Capítulo 100

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Mãe: E ai? Como seu pai tá?

Eu: Ainda não tive noticias. Maya disse que... – contei a ela.

Mãe: Ele não podia ter saído. Eu pedi que ele ficasse em casa que eu ia pedir o Paulo para buscar a Maya ou ia pedir um uber pra ela, porque eu não ia sair a tempo de uma reunião.

Eu: Mãe, o que está acontecendo? O papai está estranho e não é de hoje.

Mãe: Ele tem feito exames... – médico veio.

XX: São familiares do Roberto Pugliese Felix?

Eu: Sim, sou filha dele Priscilla e essa é a esposa dele minha mãe Patrícia. Como ele está?

XX: Sou doutor Augusto Mendonça. Podemos conversar na minha sala? – fomos com ele entramos e nos sentamos. – O Roberto está bem, não teve machucados graves, quebrou um braço, mas fora isso e algumas escoriações ele está bem fisicamente. O que me chamou atenção foi a ressonância dele. – ele nos mostrou. – Essa imagem é de um cérebro perfeitamente saudável. Essa imagem é do cérebro do Roberto. Estão vendo essas manchas mais escuras.

Mãe: Sim... O que isso significa?

XX: O Roberto tem Alzheimer. E está desenvolvendo rapidamente. – meu corpo todo gelou. Aquilo não podia estar acontecendo. Ele explicou muitas coisas, minha mãe explicou sobre os exames, mas os médicos diziam que poderia ser demência precoce, ou excesso de liquor  na medula espinhal.

Eu: Tem certeza que é esse o diagnostico?

XX: Sim. Eu falei com mais dois colegas, um deles é especialista e Alzheimer e estamos certos que é mesmo isso. Ele não pode mais dirigir. Ele está numa fase em que ele alterna esquecimento, com realidade e lucidez. Ele deve estar tendo alguns apagões. Foi o que aconteceu com ele no transito hoje. – nos explicou tudo, passou algumas medicações e fomos vê-lo. Ele receberia alta em 24 horas então minha mãe ia em casa pegar uma roupa pra ele, tomar um banho e pegar umas coisas pra ela também, ela ficaria com ele. Eu fiquei com ele enquanto ela fazia isso e ele falava o tempo todo sobre o acidente, que não sabia o que tinha acontecido. Perguntou da Natalie se estava tudo bem com ela que não a via a alguns dias. Perguntou se Maya estava bem, que não queria machuca-la. Quando minha mãe chegou o médico veio falar com ele e explicar a condição dele. Ele chorou, ele não queria aceitar que tinha Alzheimer. Meu irmão já tinha chegado e ficou arrasado. Passamos a tarde toda com ele, Natalie cuidava da Maya pra mim. Eu fui até a capela do hospital e rezei. Pedi a Deus que desse lucidez a ele até a festa da minha filha, era importante pra ela e ele estava muito empolgado com isso também, dançar valsa com a única neta dele. Pedi também que se fosse possível, ele estivesse lucido no meu casamento. Era importante pra mim, mas que se não estivesse, que ele ao menos pudesse estar presente e saudável a medida do possível. Fui ver minha filha o médico estava lá dando alta a ela. Ele passou alguns medicamentos a ela para dor, para febre, para os machucados dela também. Eu assinei os papéis, ela quis ver o avô primeiro antes de ir embora, ficou lá 10 minutos e fomos pra casa. Deixei Natalie na empresa para pegar o carro dela. Ela disse que ia passar o apartamento para pegar algumas coisas e ia lá pra casa. Eu fui pra casa tirei o colete cervical da Maya a ajudei com o banho, ela estava com tontura. Logo a ajudei colocar o pijama coloquei o colete de novo, o jantar estava servido, Natalie tinha chegado. Eu jantei primeiro depois eu fui tomar banho. Coloquei um pijama fui dar os remédios de Maya e ela não demorou a dormir. O dia foi longo. Natalie estava no telefone falando com a mãe dela. Eu me sentei na poltrona perto da janela. Logo ela veio.

Nat: Oi...

Eu: Oi... – cai no choro. Ela me abraçou forte. – Isso não pode ser verdade.

Nat: Eu sinto muito amor... Eu sinto muito mesmo. – falou com a voz embargada. Aquilo me arrasou muito. Eu não dormi quase nada aquela noite. Levantei várias vezes para ver como minha filha estava e para dar a medicação dela. As cinco da manhã perdi o sono de vez, fui para o escritório e comecei a pesquisar tudo sobre o Alzheimer, sobre tratamentos para retardar o avanço da doença. Quando dei conta já eram 7 da manhã a Natalie abria a porta do escritório. – Bom dia.

Eu: Bom dia.

Nat: Que horas acordou?

Eu: Umas cinco horas. Já estava dormindo mal, então perdi o sono de vez.

Nat: E o que está fazendo? – olhou para a tela do computador. - Amor, não fica com paranoia sobre isso.

Eu: Eu precisava pesquisar, entender um pouco sobre isso, é o meu pai Nat.

Nat: Eu sei amor. E você vai falar com um médico e vai tirar todas as suas dúvidas. Internet não é lugar de tirar duvidas ok? Vai trabalhar hoje?

Eu: Não, vou ficar com a minha filha.

Nat: Eu tenho três reuniões, mas vou tentar vir mais cedo ok

Eu: Eu te amo sabia?

Nat: Eu sei... Eu também te amo muito. – eu subi tomei um longo banho coloquei uma roupa de ficar em casa mesmo dei uma olhada na minha filha e desci. Sentei para tomar café com a Natalie, ela foi para a empresa, eu fiz uma bandeja para a minha filha e subi. Ela já tinha acordado, já estava no banho, logo voltou pra cama colocou a bandeja no colo para tomar o café dela, tomou o remédio. Eu liguei pra minha mãe, meu pai já tinha recebido alta, e já tinha uma consulta marcada para o dia seguinte com um neurologista muito importante do Rio de Janeiro. Após o almoço eu e Maya fomos até lá. Meu irmão tinha ido resolver a questão do seguro do carro, eu passei no colégio da minha filha antes levei o atestado, ela ficaria dois dias em casa. Meu pai estava arrasado com a noticia. Ele estava totalmente lucido. O medico disse que a evolução da doença nele estava moderada, mas era significativa pela idade dele. Ele ainda era novo pra isso. No dia seguinte fui ao médico com ele, minha mãe e meu irmão. O neurologista explicou muitas coisas, fez novos exames de imagem e realmente era isso, meu pai estava com Alzheimer em desenvolvimento. Minha mãe estava arrasada. Meu irmão estava calado, mas visivelmente abalado. Eles tinham ido de carro comigo então os deixei em casa.

Eu: Eu vou pra casa, a Maya está sozinha com a Joana. Eu vou ver se consigo alguém para cuidar da festa dela e do meu casamento para que não fique em cima da senhora.

Mãe: Não, claro que não. É meu trabalho Priscilla. Eu não posso deixar de viver. A vida segue normalmente com doença ou sem doença. Não posso desmarcar meus compromissos de trabalho. Vou cuidar da festa da minha neta e do seu casamento.

Eu: Tudo bem mãe, se precisar de ajuda me fala.

Mãe: Ok. Vai com cuidado.

Eu: Tá... Te amo.

Mãe: Te amo.

Eu: Tchau pai. Se cuida.

Pai: Vai com cuidado, dá um beijo na Maya.

Eu: Pode deixar. Te amo.

Pai: Te amo. – fui pra casa, a Sabrina estava lá com a Maya, estavam comendo bolo. Sentei para comer com elas e fui trabalhar um pouco no meu escritório. 

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora