Capítulo 2

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• Maiara •

O amigo do meu pai me ligou, informando estar no portão. Desci e fiz um tour com ele pelo andar de baixo, completamente vazio porque não tinha um carro. Subimos e mostrei o apartamento.  Ele estava acompanhado de dois rapazes e ambos me mostraram o melhor sistema de alarme, códigos e interfone, deixando meu portão elétrico se eu quisesse e concordei. Fechamos um pacote de serviços e eles ficaram de voltar para instalar tudo no dia seguinte bem cedinho.  Acompanhei-os até a porta, bastante satisfeita. Meu pai e os amigos dele. Ninguém além dos mais próximos sabia quem era Marco César.  Ele era dono de uma das maiores empresas de segurança particular do país, General do Exército aposentado e um pai muito protetor. Sendo filha única por parte dele, sempre tive tudo. Já a minha mãe, separou-se dele quando eu tinha três anos de idade e foi viver com Carlos, tendo Maraisa alguns anos mais tarde.  Morei com minha mãe até os doze anos de idade e depois pedi para viver com meu pai, quando fui uma criança mais feliz. Minha infância com a minha mãe não foi fácil e nosso relacionamento ficou tolerável quando eu só tinha que passar os verões com ela. 

Resolvi terminar de limpar o escritório, ajeitei-o completamente e saí para comprar uma furadeira, assim como outras ferramentas que toda mulher deveria ter em casa. Instalei a máquina de lavar no andar de baixo, perto de uma pia que não era bem um tanque, mas boa o suficiente para lavar roupas pequenas. Instalei a secadora, arrastei uma tábua de passar ali no canto e deixei o ferro. Seria uma espécie de garagem e lavanderia também.  Subi novamente e furei os buracos no alto das janelas da sala, onde pendurei as imensas cortinas brancas, limpei e repeti o mesmo processo nos outros cômodos.

Pendurei quadros e as minhas fotos de criança com meu pai, algumas depois de adulta e uma em que estávamos dançando em seu casamento. Recebi os últimos móveis, montei-os sozinha mesmo e arrumei as roupas em meu armário. Eu não tinha mais tempo para deixar tudo apresentável. Minha terapeuta diria que eu devia ser menos psicótica, mas depois de Luiz e de toda a dor, eu não conseguia parar até encontrar a perfeição. Eu precisava de tudo no devido lugar ou jamais me sentiria inteira. Passei meus novos jalecos, que tinham meu nome e o símbolo do hospital, e deixei-os no armário. Sempre deixava três limpos. Com tudo pronto, fui para o meu quarto terminar de colar os quadros na parede, espalhei algumas coisas que comprei, como miniaturas dos pontos turísticos mais famosos do mundo, guardei minhas maquiagens e alinhei o espelho na parede, prendendo a luz. Ao final, limpei o que ficou sujo. Tomei banho e me joguei na cama, enrolada no roupão.

Meus músculos estavam cansados e eu não queria fazer mais nada. Tirei um necessário cochilo, renovando minhas energias e depois, fui para o primeiro andar. Peguei meu celular e assisti tutoriais de bordado, um passatempo que tinha desde menina e esperava retomar quando ficasse livre. Abri uma garrafa de vinho e fiquei jogada no sofá, olhando para a TV, sem prestar atenção, até estar bêbada o suficiente para dormir novamente. De manhã cedo, a empresa de segurança chegou e eles ficaram o dia inteiro instalando o sistema de alarme, fazendo vários testes e me ensinando uma série de coisas. Quando anoiteceu, desci para colocar o lixo.

XX: Olá? — uma voz masculina me chamou e me virei, confusa. Nos fundos do beco onde eu colocava o lixo, estava um homem alto. — O corretor me contou que se mudou essa semana. Sou seu inquilino.

Maiara: Oi? — retruquei, confusa. Alguém realmente deixou passar aquele detalhe. Ele se aproximou mais e pude ver seu rosto melhor, era bem bonito, com um sorriso de covinhas.

XX: Eu alugo o bar, quer dizer, a parte da outra rua. Lá é o meu bar — explicou e estendeu a mão. — Sou Tom.

Maiara: Maiara — respondi, ainda meio receosa. — Esse beco dá na outra rua? — questionei, curiosa, ciente de que seria excelente cortar caminho, mas ele parecia bem escuro. — Tem como iluminar mais aqui?

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora