Capítulo 37

655 58 7
                                    

• Maiara •

Eu estava sentada na cama, olhando para a janela aberta do meu quarto há horas. O dia estava apenas começando no mundo lá fora, mas ainda não tinha acabado o anterior para mim. Fernando estava tão cansado que não demorou a dormir logo que viemos deitar. O homem se esgotou. Ele era perfeito por ter segurado as pontas quando eu mesma não conseguia mais me segurar. 

Respirei fundo.

Olhei para minha mão enfaixada, dolorida e latejante de toda a porrada que dei em Luiz, que agora estava morto e não poderia apanhar nem metade do que merecia por aquela garotinha. Maraisa morreu. Eu não sabia o que sentir. Eu era um monstro. Odiei tanto a minha irmã que, para mim, ela estar morta não fazia sentido. Tinha esperança de nunca mais sofrer da mesma forma. Eu devia estar sentindo um pouco de pesar. 

Eu deveria chorar pela minha irmã, o bebê que eu ajudei a criar, mas o monstro que ela se tornou me fez perceber que já vinha chorando a morte dela há muito tempo.

Fernando grunhiu na cama, o som que sempre me fazia sorrir pela manhã, e não foi diferente. Ele estava se espreguiçando, e não precisava olhar para saber o que fazia quando acordava, porque todos os dias estávamos juntos. Senti sua mão em minha cintura e o colchão afundou mais do meu lado. Fui puxada e deitei com minhas costas em sua barriga. 

Enfiei a mão em seu cabelo. Ele ainda estava muito sonolento, provavelmente muito cansado de toda a maratona que foi o dia anterior. Se pudesse, ficaria em casa, mas havia tanta coisa para resolver lá fora e trabalhar que não existia a possibilidade de nos escondermos na cama. Mas aquela era a minha vontade.  Ficar debaixo das cobertas. 

Fernando: Como está a sua mão?

Maiara: Dolorida e latejante.

Fernando: Vou pedir para Paulo dar uma olhada. Não tem um osso quebrado. — Ele bocejou. — Como está se sentindo essa manhã?

Encolhi os ombros. Não poderia explicar.

Maiara: Vou fazer o café — avisei e olhei para a minha mão. — Só o líquido, sabe? Vamos comer no hospital.

Fernando: Eu preparo algo para comermos.

Maiara: Não precisa, fique descansando mais um pouco...

Fernando: Melhor levantar ou eu nunca vou conseguir. — Ele estava só de cueca e saiu do quarto, se esticando por completo. Fui atrás, envolvida no roupão. — Quer omeletes? Dá tempo de fazer.

Maiara: Eu nunca recuso sua omelete. — Beijei suas costas, passando para a máquina de café. Ele parou atrás de mim e me abraçou, acariciando minha barriga.

Fernando: Vamos fazer do dia de hoje algo bom.

Virei-me de frente para ele, derretida, com um sorriso no rosto e o beijei. Ele me empurrou contra o balcão e me ergueu sentada ali, cruzei minhas pernas em sua cintura e cheguei um pouco mais para frente. 

Maiara: Estou nervosa — assumi sem coragem de encarar seu rosto. — Nervosa com tudo. Você liga para William para cuidar daquele assunto? Não quero falar com meu pai agora.

Fernando: Eu vou cuidar de tudo, só trabalhe no laboratório, cuide da sua mão e quando estiver pronta, em algum momento desse dia, nós vamos entrar e conhecer Eduarda. Quando a assistente social te procurar, você me chama.

Maiara: Claro. Obrigada. — Beijei seus lábios repetidas vezes.

Fernando: Você está me seduzindo.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora