Capítulo 36

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• Fernando •

Marco César estava parado, muito sério, olhando Maiara pelo vidro. Nete estava mais atrás. Ambos de braços cruzados, observando-a dormir. Aproximei-me e parei ao seu lado. Ele suspirou, demonstrando muita preocupação.

Marco César: O que aconteceu?

Fernando: Luiz e Maraisa apareceram aqui ontem — contei finalmente e ele virou-se para mim, ficando repentinamente vermelho.

Marco César: Aquele bastardo encostou na minha filha de novo?

Fernando: Não! Ela quem o agrediu, em todo caso...

Precisei falar a história com todo cuidado e detalhes. Marco César me ouviu com atenção, olhando-me com sua preocupação de pai explodindo. Nete se aproximou para ouvir melhor.

Marco César: Oh, puta merda. Ela teve outro surto?

Fernando: Ela já teve um antes?

Marco César: Sim, e dirigindo. Quando ela os pegou na cama, teve um surto de ansiedade dirigindo e sofreu um acidente. Bateu com o carro e ficou vários dias no hospital. — Nete tocou o ombro de Marco César, que só secava o suor, nervoso. Eu o levei para sentar antes que tivesse outro ataque cardíaco.

Fernando: Ela pediu que chamasse a minha mãe antes disso.

Marco César: Maiara nunca foi boa em lidar com essa situação. Ela não sabe se grita, se chora, se quebra alguma coisa e na dúvida de como agir, perde o controle — Marco César confidenciou. — Ela estava tão feliz e agora acontece isso... — ele disse e virou-se para mim. — Não deixe a minha filha por causa disso. Ela te ama, está feliz, mas a relação dela com Maraisa era linda. Ela amava aquela irmã. Idolatrava e cuidava como um bebê. Ela também colocou Luiz em um pedestal. Maiara se tornou um robô infeliz, fazendo de tudo para agradá-los e por isso que eu digo, não duvide do amor dela. Ela te ama.

Fernando: Eu não vou deixá-la, Marco César. Essa possibilidade não existe. Ela é a mulher da minha vida. É uma fase ruim e nós vamos superar juntos.

Ele assentiu e virou-se para a frente novamente.

Marco César: Que horas ela vai despertar?

Fernando: Minha mãe vai diminuir os sedativos no começo da tarde. Até umas quatro horas ela já acordou...

Marco César: Eu vou embora, não gosto de invadir o espaço dela. Quando ela me ligar, eu volto. Mantenha-me avisado por fora.

Despedi-me de Nete e William e fui bipado no meu andar para resolver um problema com a família do paciente. Não entrei em nenhuma cirurgia porque não tinha condições mentais de operar ninguém. Acabei precisando entrar em uma reunião com meus residentes para falar sobre um paciente que a família era o verdadeiro problema e precisaríamos saber como lidar com as interrupções constantes.

Quando saí, eu tinha dezoito ligações perdidas da minha mãe. Fui correndo no andar onde Maiara estava e encontrei o quarto vazio. Corri pelas escadas até a pediatria. Mamãe estava encostada na parede, vendo Maiara parada contra o vidro do quarto de Eduarda.

Filomena: Ela não sabe que a segui. — Mamãe me segurou quando fiz menção de ir até Maiara. — Acordou, pediu água, me abraçou, chorou e agradeceu. Ela veio andando sozinha e eu só a segui de longe.

Maiara tocou o vidro e ficou olhando até que virou de costas e escorregou pela parede, chorando.

Filomena: Deixe-a chorar sozinha. Dê a ela um momento. — Mamãe me segurou de novo.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora