Capítulo 47

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• Fernando •

Após o jantar, deixei as mulheres sozinhas na cozinha falando sobre as cores do casamento e subi as escadas até a biblioteca, com Duda em meus braços. Bati antes de entrar. Meu pai estava sentado, olhando para a janela, com uns livros médicos ao seu redor e virou-se. Por um instante, foi como se ele não me conhecesse e estava pronto para me apresentar novamente quando abriu um sorriso.

Sérgio: Oi, Duda. Veio ver o vovô?

Entrei com cuidado e sentei-me ao seu lado, colocando-a entre nós. Duda agarrou um livro com força e jogou longe, quase rasgando uma página. Dei a ela um brinquedo e meu pai o sacudiu à sua frente, sorrindo para ela.

Ele não fazia ideia de como conhecia Duda ou quando, mas simplesmente sabia quem ela era. Nós conversamos sobre a cardiologia, com calma e tranquilidade. Ficou óbvio que ele não entendia que eu cresci e me tornei um médico, mas ele ouviu minhas opiniões profissionais e depois, foi deitar.

Duda coçou os olhos, começando a ficar charmosa. Ao ver Maiara, esticou os braços com um beicinho.

Fernando: Quer a mamãe, é?

Maiara: Vem aqui, meu amor. — Maiara a aconchegou em seus braços.

Meus avós chegaram e só estavam ali por causa do bebê e da comida, mas também tranquilizaram Maiara sobre o trabalho. Tati entrou, exausta, faminta, jogando suas bolsas e livros no sofá e indo para o banheiro lavar as mãos. Ela reclamou que estava de saco cheio da neurologia e eu ri. Roberto era gente boa, os outros médicos nem tanto.

Lúcia: É incrível como ser amado muda tudo — Tia Lúcia disse sorrindo para Duda. — O jeitinho que já olha fazendo manha, pedindo colo e até choramingando para dormir...

Maiara: Ela foi feita para nós, não é, amor? — Maiara beijou a bochecha gordinha de Duda.

Fernando: Ela engatinhou, foi muito fofo. Maiara filmou, ainda é meio engraçado, mas está indo bem. Bebês na idade dela já engatinham e ela se desenvolveu bem nessas duas semanas, só faltava um pouquinho de estímulo.

Nós fomos embora quando Duda começou a ficar uma pessoinha irritante e anti social que só queria ficar no colo, puxando a gola da minha camisa. Ela estava com sono. No meio do caminho para casa, fez cocô, o que tornou a viagem um pequeno momento difícil, já que não parou de chorar. Percebi que precisava tirar aquela licença o mais urgente possível para também ter momentos com a minha filha.

Não queria ser o cara que chegava de noite para o jantar. Queria que tivéssemos muitos momentos juntos, por mais que ela não se lembrasse disso quando crescesse, mais teríamos uma conexão mais forte. Maiara tirou a fralda, limpou os excessos e a levamos para o banho.

Ainda chorando, foi uma novela colocar sua roupa de dormir. Fiz a mamadeira e troquei de roupa enquanto Maiara se despia e tirava a maquiagem. Duda ficou sentada na cama, olhando-nos com os olhos e nariz vermelhos, e os lábios em um beicinho, fazendo careta toda vez que não voltávamos para perto dela.

Maiara: Você simplesmente quer chorar, não é? Jogou a chupeta longe, empurrou seu pai, arrancou a presilha do cabelo, me mordeu durante o banho. Virou um pequeno monstrinho. — Maiara disse e se deitou na cama, acomodando Duda e pegando a mamadeira. — Eu não vou ficar lá no seu quarto com você chorando, vou passar pela tortura bem acomodada.

Duda mamou até a metade e dormiu. Uma guerra para dormir. Não entendia as crianças. Era confuso compreender seus sentimentos. Em seu sono, virou para o meu lado e eu sorri, observando sua feição serena, toda calma e linda. Ela era um bebê lindo. Não parecia mais a criança sofrida, cheia de marcas, machucados e abaixo do peso. Suas perninhas gordinhas eram a prova de que estava indo bem.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora