Capítulo 41

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Os dias seguintes foram difíceis pra mim. Eu sentia dor, era esperado, mas eu sempre aliviava minhas dores na piscina e eu não estava na minha casa para isso. O médico me indicou uma terapeuta para me ajudar a administrar todo esse processo. Parte da minha dor era fantasma, era trauma do acidente, do passado, tudo que eu senti naquele dia e nos dias seguintes somatizados. Minha mãe deixou para vir quando a minha filha viesse, ela queria estar no Rio com a Maya por causa das provas e aulas antecipadas. Já tinham duas semanas que eu estava ali. Acordei de madrugada com muita dor.

Eu: Aii...Ah... – gemia.

Nat: Amor, o que foi?

Eu: Eu estou com muita dor. – chorava e gemia.

Nat: Onde dói?

Eu: Meu corpo.

Nat: Pri olha pra mim? – segurou meu rosto – Seu corpo não dói. É a sua mente dizendo isso pra você calma. – ela me abraçou. Eu estava tremendo. Ela levantou e foi até o banheiro e logo veio. – Vem comigo, vamos pra banheira, vai te ajudar. – ela me ajudou a tirar a roupa, tirou a dela e entramos na banheira. A água estava quentinha, senti meu corpo todo relaxar. Eu estava entre as pernas da Natalie. – Isso... Está tudo bem, fica calma. – eu fechei os olhos e só senti as mãos dela passando pelo meu corpo. A dor foi sumindo rapidamente e eu nem percebi a hora passando. – Pronta pra sair?

Eu: Sim... – eu sai com cuidado e ela saiu em seguida. Nos secamos colocamos um pijama e deitamos novamente.

Nat: Se sente melhor?

Eu: Sim... Obrigada. – dei um selinho nela. – Obrigada por tudo que tem feito por mim.

Nat: Estou aqui... Sempre... Vamos dormir um pouquinho? A gente tem umas 4 horas pra dormir e depois temos consulta.

Eu: Sim... – a gente adormeceu rápido. Eu acordei com ela me chamando, eu tomei banho, ela fez curativo em mim, a gente se arrumou tomou café e fomos a minha consulta.

Samuel: Está ótimo Priscilla. Está sentindo dor?

Eu: Sinto um pouco na mão e no pescoço só. E essa madrugada eu senti uma dor horrível no corpo.

Samuel: Tem feito a terapia?

Eu: Sim.

Samuel: Lembra do que estava sonhando antes de acordar com dor?

Eu: Com o acidente, mas foi diferente, o helicóptero caia na água e ninguém sobrevivia, nem eu. E eu via nossos corpos boiando.

Samuel: Sua dor é psicológica Priscilla. Não estou invalidando, eu sei que está sentindo, mas ela é fruto da sua mente, do seu psicológico. É fruto de um residual de emoções e traumas. A piscina e a banheira aliviam suas dores, continue usando para aliviar, mas como ultimo recurso. Faça os exercícios mentais para desviar o foco da dor, e do que você está sentindo na hora. Se não passar, você vai para a piscina ou para a banheira, até você conseguir controlar suas emoções. E sobre a cicatrização, está ótima, vou manter o curativo só na mão. Mas se sair durante o dia, use a pomada que passei e cubra com um lenço para evitar exposição ao sol. Na semana que vem a gente se vê novamente.

Eu: Tá bom, obrigada. – saímos de lá.

Nat: O que quer fazer agora? Não temos nada pra fazer hoje.

Eu: Compras? – sorri.

Nat: Então vamos as compras. – fomos para o shopping e eu poderia jurar que eu fiquei pobre. Maya a uma hora dessas estaria louca, porque ela ama fazer compras ainda mais se tiver grife envolvida, ai sim ela fica louca. Esse gosto ela pegou da Malena. Malena amava uma grife, ela tinha um excelente gosto para roupas, quadros, vasos, joias. – No que está pensando? – a gente voltava pra casa.

Eu: Na Maya. Saudade dela – sorri. – Ela estaria louca agora com as compras. Tipo criança quando você enche de açúcar e fica surtada? É a minha filha com grifes – rimos. – Ela puxou isso da mãe dela.

Nat: Maya tem muito bom gosto pra roupas, ela se veste tão bem. E ela não é de usar roupas muito curtas, muito peladas como as adolescentes de hoje tem usado.

Eu: Ela tem muito bom gosto.

Nat: O que fez com as coisas das sua esposa?

Eu: As roupas dela doei para um bazar, eram de grifes, então doei para bazares de causas beneficentes. Fiquei com algumas que eu gostava, a Maya escolheu algumas pra lembrar da mãe. As joias ficaram pra Maya e as mais adultas ficaram pra mim e dei algumas para a Mariela, assim como as bolsas. Os sapatos também foram para o bazar. Só não desfiz totalmente dos quadros e dos vasos.

Nat: Ela trabalhava com você?

Eu: Sim, ela era engenheira de minas. Ela sempre achou que fosse se explodir em alguma mina – rimos. – Ela era engraçada, bem humorada, feliz. E eu sempre fui mais na minha, muito reservada, tímida e séria.

Nat: Por isso você quase não aparecia em jornais e revistas ou na internet e seu acidente não foi tão divulgado?

Eu: Houve todo um trabalho por trás do meu acidente. Meus pais conseguiram colocar sobre segredo judicial quem pilotava a aeronave. Meu casamento e de Malena nunca foi noticiado, a gente nem era conhecida pra virar notícia. Éramos duas empresárias milionárias, mas nada extra chamava atenção e eu amava isso. Então quando tudo aconteceu minha mãe conseguiu o sigilo judicial, o caso foi divulgado, as pessoas que faleceram, mas não quem pilotava e eu sumi.

Nat: Na sua empresa, as pessoas sabem?

Eu: Acho que fazem ideia. O acidente aconteceu, minha mulher morreu, e eu sumi e nunca mais voltei. Rodrigo cuida de tudo pessoalmente.

Nat: E agora, pretende voltar?

Eu: Pretendo. Com meu rosto recuperado, é meu objetivo, voltar aos poucos sabe.

Nat: Isso é bom – sorriu. Chegamos no prédio subimos e fomos tomar um banho juntas. Trocamos alguns carinhos, eu não podia fazer esforço então transar não era opção ainda por mais que a gente quisesse. Natalie cozinhava e eu a ajudava com o jantar. Logo sentamos para comer.

Eu: Ficou muito bom...

Nat: Que bom que gostou.

Eu: Me fala de você... Você nunca falou sobre você e sobre seu ex marido. – ela suspirou.

Nat: Não é nenhuma história legal de contar. Não que a sua seja legal porque é triste tudo que aconteceu, mas eu sinto um pouco de vergonha mesmo não tendo nada a ver com isso.

Eu: Eu quero ouvir. Eu sei pouco sobre você, a Rafaela não entrou muito em detalhes.

Nat: Tá bom... Vamos falar sobre mim. 

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