• Fernando •
Nós dormimos após o banho. Ela culpou a romã duas vezes antes disso e eu fui obrigado a mostrar que não precisava de nenhuma fruta afrodisíaca para me deixar excitado. Ela sabia que aquelas provocações me pegavam, não era nada engraçadinha. No meio da noite, meu celular recebeu a chamada de um número desconhecido que me deixou em alerta, quase deixei passar, mas sendo médico, eu não me dava ao direito de perder ligações.
William: Senhor Zorzanello? O senhor ainda não me conhece, eu sou William, segurança pessoal do senhor Marco César. Nós acabamos de dar entrada na emergência, o senhor Marco esteve sentindo fortes dores no peito e no braço nessa madrugada, eu o trouxe o mais rápido que consegui. O hospital ligará para Maiara e ele não quer que ela se assuste — ele disse e me sentei na cama.
Eram três da manhã.
Fernando: Você pode me colocar com quem está atendendo? — pedi e meu plantonista noturno atendeu o telefonema. — Ele é o pai da Maiara. Remova-o para a sala trauma quatro, eu estou a caminho. Não deixe meu sogro morrer. — Finalizei a ligação e virei-me para Maiara, apagada. — Ei, bebê. Acorde — chamei suavemente duas vezes e ela gemeu, tentando virar e fugir das minhas mãos. — Amor, olha pra mim. — Ganhei sua atenção. — Seu pai deu entrada na emergência, precisamos nos vestir.
Com um pulo da cama, completamente histérica, muito diferente da reação com a mãe, correu para se vestir. Troquei de roupa, enfiando meus tênis no pé, puxando uma camiseta que não tinha certeza se vesti do lado certo, peguei as chaves e desci correndo atrás dela, que já estava atravessando a rua e mal tinha visto um ônibus que estava passando. Puxei-a de volta pelo casaco e ela repetia sem parar "está tudo bem, está tudo bem".
Atravessamos a rua e entrei direto na emergência.
Maiara: Não! Me deixe ir lá! Me solta, William! — ela gritou para um homem alto que estava segurando-a. Cheguei na recepção. — Fernando! É meu pai, me deixa ir, é meu pai!
Eu tive que ignorar seu lamento. Ela não podia entrar e vê-lo morrer.
Fernando: Como ele está? — Entrei na sala e peguei um par de luvas. A enfermeira estava realizando o ECG. — Oi, Cesão. — Sorri ao vê-lo de olhos abertos. — Ainda com dor no peito? — Ele balançou a cabeça. — O quanto foi administrado de morfina?
Trabalhar com meu próprio sogro foi uma experiência bem apavorante. Marco César estava mal, mas felizmente, reagindo. Antes de colocá-lo para descansar, ele tirou a máscara de oxigênio e sussurrou no meu ouvido algo que me deixou encucado. Abri a porta e William estava nela. Apenas repeti o que me foi dito "Pelicano, diga a William".
Estabilizado, abri a porta e Maiara veio correndo. Ela apenas me olhou, praticamente implorando por uma boa notícia. Balancei a cabeça e abri um sorriso, ela suspirou e segurou a minha mão.
Fernando: Está estável. Ele parecia muito nervoso com todo mundo ao redor dele. Algum histórico?
Maiara: Hipertensão. Ele nunca me deu um susto desses.
Fernando: Eu acredito que ele seja um potencial paciente para RM. Vou transferi-lo para a intensiva essa noite, dependendo de como for, amanhã para o quarto e logo que estiver o máximo recuperado, vou realizar os exames investigativos das artérias — expliquei e ela chorou, concordando. — Ele vai ficar bem.
Maiara: O que falou com William que ele saiu daqui como um furacão? — Maiara secou os olhos, usando um lenço de papel.
Fernando: Pelicano". William mencionou algo?
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Todas as coisas que eu sonhei
FanficMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...