sobre você e sobre seu ex marido. – eu suspirei.

Eu: Não é nenhuma história legal de contar. Não que a sua seja legal porque é triste tudo que aconteceu, mas eu sinto um pouco de vergonha mesmo não tendo nada a ver com isso.

Pri: Eu quero ouvir. Eu sei pouco sobre você, a Rafaela não entrou muito em detalhes.

Eu: Tá bom... Vamos falar sobre mim... – bebi um gole do vinho – Eu conheci o Tiago numa festa de ex alunos. Nem tinha tanto tempo assim que tínhamos formado, mas a turma se reuniu para um reencontro. Ele estava lá. Eu nunca tinha visto ele na faculdade e aquilo sempre foi estranho pra mim. A gente conversou, ficou bebendo no bar e ele era legal, era engraçado e a gente ficou. Nada de sexo, era só beijo mesmo. Então começamos a sair e a ficar a partir dai. Em dois meses ele me pediu em namoro, eu não estava apaixonada, mas gostava dele e então começamos a namorar. Aos poucos eu fui gostando mais dele, embora ele viajasse muito a negócios supostamente. E depois de um ano a gente se casou. A gente nunca tinha brigado nem nada, nos dávamos super bem. Ele me tratava como uma rainha. Eu trabalhava numa multinacional ganhava super bem, a gente morava no Leblon, ele tinha a empresa dele que óbvio descobri no fim que era mais uma fachada que um negocio real. Não era tão rentável assim para vivermos como a gente vivia e ele estava sempre em outra cidade ou fora do país. Algumas vezes era verdade, outras não. Até que depois de quatro anos casada eu comecei a perceber um nervosismo da parte dele, a gente começou a discutir muito e eu só tinha paz mesmo quando ele viajava. Eu não me importava se ele tinha uma amante fora da cidade ou o que ele fazia, só queria que ele ficasse fora de casa para não ter discussões.

Pri: Nessas brigas, ele te batia? Te ameaçava?

Eu: Não. Jamais. Tiago nunca encostou o dedo em mim, nunca ameaçou me bater nunca nem levantou a mão pra mim. Mas eu odiava o clima de brigas e eu já não sentia mais aquele amor todo. Na verdade acho que nunca senti 100% esse amor por ele. No ano passado no começo do ano eu estava trabalhando e a moça que trabalhava na minha casa me ligou dizendo que a policia federal estava na minha casa com um mandado de busca e apreensão. Eu sai do trabalho e fui pra casa rapidamente e quando eu cheguei a minha casa estava toda revirada. Me pediram para abrir o meu cofre e eu abri e não tinha nada nele... Era o que eu pensava. Meu marido sabia a senha, tiraram minhas joias de lá, dinheiro e então abriram o fundo dele. Eu não sabia que tinha um fundo falso ali, eu não estava presente quando aquele cofre foi instalado e a senha foi ele quem criou. A gente tinha algo em comum que era respeitar a privacidade um do outro então nem nossos telefones tinham senha e a senha do cofre era só por segurança nossa mesmo. Quando abriram o fundo falso tinham muita cocaína, crack, LSD e cartões de créditos ali. Tinham cadernetas de anotações, de telefones, tinha muita coisa. Eu estava em choque. Eu então tentei a mesma senha no cofre dele e abriu... Ele usou a mesma nos dois e encontraram muita coisa, principalmente dinheiro e anotações no fundo falso, além de diamantes e 8 telefones celulares desligados. Por isso o telefone dele não tinha senha, ele não fazia nada com o telefone pessoal.

Pri: Nossa... Ele tinha tudo arquitetado.

Eu: Sim... Foi então que eu fui presa em flagrante e levada para delegacia. Eu passei 8 horas prestando depoimento. Entreguei meus computadores, meu telefone, meu ipad, tudo... Para verem que eu não tinha nada a ver com aquilo tudo e eu nem sabia de nada.

Pri: Mas até provar que você não sabia de nada com tudo no meio das coisas, levaria tempo.

Eu: Sim... Levaria muito tempo. O delegado me falou que o Tiago era um forte traficante procurado até mesmo pelo FBI, ele tinha 16 identidades falsas, e 16 passaportes. Eu fiquei em choque... Eu não sabia de nada e eles me forçaram a contar tudo que eu sabia. Eu falei os nomes de cada amigo que eu conhecia e soube que um dos sócios dele na empresa era sócio dele no trafico também. Meu marido mandou matar muita gente no Brasil, no México e nos Estados Unidos. Eu fui presa, não me mandaram para o presidio, pude chamar meu advogado que ficou em choque em saber de tudo aquilo. Tiago foi preso no campo de marte em São Paulo junto com o sócio dele e mais 8 da quadrilha. Ele atuava com cerca de 60 pessoas. Numa ação policial, 32 foram mortos, 10 foram presos. 8 ainda estão foragidos e há indícios de que saíram do país.

Pri: E como conseguiu provar sua inocência?

Eu: Ele não sabia que eu tinha aberto o cofre dele, apenas o meu. Ou seja, pra ele, eu não tinha entregado ele de mão beijada a policia. Então ele me inocentou depois de 49 dias na cadeia. Ele disse que eu nunca soube dos negócios dele, que para mim, ele era um dono muito abastado de uma grande imobiliária no Brasil e no Exterior que justificava as viagens dele, mas que eu realmente era inocente. Ainda passei mais 11 dias presa por causa de papelada e por causa das mensagens dos diversos celulares encontrados. Neles muitas mensagens falavam de mim, que eu não sabia de nada então era pra tomar cuidado porque ele não queria me queimar e me sujar, que eu jamais poderia saber da vida dupla dele. Meu advogado fez o pedido de divórcio, eu assinei e ele assinou sem dizer uma só palavra. Minha ficha foi limpa e eu fui solta.

Pri: E hoje ele sabe que você entregou o cofre dele?

Eu: Sabe. E soube que ele ficou com raiva de mim, mas que sabia também que eu não poderia fazer diferente já que eu realmente não sabia de nada e eu não poderia assumir cumplicidade e que talvez tivesse agido no impulso já que a policia estava ali me coagindo e tinha encontrado coisas no meu cofre que eu nem sabia que existiam. Ai vieram os danos... A gente não era casado em comunhão de bens, então eu tinha meu dinheiro no banco que não era grande coisa, mas era o suficiente pra mim. A casa era dele, e minha conta pessoal foi bloqueada nesse período e eu passei mais 30 dias totalmente sem dinheiro até ser desbloqueada. E para piorar tudo eu fui demitida, a empresa não queria o nome vinculado a uma pessoa que foi presa por cumplicidade com traficante mesmo minha inocência tendo sido provada. Eu fui morar com a minha tia onde estou até hoje tecnicamente. Meus pais moram no Sul e ficaram com muita raiva de tudo isso, eles nem no meu casamento foram, meus pais odiavam ele, e eu nunca entendia o porquê. Eu achava que era implicância boba, mas eles diziam que tinha algo errado com ele, ficamos anos sem conversar e eles estavam certos. Realmente tinha algo de muito errado. – suspirei – Essa é a minha história.

Pri: Uau... Eu não sei o que eu faria se eu soubesse que estava anos casada com uma pessoa que tinha uma vida dupla totalmente oposta da que eu conhecia.

Eu: Foi difícil passar por isso.

Pri: Ainda gosta dele, tem algum tipo de sentimento?

Eu: Nenhum Pri. Mas doeu muito descobrir tudo que eu descobri, saber que eu vivi boa parte da minha vida com um dinheiro de crime, isso me arrasou demais. Eu perdi meu emprego, eu perdi dinheiro, eu sai com o que eu tinha guardado desse casamento com um imóvel que eu tinha e eu vendi. Eu ia para o Sul se eu não tivesse aceitado trabalhar no lugar da Rafa.

Pri: Que bom que você veio. – sorriu.

Eu: É... – sorri e dei um selinho nela. Comemos a sobremesa e subimos. Eu estava louca pra transar com ela, mas não podíamos ainda por causa da cirurgia recente dela, mas estávamos vivendo uma fase de se conhecer, de entender a vida uma da outra que era muito importante. Estávamos nos despindo emocionalmente diante uma da outra e isso era importante para nós. 

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora