Capítulo 47

343 49 13
                                    

Alec

Desde a situação que levou ao sequestro de Lizy, que eu parei para pensar nas atitudes tomei nesses últimos meses. Eu precisei ver ela chegar no seu limite, e sentir na pele o desespero de não ser capaz de encontrá-la porque não tinha controle sobre as minhas emoções, para perceber o quão imaturo e prepotente eu fui nos últimos meses.

Esse mal momento me fez enxergar no que eu me tornei, e a questionar se o que eu sinto por Lizy é realmente amor. Me tornei algo que eu disse a mim mesmo que não seria jamais, que eu quis me tornar quando Selina me traiu, mas que meu caráter não permitiu.

Foi por isso que no dia seguinte do resgate de Lizy eu pedi a ela um tempo para nosso relacionamento. Não foi fácil tomar essa decisão, mas era a melhor a ser feita. Isso não significa que eu a tenha deixado, ela está hospedada na casa dos meus pais, divide a cama comigo todas as noites, porém não compartilhamos mais carinho ou prazer um com o outro.

Não está sendo fácil, claro que não, eu a desejo loucamente, muitas vezes quis mandar tudo a merda e fazê-la minha de novo. Mais tem algo que me manteve firme na minha escolha, e que é o principal motivo pelo qual eu pedi essa pausa.

<< Aquele olhar.>>

Aquela troca de olhares entre Owen e Lizy no meio da floresta, uma conversa silenciosa que ninguém teve coragem de interromper, nem mesmo eu. Presenciar isso foi um balde de água fria sobre mim, por isso passei os últimos dez dias me questionando sobre o real motivo pelo qual meu namoro com Lizy estagnou, do porque Owen sempre aparecia no nosso meio. 

E a resposta veio hoje, enquanto eu assinava os últimos papéis para encerrar meu horário laboral. Estava pensando em tudo que aconteceu depois daquele beijo possessivo de Owen em Lizy na Califórnia. Me dei conta de que meu mal comportamento não foi culpa de Lizy, nem de Owen, foi minha.

Eu acreditei que depois da experiência ruim com Selina eu tinha superado o que ela fez comigo, e que não me envolver com ninguém por muito tempo foi a melhor decisão. Mas foi aí onde eu errei, não superei Selina, me obriguei a esquecer, virei um pegador que fugia das relações, e com o tempo eu passei a acreditar nessa mentira.

Com tudo isso que aconteceu com Lizy, veio a tona as consequências disso. A insegurança pós traição, que ao invés de ter superado, eu a escondi debaixo de sete camadas. E que quando eu vi Lizy com Owen ela saiu a luz, destruindo toda a farsa que me obriguei a acreditar para não sofrer, me transformando no homem que eu nunca quis ser, ciumento e possessivo. Então me questionei:

<<Porque eu só me dei conta do filho da puta que estava sendo quando vi eles dois se olhando?>>

A resposta veio logo depois. Porque eu me vi em Lizy naquele momento, porque ela está fazendo o mesmo que eu fiz, se enganando. Ela não esqueceu Owen e nem vai supera-lo, apenas está se obrigando a enterra-lo no mais fundo de si. E quando ela me deu todas aquelas negativas, foi porque queria fugir de relações. Igual eu fiz por quase seis anos, por insegurança, por medo de acontecer de novo, de ser machucado outra vez.

Então eu entendi que eu não me tornei o substituto de Owen, me postulei para ser. E foi por isso que Lizy me escolheu quando teve que escolher, não porque gosta de mim, mas porque quer fugir dele, ela se forçou a acreditar que eu sou a melhor opção para ela, a âncora que a mantém segura no meio da tempestade dos seus sentimentos.

Não foi só ela que errou, nós erramos, eu por deixar explodir um trauma do passado na nossa relação, e ela por está fazendo o mesmo que eu, e que provavelmente irá trazer problemas para nós no futuro.

E com essas conclusões eu cheguei a uma decisão. É por isso que guardo todos os meus materiais na gaveta da minha sala, e vou até a minha habitação. Eu preciso voltar para a casa dos meus pais e colocar essas cartas na mesa junto com Lizy.

Logo de trocar de roupa eu entro no meu carro e dirijo até Porto de Venice, bairro onde fica a mansão dos meus pais. Reafirmando uma e outra vez por todos o caminho que essa é a decisão certa a tomar.

Meu pai foi convocado para participar de uma conferência de Líderes em Washington, amanhã ele viajará e só retornará na sexta-feira, isso significa que eu tenho que trazer Lizy de volta para a base, aqui ela estará mais segura.

Ela já está bem melhor, não ouve traumas dessa vez, e sou muito grato por isso. Mas uma prova de que Lizy se torna mais forte a cada adversidade que enfrenta.

Ela ficou mais afetada com me ver modelando com outra mulher, do que ter passado três dias em cativeiro.
Tenho que confessar que fiquei surpreso por ela ter me revelado isso, em outro momento eu chamaria ciúmes, mas por experiência própria eu sei que não foi, é mais um sentimento de possessividade, como um instinto irracional ao ver uma ameaça a nossa estabilidade.

É isso que eu e Lizy somos, um casal instável, frágil, ao ponto de que qualquer pessoa que ouse interferir, ou tente chegar muito perto de nós causa um desequilíbrio, explodi a bomba tóxica que somos, disfarçados de um casal legal.

O meu detonador foi ver Owen marcando Lizy como sua quando eu achava que ela era minha. E a reação de Alicia ao meu toque, e o efeito que causou o dela em mim, desequilibrou a instabilidade de Lizy.

Eu realmente fui afetado por aquela moça, Pela beleza estonteante dela. A sensação da sua boca na minha mandíbula foi como ser tocado por uma pluma, leve e cativante. A reação que meu corpo teve me deixou tenso no momento, porque eu gostei daquilo, do jeito suave e singelo dela.

Alicia é uma mulher cativante, jovem como Lizy, doce, e aparentemente tímida. No pouco tempo que passamos juntos, e a interação que tivemos, foi tranquilo, agradável, me despertou uma paz desconhecida por mim faz muito dias. Eu realmente gostei de modelar com ela.

O Que Nunca Vivemos #2 Trilogia EquivocadosOnde histórias criam vida. Descubra agora