Capítulo 41

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• Maiara •

Levantei-me para esticar as costas e olhei para Eduardadormindo. Minha mão ainda estava dolorida, mas bem menos do que nos outros dias. A fisioterapia ajudava muito e eu prometi nunca mais socar alguém, porque realmente precisava voltar a operar.

Passava mal a cada cirurgia que entrava no quadro, a cada emergência que chegava ao hospital, mas toda vez que eu me animava de ficar uma horinha dentro do centro cirúrgico, Eduarda chorava, ou alguma mãe queria conversar comigo. Ainda tinha os advogados da família de Fernando me procurando para atualizar o testamento. Todos eles decidiram que iriam incluir a nova "adição" da família em suas heranças.

Sem contar que sempre tinha alguém querendo falar comigo sobre Eduarda. Lúcia e Filomena estavam me perseguindo pelo hospital por causa da decoração do quarto que eu queria escolher.

Esticar as minhas costas era tudo que eu podia fazer. Cansei de chorar. Não devia ter mais lágrimas disponíveis e eu realmente estava cansada de chorar. Fazia cinco dias que Fernando me pediu em casamento e eu ainda não havia colocado aquela aliança no meu dedo, porque não tive tempo para pensar se estava surtando, calma ou se vivendo em um universo paralelo. Eu realmente não sabia onde estava em minha própria vida.

Queria voltar no tempo, fazer pipoca, beber um vinho e ficar de roupão sem calcinha no sofá. Mas eu não podia mais. Não tinha tempo. Fernando estava fazendo o melhor que podia, porém, um dos médicos estava doente.

Saí rapidamente do quarto de Eduarda para beber um café e conversar com alguma pessoa adulta. Cheguei ao andar da cirurgia plástica. Ali era o verdadeiro templo de adoração ao corpo. Havia estátuas lindas e torneadas para todo lado, exemplos de seios de silicone e Roze estava em um quarto, pegando na bunda de um paciente. O trabalho dela era bizarro. Eu achava engraçado que ela fosse livre para simplesmente apertar seios alheios e apalpar bundas.

Assim que me viu, fez o sinal em direção a sua sala e entrei lá. O cheirinho de café me deu toda a sensação de conforto que precisava. Enchi dois copos porque há dias não dormia bem, entrei na primeira porta que dava para a escada e desci alguns andares, parando entre a pediatria e obstetrícia. Ninguém usava escada. Exceto, Fernando e eu para trocar uns beijinhos.

Consegui beber um copo inteiro e organizar um item que deveria pensar antes do meu bipe tocar. Joguei um copo fora e comecei a beber o outro, voltando para a pediatria. O doutor Rodolffo queria uma orientação da cardiologia e me chamou antes para dar uma olhada nos exames.

Maiara: O tumor está no pericárdio. É muito avançado. Ela só tem seis anos.

Rodolffo: Um milagre estar viva — ele falou com pesar.

Maiara: Não temos as primeiras imagens? — Olhei o prontuário.

Rodolffo: Ela não começou o tratamento conosco.

Maiara: Temos que analisar em quanto tempo esse tumor cresceu. Ele está consumindo-a e quase ganhando vida própria. Peça para Ângela solicitar ao primeiro médico os exames primários, fale com Fernando sobre a cirurgia, mas nós teremos que estudar.

Conversamos sobre mais dois casos complicados e a quantidade de café no meu estômago me deu mais energia. Ao mesmo tempo, eu me sentia pronta para desmaiar. Era difícil dormir com o corredor movimentado. Quando Eduarda finalmente dormia, alguém entrava, ela chorava e eu começava tudo de novo, ou Fernando ficava andando com ela pelo corredor para que pudesse cochilar.

Rodolffo: Por que você não aproveita que ela está dormindo e descansa? Essa maratona acabou — doutor Rodolffo anunciou.

Maiara: Ela terá alta amanhã?

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora