• Maiara •
Meu rosto estava quente. Todas aquelas pessoas que estavam me olhando, ouviram Fernando gritar como um babaca. Respirei fundo e sorri para a próxima mãe, evitando olhar em direção à minha residente e seus internos.
Pedi que o caso fosse lido e atualizado, informando que graças à melhora nos últimos exames, não havia necessidade de permanecer mais um dia no hospital e por isso aquela seria a última noite para que desse sequência a cada quinze dias com um tratamento clínico. Combinei de passar pela manhã e até o último de todos os quartos, minha respiração diminuiu e as minhas bochechas deixaram de ficar quentes, mas ainda me sentia borbulhando. Parei para assinar alguns prontuários revisados que estavam prontos quando Tatiana Fakri me entregou mais.
Tati: Ele não é mais casado — ela murmurou timidamente e com ao receber meu olhar como resposta, saiu de perto com muita rapidez.
Eu vi pelo elevador os internos que estavam de folga começando o turno e eu dispensei quem estava no meio do plantão de trinta e seis horas para comer e tirar o descanso, combinando que nos encontraríamos para assumir a emergência. Doutor Paulo me entregou a minha caneca térmica cheia de café e me convidou para sentar um pouco em uma das salas de estudo. Aceitei, disposta a manter um bom relacionamento. Ele era um homem mais velho e foi um bom médico por toda a vida, segundo minhas pesquisas, mas não tinha um espírito de liderança e era facilmente manipulado, ou não possuía vontade de se indispor com a doutora Stela.
Paulo: Você estava certa — ele disse em um tom exausto. — Sei que é o seu primeiro dia e não queria parecer um completo babaca, mas a verdade é que estou um pouco cansado de todas as coisas que vinham acontecendo nesse hospital. Era como nadar contra a correnteza.
Maiara: Eu entendo. Agora é o começo de uma nova era, doutor Paulo. — Ergui minha caneca e ele bateu o copo no meu. — Nós vamos fazer essa pediatria ser renomada em todo o país — confirmei e ele concordou. — Será que pode esperar algumas horinhas? Doutor Antônio vai mandar uma equipe de suporte por uns momentos enquanto converso com vocês, só preciso que o pediatra que vai te render chegue. Prometo não demorar.
Paulo: Tudo bem, você é quem manda. Literalmente.
Voltamos para a área da recepção e Diego apareceu com a equipe que iria nos substituir por alguns momentos. Bipei todos os funcionários da pediatria através do computador central e segui para a sala onde pedi que os internos do dia se preparassem. Aos pouquinhos a sala foi enchendo, tanto de enfermeiros quanto de internos e residentes. Ainda havia aqueles que não me conheciam e outros que já estavam com as expressões alteradas. O pediatra que assumiria o plantão da noite me deu um sorriso e se apresentou como Ivan Silva. Pareceu simpático. Fiquei parada esperando a sala ficar em silêncio e quando todos se ligaram, comecei a falar.
Maiara: Olá! Eu sou Maiara Carla Pereira, a nova chefe da Pediatria e momentaneamente chefe da emergência. Sou nova, tanto na cidade quanto no hospital. Não estou interessada em discursar sobre o meu currículo porque essa rápida reunião é para assinalar todas as mudanças que começarão a partir de agora.
Passei vinte e cinco minutos listando todos os tipos de comportamento, respostas rápidas que eles dariam aos pacientes e aos pais. Já possuía um arquivo de boas maneiras no ambiente de trabalho, só acrescentei que gostaria que todos fossem gentis, humanos, sorridentes, educados e determinei o que era a função da enfermagem e o que era função dos internos. Não era uma opção não agir dentro dos protocolos básicos de respeito ao próximo.
Maiara: Espero que tenhamos uma longa caminhada, feliz e juntos. Não sou uma pessoa inacessível, mas só me acordem se o hospital estiver pegando fogo — brinquei e eles riram. — Estou aberta a ouvi-los e vamos transformar esse lugar para esses pequenos pacientes em um ambiente feliz. — Sorri ao perceber que quem estava tenso, não estava mais e recebi expressões mais simpáticas. — Obrigada pela atenção. Quem estava em descanso, acrescente esse tempo e quem começou agora, bom plantão! Vamos salvar vidas hoje! Eles bateram palmas e eu me senti realizada.
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Todas as coisas que eu sonhei
FanfictionMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...