Capítulo 45

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• Maiara •

Corri pelos corredores do hospital com meu sapato escorregando a cada virada brusca. Cheguei ao centro cirúrgico, ficando descalça e trocando de roupa na frente de quem estivesse ali. A grávida estava com sofrimento fetal e era preciso levá-la à sala de cirurgia para fazer o procedimento no bebê antes que ele nascesse fora do tempo.

Quando vi a mensagem no meu celular, me senti aliviada. Minha sogra estava há duas horas falando sobre o almoço do meu casamento e chegou na minha casa com todo tipo de doce e salgado para provar e escolher quem iria servir em nossa cerimônia. Eu pedi que ela escolhesse para não ter que me importar com aquilo. Aproveitei que Duda estava dormindo e saí.

Peguei a minha bolsa e disse para ela ser a avó babá do dia. Duda iria fazer um escândalo quando acordasse e não me visse por perto, mas naquele momento, ela não era a minha prioridade. E Deus sabia o quanto estava me sentindo bem com isso.

Maiara: O que temos? — Entrei no centro cirúrgico.

Estar dentro da sala de cirurgia me fez sentir como se nada tivesse mudado.

Eu podia ser mãe e médica.

Estar em casa só atendendo chamadas de não cirurgias e fazendo aconselhamento para Ângela em alguns casos e até mesmo orientando Rodolffo por telefone, me matava. Todo o meu dia era cercado por fraldas, papinhas, leituras da tarde, brincadeiras para estimular o engatinhar e risadas. Duda já estava falando bem mais que antes, nenhuma palavra "real", mas quando conversava com ela, respondia animada e aprendeu a bater palmas.

Foi Fernando quem a ensinou durante o banho noturno. No dia seguinte, quis fazer qualquer coisa que a fizesse bater palmas.

No fundo, eu estava desesperada, com medo de perder uma parte importante da minha vida. A cirurgia, meus pacientes, um andar inteiro para comandar e vários residentes e internos para ensinar tudo o que sabia. Estava com medo de que ser mãe me fizesse perder parte de quem fui pelos últimos onze anos da minha vida. Fiquei um pouco irritada que a vida de Fernando continuou da mesma maneira. Ele só não estava pegando plantões de trinta e seis horas porque o RH informou que ele havia estourado o limite de suas horas trabalhando quando Eduarda ficou internada.

Não queria ser injusta. Ele era totalmente meu parceiro com Duda. Meu problema não era com Fernando e sim porque eu tinha que deixar meu trabalho em uma licença maternidade para a adaptação de Duda enquanto ele não precisava.

Terminei a retirada do tumor e o bebê ainda estava respondendo aos sinais perfeitamente. Finalizei a minha parte. Diego deu a volta, assumindo e esperei até que a cirurgia estivesse terminada. Troquei de roupa novamente e acompanhei Diego para dar a notícia ao marido que, seguindo as precauções, eles teriam um restante de gravidez muito tranquilo.
Diego me abraçou, agradecendo por ter deixado minha bebê em casa para participar da cirurgia. Ele não fazia ideia do quanto precisava daquilo.

Fernando: Solta a minha mulher, canalha. Não basta a minha prima? — Fernando brincou atrás de nós e virei-me para ele. Sorri, porque ele saiu de casa no meio da madrugada e não acordei. — Cadê Duda? O que você está fazendo aqui? Ela está bem?

Maiara: Deixei em casa sozinha — rebati secamente. Ele parou e colocou as mãos na cintura. Comecei a rir, sem aguentar segurar a postura e confessei que a deixei com a vovó apaixonada.

Fernando: Um beijinho de longe — ele pediu, inclinei-me e rocei meus lábios nos dele.

Maiara: Não demore a chegar em casa.

Fernando: Eu não vou — Fernando prometeu e nem parecia que tínhamos brigado na noite anterior ao ponto de dormimos de beicinho um com o outro. Já até tinha esquecido o motivo que causou o desentendimento.

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora