O Que Nunca Vivemos #2 Trilogia Equivocados

Capítulo 41

Owen

O sol abandona o céu aos poucos deixando para trás as nuvens tingidas de um tom alaranjado.

Subir até a cobertura do edifício principal para esvaziar a mente, de novo.

<<Ela escolheu ficar com ele.>> Penso mais uma vez.

Mesmo depois de eu ter implorado silenciosamente que ficasse comigo, de ter dito com o olhar que estava disposto a deixar tudo por ela.

Ela sabia o que eu estava sentindo, a nossa conexão não tem explicação, mas eu vi nos seus olhos a indecisão.

Eu fiquei parado no meio da pista com um eu te amo subindo na garganta pronto para ser dito, mas que não tive a oportunidade de falar.

Talvez Lizy não me amasse tanto assim, ou achou nele o que não tinha comigo. E não posso julga-la, eu demorei muito tempo para entender que fui um puto com ela, que para certas atitudes não há perdão.

Ela se foi, e tive que aceitar, mesmo que doa, que ela não vai voltar.

Os últimos meses eu vivi uma solidão interminável. Não encontrei mas prazer em nada que eu fazia, a não ser trabalhar, e trabalhar para conseguir minha promoção.

Em 21 de abril fui condecorado tenente, poucos dias depois que ela se foi. E agora, três meses depois, estou olhando da cobertura do prédio de dormitórios a pista de treinamento ser preparado para minha condecoração de capitão da tropa Alfa.

Como eu consegui isso tão rápido?

Bem, Richard não me deixou em paz até que eu tomei a vaga que o safado do ex tenente Jones deixou, quando foi preso e condenado a morte por traição.

Eu nunca fui com a cara dele, mas ainda sim fiquei surpreso quando descobri que ele era um infiltrado. Descobrimos outros também, já foram 16 traidores encontrados pelo sistema de infiltração criado por Lizy.

Mas voltando ao fato de como cheguei ao posto de capitão, eu não sabia como lidar com os sentimentos que estavam engasgado na minha garganta. Então eu fiz aquilo que Lizy falou que seus pais tinham feito quando se divorciaram, me afundei em trabalho.

Não tive folga, nem descanso, trabalhei dia e noite na procura dos infiltrados dentro da base, também em missões fora do estado da Califórnia.

Agora o meu uniforme é decorado com sete medalhas de honra ao mérito. E depois da prova de ontem, eu fui ascendido a capitão da tropa alfa, ou seja, eu terei os melhores dos melhores soldados, junto com os membros da nova Elite unidos em uma só tropa.

Melissa ascendeu a Tenente mês passado, e vai ser a tenente da minha tropa. Os papais Morgan não escondem seu orgulho.

<<Pelo menos ainda tenho o psicológico intacto.>>

Pensei que enlouqueceria com tudo que estava suportando por dentro, somados a pressão do meu pai, e as ligações insistentes de Sophia. Eu até quis terminar com ela, mas para Richard não importou o que eu estava passando, ele tinha outros planos.

O crepúsculo vai dando lugar ao azul escuro no céu, e a brisa fria que vem junto com a noite banha o meu rosto enquanto eu sigo olhando a extensão do território militar pensando em qualquer coisa que não seja naqueles olhos verdes me olhando indecisos.

<<Ela escolheu ele Owen.>> Repito essas palavras na mente cada vez que penso nela.

- Espairecendo meu capitão? - Valentin aparece ao meu lado.

Eu já sabia que tinha alguém chegando antes mesmo dele falar. Melhorei significativamente a minha percepção de movimento nos últimos meses.

<< Habilidade que vem com a prática.>>

- Algo assim. - respondo ainda olhando para frente.

- Ainda segue doendo? - pergunta cauteloso.

<<Será que algum dia vai parar de doer? >>

Eu perdi a mulher que amo para outro. Não perdi para ela mesma, porque ela decidiu por si só não ser mais minha, a perdi para outro.

Mas não foi só Lizy que eu perdi, ela acabou com meu ego, meu orgulho, e tudo que sustentava a reputação do mais novo dos Morgans. Não resta quase nada do mulherengo, e sem sentimentos que eu era antes de conhecê-la. Só um coração destroçado de um Owen apaixonado.

<<Eu até sorriria se não fosse tão caótico. >>

Confesso que parte da motivação para chegar até onde eu cheguei tem a haver com Alec Rivera. Ele tirou tudo de mim, e talvez eu tenha trabalhado duro para ser melhor que ele profissionalmente.

Eu sou o capitão mais jovem já existido em todo o CSMF em seus 56 anos de existência. Tomei o recorde que era dele.

Alguns atribuem o mérito ao meu sobrenome, mas os que me acompanharam os últimos meses sabem que é só meu. Fui eu que trabalhei duro fechando cartéis de drogas, prendendo grandes cabeças do crime, terroristas, entre eles o grande líder Ami Hassan, o atual chefe do Al-qaedã dentro do território americano.

Todas essas coisas eu fiz por mim mesmo. Investiguei, me infiltrei, e achei o infeliz escondido em um pequeno povoado no estado do Arizona.

Um leve sorriso aparece em meu rosto quando lembro o chilique da minha mãe ao saber que eu estava infiltrado dentro do movimento terrorista. Eu escuto sermão até hoje por causa disso, mas foi essa missão que me deu a medalha que vai me condecorar capitão.

- Talvez algum dia passe. - Repondo ao meu amigo sorrindo a ele ao olha-lo.

- Essa é uma etapa difícil, mas passa. Nenhum sofrimento é eterno. - Ele reponde olhando à frente de novo. Valentin sabe do que está falando, já passou por isso.

- Onde está Herry? - Mudo de assunto não querendo mais falar sobre o que lembra ela.

- Advinha aí. - ele sorri.

- De novo? - solto uma gargalhada quando ele confirma com a cabeça. - Ele vai acabar engravidando ela.

- Não duvido, pensei que eu e Jane transavamos muito, mas Herry e Lúcia estão descontrolados.

- Talvez seja o poder da reconciliação, duvido muito que ela estava sendo bem comida com Aegan passando vinte e cinco dos trinta dias do mês na Irlanda. - Sorrio novamente.

- Você e Lizy seriam bem piores, se antes ninguém via vocês, imagina depois de uma reconciliação.

O sorriso do meu rosto desaparece, e um aperto forte no peito me deixa quieto.

- Desculpa irmão, eu não devia ter falado isso. - Ele diz ao se dá conta do efeito de suas palavras.

- Está tudo bem. A gente seria bem pior mesmo, provavelmente eu a levaria para minha casa em Aspem, e ficaria dentro dela até não ter mais forças para um só movimento.

- Nossa! Também não exagera. Iria morrer por exaustão muscular.

- Só eu sei a sede que eu tenho dela. - Sorrio de boca fechada voltando a olhar para frente.

- Eu te entendo irmão, é doloroso perder quem a gente ama, e mais doloroso ainda é superar a química entre os dois. E vocês tinham muita química, até hoje não entendo como ninguém mais se deu conta da relação de vocês, quando era tão nítido em seus rostos.

- Nem eu.

Valentin sai depois de passar uns minutos olhando o horizonte, mas eu fiquei um pouco mais.

Ele tinha razão quando disse que é difícil superar a química entre nós dois.