Capítulo 35

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• Fernando •

A sujeira era maior do que eu imaginava e havia um pequeno anjo machucado no meio. Eu não estava falando da minha namorada surtada e profundamente machucada, que havia acabado de agredir o pai de uma paciente e ex-marido na calçada em frente ao hospital. O pediatra de plantão estava me atualizando sobre os exames de Eduarda e a situação dela era preocupante.

Não encontramos nenhum sinal de problemas cardíacos, ela precisava de um longo e intenso tratamento clínico. Era só um bebê de sete meses, cujos pais não foram mais vistos depois que Maiara socou o rosto de um deles. Ela ficou completamente descontrolada.

Fernando: Quero monitoramento a cada hora — pedi à enfermagem.

XX: Como faremos com o formulário do seguro ou pagamento?

Fernando: Amanhã eu resolvo isso — retruquei e acariciei a cabecinha dela. Era incrível como ela não era filha da Maiara. Eram muito parecidas. — Preciso conversar com a Mai. Se os pais voltarem, me avise na hora e deixe a polícia de plantão.

Tomei banho e troquei de roupa bem rápido. Roze estava com Maiara no bar e suas mensagens sobre o estado dela não eram animadoras. Atravessei a rua correndo. Lívia estava segurando uma bolsa de gelo na mão esquerda da Maiara, que estava com a cabeça jogada no balcão, e Roze ao lado, olhando para frente. Assim que Lívia me viu, disse algo e Maiara levantou a cabeça, completamente embriagada.

Maiara: Olha ele aí, o homem da minha vida.

Totalmente bêbada.

Fernando: Oi, amor. Vamos para casa?

Maiara: Graças a Deus. Roze não quer me deixar beber mais. — Maiara soluçou e bateu com a cabeça no balcão de novo. — Estou com fome.

Ajudei-a a ficar de pé e virei para pegar sua bolsa e casaco. Ela desabou no chão. Segurei-a a tempo de não bater com o rosto no balcão.

Fernando: O quanto vocês beberam?

Roze: O suficiente — Roze respondeu e eu vi que ela estava usando o que restou de sobriedade para manter a postura. — Estou esperando Roberto, vou ficar bem. Pode ir.

Peguei Maiara no colo e ela riu em um estado alcoólico onde tudo era engraçado, inclusive ser carregada pelo namorado até em casa. Abri o portão com dificuldade e o fechei com um chute. O alarme disparou com brutalidade e ela gritou com as sirenes. Coloquei meu dedo no leitor digital para parar o alarme e subi a escada com ela.

Fernando: Você tem razão, engordou.

Maiara: Eu te disse. — Ela riu e eu a joguei no sofá.

Abri a geladeira, lhe dei uma garrafa de suco e enchi um pote com sorvete e calda. Ela comeu tudo e repetiu. Encontrei um pedaço de pizza na geladeira, esquentei e ela comeu sem reclamar. Parei com as mãos na cintura, pensando. Não havia chance de nenhuma conversa, sem que ela vomitasse, dormisse ou não me respondesse corretamente, porque estava muito bêbada. O jeito seria ir para a cama.

Melhor, ela precisava dormir porque eu não tinha condições de deitar. Minha mente estava completamente cheia de muitas teorias e poucas informações.

Levei-a para o quarto, tirei a sua roupa e ela se enrolou no roupão sozinha. Por via das dúvidas, deixei um balde pequeno ao lado da cama. Deixei a luz do abajur na mais fraca e encostei a porta do quarto, descendo a escada. Considerei beber um uísque, mas eu precisava ficar sóbrio. Mas não rejeitei a cerveja. Uma não me faria mal.

Não estava com raiva e muito menos magoado, apenas chateado. Maiara não era de mentir. Ela avisou que era feio e não tinha coragem de me contar. Porra...

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora