• Maiara •
Nunca fui uma pessoa de gostar do Dia de Ação de Graças, porque sempre me ocupei com o trabalho e normalmente era a escolhida para fazer o plantão noturno. Em Goiânia, a chefia normalmente ficava de folga, então, fui convidada para jantar na casa dos Zorzanello, que iriam reunir uma boa quantidade de funcionários com suas famílias. Roze e eu éramos as únicas sem "família". Me recusei a passar com meu pai, a perfeita dona de casa e sua torta de abóbora.
Minha madrasta era a perfeição em pessoa. Aquele sorriso de Monalisa e cabelos divididos no meio me exasperavam. Os pais da minha nova irmã por escolha moravam no Mato Grosso, eram advogados e atualmente estavam trabalhando lá. Pensei em fazer um jantar para nós duas, mas isso significaria que não passaria a noite com Fernando.
Era a minha suposta folga, estava de sobreaviso. O número de acidentes domésticos era imenso no dia em que todas as pessoas estavam assando perus. Já tinha saído do trabalho há duas horas e meu telefone não havia tocado. Fernando estava na casa dele, uma ocorrência muito rara, considerando que eu estava parada olhando a quantidade de roupas dele no meu armário.
Como aquilo foi acontecer? Nós começamos a morar juntos sem prestar atenção? Em um mês, ele sequer foi para a casa dele. Dormimos juntos, namoramos bastante, transamos em todos os cômodos do meu apartamento e dividimos tarefas de casa. Deveria ser um grande passo assustador e não estava sendo para mim. A ideia de fazer dele meu pau amigo morreu quando o homem acordava antes só para fazer meu café.
Ele entendia meu sentido de organização, não bagunçava minhas coisas e não invadia meu espaço. Comemos pipoca assistindo cirurgias que qualquer pessoa poderia achar repugnante, também não ligava que assistisse aos jogos, aprendi a apreciar. Ele ficava pedindo para memorizar as estatísticas do jogo ou que fizesse a previsão.
A realidade era que o nosso relacionamento estava tão forte que me vi preparada para conversar com ele sobre aquilo.
Desci a escada e Roze estava jogada no meu sofá, olhando para o teto. Ela estava acampada comigo desde que brigou com Roberto sobre em qual apartamento iriam morar juntos. Nós, médicos, somos intensos e loucos. Já trabalhávamos juntos, embora fosse difícil nos vermos dentro do hospital de maneira romântica. Talvez fosse por isso a enorme necessidade de juntar as escovas.
Eles queriam tanto estar juntos que brigaram sobre qual apartamento iriam viver.
Maiara: Acho que vou conversar com Fernando sobre oficializarmos a questão de morarmos juntos — falei da cozinha e ela levantou a cabeça.
Roze: Não era "só sexo"? — ela retrucou, fazendo sinal de aspas.
Maiara: Essa era a intenção no começo, ele era um potencial parceiro sexual, mas também é um excelente companheiro. Eu posso contar nos dedos, nessas últimas semanas, quantas vezes ele dormiu no próprio apartamento. E em algumas delas eu dormi junto. — Encolhi os ombros e abri a geladeira. Tirei duas cervejas. — Não cheguei aqui preparada para um relacionamento, mas estou solteira há quatro anos e sempre caçando homens, traçando perfis para serem parceiros de sexo. Acho que está na hora de evoluir e tentar um relacionamento.
Roze: Você gosta do Fernando? Tipo, está apaixonada por ele? — ela perguntou e fiquei em silêncio. Abriu a cerveja e continuou me olhando, esperando por uma resposta, mas nada veio. — Eu me apaixonei por Roberto. Ele é um babaca, mas isso não importa mais. Deixa meias espalhadas, me irrita até a morte, mas estou apaixonada por ele. Era o cara que eu mais odiava. Somos compatíveis na cama e descobrimos um monte de coisas legais que podemos fazer juntos. Meu pai, que não gosta de ninguém, o adorou em sua última visita e o filho? Ele dorme no meu colo e a mãe dele disse que é um sinal divino, porque ela sempre se preocupa quando o bebê está com Roberto, mas confia em mim. E eu nem gostava de crianças! Eu amo essa criança porque ele é filho do homem por quem estou apaixonada. Quero morar com ele porque estou feliz.
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Todas as coisas que eu sonhei
FanficMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...