Capítulo 14

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• Maiara •

XX: Ela tem algum parentesco com aquela médica grosseira chamada Stela Medeiros? Minha filha não foi bem atendida por ela aqui da última vez e só permiti a internação de novo porque o médico de ontem, o doutor Gustavo, disse que o corpo médico havia mudado e você é uma das melhores pediatras do país. Eu realmente te pesquisei na internet. 

Maiara: Doutora Mikelly é cirurgiã geral e está passando uma temporada na pediatria, mas eu sou a médica responsável aqui e não há com o que se preocupar. Por que não me conta sobre os últimos sintomas da Melina? 

Ela confiou em mim e começou a falar, ansiosa e, obviamente, muito preocupada. Eu tinha uma boa equipe e nós cuidaríamos dela.  Segui adiante para as visitas e demos alta a cinco pacientes que não queriam ir embora para brincar mais. Meu coração não podia aguentar aquelas crianças tão saudáveis e amando o meu espaço. Fui mais vezes abraçada do que apreciava, mas não me importava, era gratidão e reflexo do meu trabalho. 

Estava sendo observada de perto por Mikelly e a cada segundo que passava, ela parecia ainda mais irritada. Eu sabia que não era exatamente comigo e sim, com uma situação que não poderia competir.

Antônio: Doutora Maiara? — Antônio me chamou na recepção. — Há um problema em um dos nossos hospitais vizinhos e eles estão com um paciente aguardando transplante. Ele tem oito anos de idade. Nós vamos fazer. Estão com a capacidade máxima e o hospital quer garantir o sucesso da cirurgia. 

Maiara: Tudo bem. Já falou com Fernando? Digo, doutor Zorzanello?  Antônio riu do meu embaraço.

Antônio: Ainda não. Ele está no centro cirúrgico. 

Maiara: Gosto de estudar todo o caso. Tem algum material para me passar?

Antônio: Te enviarei um e-mail no caminho. Estou indo de helicóptero buscar o paciente pessoalmente e vamos rezar para que ele não espere tanto.

Dei uma escapada para assistir a cirurgia de Fernando. Ele estava calmo. Normalmente era arriscado e a taxa de mortalidade bem alta, porém, ele estava dando aulas, explicando o procedimento. Os internos tomavam notas e os residentes auxiliando. A galeria estava cheia. Sentei-me ao lado de Diego e ele me ofereceu pipoca, comi algumas antes de descer para almoçar. Ele ficaria o dia inteiro ali dentro.  No final do meu plantão eu estava exausta, mas fui convencida pelo meu novo trio de amigos a beber alguma coisa no bar do Tom antes de enfrentarmos um turno intenso.

O bar ainda não estava cheio, mas era uma questão de tempo. Lívia me serviu com uma bebida colorida, refrescante e não muito forte. Os meninos bebiam cerveja e Roze pediu uísque com soda. Considerei enviar uma mensagem para Fernando, sabendo que ele sairia faminto da sala de cirurgia, mas eu estava cansada demais para cozinhar até mesmo pra mim.  Duas bebidas depois, Diego encontrou alguém, Roze e Roberto tentaram disfarçar que não estavam indo embora juntos, paguei a minha conta e fui para casa, rindo deles.

O pediatra de plantão me enviou o resultado de alguns exames e enviei o tratamento clínico de volta. Parei na cozinha, precisando comer, sentindo o estômago roncar. Coloquei várias asinhas de frango para assar com batatas e fiz uma salada verde. Enquanto cozinhava, preparei um sanduíche que aplacou toda a minha fome. Aquilo sempre acontecia, porém, mais tarde eu comeria de novo, ou acordaria no meio da madrugada faminta.  Quando o frango ficou pronto, deixei no aquecedor e subi, tomando banho e me enrolando no roupão. Enviei uma mensagem para Fernando, dando o código do portão, para que ele simplesmente entrasse quando chegasse.

Sorri ao perceber que a partir daquele momento ele passaria a ter o meu número.  Imprimi o e-mail de Antônio sobre meu paciente cardíaco e tentei conter a minha excitação ao fazer o meu primeiro transplante no hospital, mas teria que fazer com Fernando e seria melhor conversarmos antes sobre a dinâmica e como passaríamos aquilo para os internos. Deitei-me na cama com as folhas e fiquei lendo quando ouvi um barulho na porta. Fernando subiu a escada e logo apareceu no meu quarto.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora