Capítulo 4

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• Fernando •

Tatiana passou por mim e não deu uma palavra. Ela sentou-se com um grupo de pessoas e não entendi nada. Nós três ficamos olhando e ela não virou nem uma vez em nossa direção, como se não nos conhecesse de lugar nenhum. Terminei de comer e enviei uma mensagem para o seu celular, ela respondeu dizendo que depois falaria comigo, guardou o aparelho e continuou rindo com os amigos.

Diego: Acho que nós somos velhos demais para Tatiana socializar conosco — Diego murmurou.

Roberto: Só tenho trinta e quatro anos, pelo amor de Deus! — Roberto reclamou e eu ri.

Fernando: Fiquem longe da minha doce prima de apenas vinte e cinco anos — avisei e me levantei. — O dia hoje está voando e eu tenho trabalho agora. Se Deus quiser, o paciente vai direto para a UTI e eu vou direto para a minha casa.

Diego: Nada de bar hoje com mulheres misteriosas? — Diego perguntou e eu ri, negando. — Eu ia chegar nela, mas entre uma jogada e outra na sinuca, ela já estava toda sorrisos para você.

Fernando: Sinto muito se fui mais rápido. Agora a mulher é minha e é melhor você ficar bem longe.

Diego: Recado dado e recado anotado. — Diego ergueu a mão e seu telefone apitou. – Ótimo. Parto de Emergência no pronto-socorro.

Roberto: Vá embora, esquadrão da vagina. — Cooper bateu nele e seu telefone apitou. — Criança caiu e bateu com a cabeça. Sinal de desmaio — ele murmurou e me olhou.

Conversei com meu paciente antes do procedimento, na presença de Amanda e Roze. As duas também sanaram as dúvidas e finalizamos com a família. Como a preparação do paciente para sala de cirurgia demorava mais ou menos meia hora, fui até a sala do meu tio roubar uns chocolates, os comi no caminho e voltei correndo para a área da sala de cirurgia, me preparando com a roupa operatória, higienizando as mãos antes de entrar. Roze entrou alguns minutos depois e Amanda foi a última.

A sala de observação estava lotada, era sempre assim nas primeiras semanas de internos no hospital. Eles queriam assistir tudo e participar de todas as cirurgias possíveis. Sair da cirurgia com o paciente vivo e estável era uma alegria, mas eu estava destruído com todas as complicações que tivemos e a pressão de contornar a cada momento. Eu e Amanda não nos dávamos muito bem na sala de cirurgia e isso devia ser um indicativo de que o nosso relacionamento não daria certo. Conversei com a família, reforcei a necessidade de o paciente perder peso imediatamente e permiti uma rápida visita logo que fosse transferido para a UTI. Expliquei o pós-operatório para os internos e fiz o relatório da cirurgia no prontuário, a parte mais chata, que eu preferia fazer sempre que terminava ou só acumularia. Assinei o relatório de Amanda, fiz algumas rondas, tirei minhas duas horas de atraso na emergência e fui tomar banho. Troquei-me e recolhi todas as minhas roupas sujas, pensando em já deixar na minha mãe, porque onde morava não era permitido ter lavanderias e eu tinha que procurar uma. Não tinha como ir ao Tom naquela noite, mas estava rezando para que Maiara me ligasse, nem que fosse para jogar conversa fora, mas principalmente para voltar para o apartamento dela. Meu telefone tocou no meio do caminho para a casa da minha mãe. Era minha tia, Lúcia.

Fernando: Oi tia, estou dirigindo. Fale rápido.

Lúcia: Seu tio ainda está preso na despedida da doutora Stela, mas eu fiz um jantar para comemorar o primeiro dia da Tati. Pode vir?

Fernando: Eu nunca nego a sua comida, tia. Não conte para a minha mãe.

Lúcia:  Tarde demais, ela já ouviu. Chamei os meninos também, eles devem chegar em breve. Não demore.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora