Capítulo 4

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Eu me tornei uma pessoa muito diferente do que eu costumava ser. Minha casa vivia aberta, alegre. Eu vinha para essa casa quando eu queria paz, mas morava mesmo na Gávea. Depois do acidente, meu refugio de final de semana virou meu refugio eterno. Eu tinha marcas profundas no corpo e na alma, e eu tinha dores pelo corpo e também na alma. Eu sentia falta da Malena, éramos felizes. Eu tinha uma filha linda, que era filha dela e eu a adotei quando nos casamos. Foram 9 anos casadas. Maya tinha 1 ano quando me casei com a mãe dela e 10 anos quando a mãe dela morreu. Eu passei meses no hospital. Minha mãe me conhecendo bem, conseguiu ocultar tudo sobre o acidente, sobre as vitimas. Eu pilotava o helicóptero. A gente voltava de um casamento em Petrópolis e o helicóptero teve uma pane elétrica e eu não consegui controla-lo. Eu perdi as pessoas mais importantes da minha vida naquele dia e me perdi muito também. Minha filha sofreu muito com a perda da mãe e eu não conseguia suprir a ausência dela e não conseguia ser presente, então meus pais faziam bem o papel de avós dando todo o amor e carinho necessários pra minha filha. Mas ela sentia e sente minha falta. Rafaela minha governanta, meu braço direito em casa está grávida, logo sairia de licença e ela ficou de arrumar alguém competente e sigiloso para ficar no lugar dela. Eu já estava ansiosa com isso, eu não gostava de mudanças, não mais. Ela se sentiu mal e precisou sair mais cedo de licença então logo apareceu lá em casa com a moça nova. Ela era bonita, parecia tímida e um pouco amedrontada. Ela não me viu, ainda não me senti confortável de me revelar a ela. Seu nome era Natalie Smith e ela começaria já no dia seguinte. Minha filha chega em alguns dias, vai vir do colégio para casa. Os avós supostamente estão a enlouquecendo, mas com certeza é o contrário. Acordei na manhã seguinte tomei um longo banho, estava com um pouco de dor, tomei o remédio para dor toquei a campainha e logo desci. Me sentei para comer não demorei muito, estava com enjoo de tanta dor que eu sentia. Fui para o meu quarto, mas antes parei no quarto da Maya e aquilo estava uma verdadeira bagunça desde a ultima vez que ela esteve em casa a duas semanas e ninguém tinha limpado. Quando passava pela janela, vi algumas pessoas fotografando. Precisava agilizar a obra do muro e a troca do portão. Esses turistas... Eles me irritavam. Todos os dias na porta da minha casa com essa história de fantasma, de mansão mal assombrada. Minha mãe dizia que era minha culpa por me enclausurar na casa e não aparecer para ninguém e por decidir manter a casa a maior parte do tempo fechada. Eu odiava me sentir vigiada. Resolvi que faria algumas reformas na casa, como aumentar o muro que dava acesso a entrada da casa e que dava para ver as janelas da minha casa por onde me viram e criaram a história de que sou um fantasma. Embora eu me sinta morta por dentro eu estava bem viva. Decidi reforçar a segurança e aumentar o muro e o portão que seria renovado e ficaria mais alto. Entrei em contato através do meu advogado com a prefeitura para resolver a questão do perímetro da minha casa, para que fosse impedido a aproximação das pessoas e estava aguardando uma liminar onde as pessoas seriam proibidas de se aproximarem 60 metros do meu portão para fotos porque meus seguranças poderiam agir como quisessem. Fui me deitar um pouco, eu sentia muita dor as vezes por causa do acidente. Eu tive muitas fraturas e cortes profundos, ainda não posso fazer a cirurgia plástica para recuperar minha auto estima e provavelmente terei que fazer nos Estados Unidos. Logo bateram na porta e eu virei a cadeira.

Eu: Entra...

Nat: Bom dia senhora Pugliese.

Eu: Bom dia senhorita Smith. Bem vinda.

Nat: Obrigada. Deseja alguma coisa?

Eu: Não. Está tudo bem. Qualquer coisa eu te chamo.

Nat: Tudo bem. Com licença... – quando ela saia a chamei novamente.

Eu: Senhorita Smith?

Nat: Sim?

Eu: Meu remédio para dor acabou, preciso que ligue para o meu médico e providencie a receita e os novos remédios pode fazer isso? A caixa está no meu quarto dentro da gaveta no meu banheiro. É o Dimorf. Ele sabe a quantidade e ele fará a receita mandará para uma farmácia, a secretária dele ligará aqui falando o valor e mandará entregar aqui.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora