Capítulo 54

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• Fernando •
Alguns anos depois.

De pé, aplaudi minha linda esposa com sua barriga de oito meses caminhando até ao palco e subindo os degraus sendo apoiada por Antônio. Ela venceu um prêmio da Academia de Medicina pelo inovador tratamento contra doenças virais em crianças. Sorrindo emocionada, piscou querendo afastar as lágrimas. Durante a gestação, ela chorava até se ganhasse um sorvete, dirá um prêmio. Não cabia em mim o orgulho por aquela mulher, a doce, inteligente, tagarela e despretensiosa Mai, ou melhor, Doutora Maiara Carla Pereira Zorzanello.

Seu discurso foi firme e ela conseguiu a atenção de diversos médicos para a causa, a nova clínica de atendimento infantil de cunho popular.

Abracei-a apertado e ela recebeu felicitações de todas as pessoas ao nosso redor. Mal conseguimos falar um com o outro, eram muitas pessoas querendo um pouco da nossa atenção. Publiquei uma pesquisa que estava fazendo muito sucesso no meio, até mais do que esperava, não era o meu objetivo inicial e jamais imaginei que ela seria cotada para entrar na grade curricular de alguns programas de residência em cardiologia pelo país.

Foi uma surpresa agradável. E ouvi diversas vezes da minha esposa que eu deveria dar mais valor à minha competência. Ela tinha razão.

Jantamos e não ficamos para o baile. Maiara estava com uma barriga imensa e se cansando com facilidade. Nos despedimos dos meus tios, que ficariam na festa. O casamento deles passou por uma onda muito ruim nos últimos anos, mas depois que meu pai voltou a ser quem era, percebemos que muitos problemas na família diminuíram.

Não vivíamos mais próximos ao hospital. A família cresceu além do que esperávamos nos últimos quatro anos e deixamos aquele apartamento como nosso local de descanso durante a semana, para uma dormida ou outra em plantões, quando queríamos fugir das crianças. Nossos amigos também usavam o lugar para o mesmo fim.

Algumas vezes nos encontrávamos lá. Amanda quando precisava de um tempo de Matheus. Eles ainda não tinham filhos, mas casaram há dois anos atrás. Às vezes, Paulo corria para o apartamento para jogar um pouco. Roze e Roberto para fugir de Matteo e Luna.

Tati e Diego ainda não tinham filhos, mas casaram um ano depois do meu casamento, ela ainda estava terminando a residência e focada no trabalho. Meu amigo mal via a hora de ser pai.

Vivíamos próximo a meus pais, em uma casa imensa, com direito a cachorro, gato, um coelho infernal e duas crianças.

Havia mais dois na barriga.

A gravidez definitivamente não foi planejada. Burlamos o efeito da vasectomia. Nós dois meio que não aguentamos o jejum somado a um período de estresse. Maiara não estava mais tomando remédios...

O resultado: estávamos esperando gêmeos.

Abri a porta de casa e respirei fundo. Maiara soltou um grito e cobri a minha boca para não rir. Duda estava com cinco anos e meio. Ela era terrível. Atentada, respondona e mais todos os adjetivos que podíamos usar para classificar uma criança arteira, mas nada se comparava ao irmão, Lorenzo.

Marley, nosso labrador nomeado em homenagem ao filme, apareceu correndo todo sujo de lama. Leo, o gato, correu atrás dele e derrubou o abajur. Em alguns momentos, nossa casa parecia um verdadeiro circo dos horrores.

Maiara: Nós planejamos dois filhos. Quando foi que chegamos ao dobro? Encolhi os ombros.

Duda chegou em nossas vidas e abriu o nosso coração para a paternidade, logo engravidamos de Lorenzo, o nosso amado menininho.

Sexo na piscina não é seguro, crianças. Duas crianças pequenas em casa. Dois bebês a caminho. Duas carreiras a todo vapor. A nossa vida era uma loucura, porém, tínhamos ajuda. Meus pais estavam o tempo todo buscando em creche, levando para as aulas extracurriculares, ou Marco César, ou Nete, e o tio Joaquim, que era pior do que todos eles juntos.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora