• Maiara •
O amigo do meu pai me ligou, informando estar no portão. Desci e fiz um tour com ele pelo andar de baixo, completamente vazio porque não tinha um carro. Subimos e mostrei o apartamento. Ele estava acompanhado de dois rapazes e ambos me mostraram o melhor sistema de alarme, códigos e interfone, deixando meu portão elétrico se eu quisesse e concordei. Fechamos um pacote de serviços e eles ficaram de voltar para instalar tudo no dia seguinte bem cedinho. Acompanhei-os até a porta, bastante satisfeita. Meu pai e os amigos dele. Ninguém além dos mais próximos sabia quem era Marco César. Ele era dono de uma das maiores empresas de segurança particular do país, General do Exército aposentado e um pai muito protetor. Sendo filha única por parte dele, sempre tive tudo. Já a minha mãe, separou-se dele quando eu tinha três anos de idade e foi viver com Carlos, tendo Maraisa alguns anos mais tarde. Morei com minha mãe até os doze anos de idade e depois pedi para viver com meu pai, quando fui uma criança mais feliz. Minha infância com a minha mãe não foi fácil e nosso relacionamento ficou tolerável quando eu só tinha que passar os verões com ela.
Resolvi terminar de limpar o escritório, ajeitei-o completamente e saí para comprar uma furadeira, assim como outras ferramentas que toda mulher deveria ter em casa. Instalei a máquina de lavar no andar de baixo, perto de uma pia que não era bem um tanque, mas boa o suficiente para lavar roupas pequenas. Instalei a secadora, arrastei uma tábua de passar ali no canto e deixei o ferro. Seria uma espécie de garagem e lavanderia também. Subi novamente e furei os buracos no alto das janelas da sala, onde pendurei as imensas cortinas brancas, limpei e repeti o mesmo processo nos outros cômodos.
Pendurei quadros e as minhas fotos de criança com meu pai, algumas depois de adulta e uma em que estávamos dançando em seu casamento. Recebi os últimos móveis, montei-os sozinha mesmo e arrumei as roupas em meu armário. Eu não tinha mais tempo para deixar tudo apresentável. Minha terapeuta diria que eu devia ser menos psicótica, mas depois de Luiz e de toda a dor, eu não conseguia parar até encontrar a perfeição. Eu precisava de tudo no devido lugar ou jamais me sentiria inteira. Passei meus novos jalecos, que tinham meu nome e o símbolo do hospital, e deixei-os no armário. Sempre deixava três limpos. Com tudo pronto, fui para o meu quarto terminar de colar os quadros na parede, espalhei algumas coisas que comprei, como miniaturas dos pontos turísticos mais famosos do mundo, guardei minhas maquiagens e alinhei o espelho na parede, prendendo a luz. Ao final, limpei o que ficou sujo. Tomei banho e me joguei na cama, enrolada no roupão.
Meus músculos estavam cansados e eu não queria fazer mais nada. Tirei um necessário cochilo, renovando minhas energias e depois, fui para o primeiro andar. Peguei meu celular e assisti tutoriais de bordado, um passatempo que tinha desde menina e esperava retomar quando ficasse livre. Abri uma garrafa de vinho e fiquei jogada no sofá, olhando para a TV, sem prestar atenção, até estar bêbada o suficiente para dormir novamente. De manhã cedo, a empresa de segurança chegou e eles ficaram o dia inteiro instalando o sistema de alarme, fazendo vários testes e me ensinando uma série de coisas. Quando anoiteceu, desci para colocar o lixo.
XX: Olá? — uma voz masculina me chamou e me virei, confusa. Nos fundos do beco onde eu colocava o lixo, estava um homem alto. — O corretor me contou que se mudou essa semana. Sou seu inquilino.
Maiara: Oi? — retruquei, confusa. Alguém realmente deixou passar aquele detalhe. Ele se aproximou mais e pude ver seu rosto melhor, era bem bonito, com um sorriso de covinhas.
XX: Eu alugo o bar, quer dizer, a parte da outra rua. Lá é o meu bar — explicou e estendeu a mão. — Sou Tom.
Maiara: Maiara — respondi, ainda meio receosa. — Esse beco dá na outra rua? — questionei, curiosa, ciente de que seria excelente cortar caminho, mas ele parecia bem escuro. — Tem como iluminar mais aqui?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as coisas que eu sonhei
FanficMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...