• Fernando •
Maiara passou por mim e sorriu timidamente, mas não parou. Olhei para sua bunda e disfarcei. Nas últimas duas semanas, consegui roubar um beijo por semana, com muito custo e sacrifício. Trabalhamos bem juntos e tivemos bons momentos com nossos colegas, mas toda vez que chegava perto demais, ela sussurrava a palavra solteiro e me deixava louco de vontade e tesão.
Em duas semanas, enfrentamos dois plantões de trinta e seis horas, dezoito cirurgias juntos e muitos traumas no meio do caminho. Tio Antônio disse que encontrei a minha "esposa do trabalho", a mulher que era facilmente meu braço direito e que tinha completa sintonia. Quase deixei escapar que tínhamos bastante sintonia na cama também. Foi épico. Na hora do almoço eu estava faminto por ter pulado o café da manhã. Encontrei Roze, Maiara e Amanda dividindo a mesma mesa e quando finalizei a minha compra, Paulo e Ângela também estavam lá. Ocupei o lugar vazio ao lado dela, abrindo minhas embalagens e sorri internamente quando ela pegou dois morangos inteiros da minha salada de frutas e comeu enquanto falava com Roze.
Tornou-se costume nosso roubar algumas coisas interessantes dos pratos, mas o fato de que ela se sentiu à vontade o suficiente para aquilo, renovou as minhas forças de quebrar as barreiras. A mulher era uma rocha de determinação e autocontrole.
Diego: Fernando, se esconda. — Diego sentou-se ao meu lado, branco como uma folha de papel.
Roze: Olha quem vem aí... as gêmeas do mal — Roze cantarolou e ele gemeu.
Diego: Tarde demais. Tarde demais — Diego murmurou e Roberto sentou-se ao lado dele, abrindo a lata de suco com uma expressão alterada. Que porra havia acontecido?
Roberto: Suas mães nos arrumaram encontros às cegas com duas garotas da administração que definitivamente não fazem nosso tipo — Roberto disse com irritação e virou o suco no copo. — Filomena disse que tem uma surpresinha especial para você.
Fernando: Deus, não. É o quinto encontro que estou fugindo, já não tenho mais desculpas — gemi, enfiando meu garfo na salada.
Amanda: Elas estão atravessando e estão determinadas — Amanda comentou e eu percebi que ela estava adorando o show. — Focadas. Destemidas.
Fernando: Cale a boca — resmunguei, olhando rapidamente para as duas, que vinham animadas, falando com todas as pessoas no caminho. — Não dá mais para sair sem ser notado.
Maiara: Não mesmo. — Maiara riu, interessada. — É só um encontro às cegas. Por que estão reclamando tanto? Se você for menos extravagante, tem trinta por cento de chance de dar certo, mas é melhor não levar para jantar, o que pode te resultar em uma conta a mais no fim do dia e em setenta por cento dos casos não vale a pena, o que acaba gerando uma espécie de decepção, fazendo com que oitenta por cento dos encontros às cegas não cheguem até o segundo.
Fernando: Maiara? Você tem traumas com encontros ou coisa do tipo?
Maiara: O que foi? Mergulhei de novo nas estatísticas. Desculpe. — Ela corou.
Nós rimos. Ela era toda sobre porcentagem, números e sabia coisas que até Deus duvidava. Ela murchou na cadeira querendo se esconder. Sempre que tinha esses rompantes, ficava toda vermelha, me dando uma incrível vontade de mordê-la.
Roberto: Espere até que ela arrume encontros para você e aí nós conversaremos — Roberto resmungou e eu ri.
Maiara não sabia o quanto as gêmeas podiam ser terríveis. Roberto descobriu que ela foi minha por uma noite, então parou com as cantadas irritantes. Tanto ele quanto Diego estavam me incentivando a derrubar as barreiras dela, já Roze, minha amiga, se afeiçoou tanto a Maiara, as duas estavam tão juntas, que se bandeou para o outro lado e estava ajudando-a resistir. Roze era uma traidora.
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Todas as coisas que eu sonhei
Hayran KurguMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...