• Fernando •
Estiquei minhas pernas na poltrona e vi Maiara se mexer no outro sofá, puxando a colcha. Eduarda estava dormindo no berço. Ela acordou várias vezes durante a madrugada, mas deu para dormir bem. Estava mais descansado e menos nervoso. Maiara seguia surtando, então eu tive que me deitar com ela para que dormisse. Tomamos uma decisão muito rápida, mas o resultado tinha que ser esse devido às nossas opções e eu estava determinado a não deixar aquela criança sofrer mais do que já sofreu em sua pouca vida.
Ela poderia encontrar uma boa família ou não. Nós poderíamos ser uma boa família. Ela merecia ter a vida que podíamos proporcionar. Maiara iria se arrepender para sempre, porque se fosse filho de Roze ou o próprio Matteo, ela não pensaria duas vezes antes de acolher. Quando a tempestade passasse, ela iria enxergar.
Voltei minha atenção para a tela do computador, corrigi a última página do meu relatório semanal e enviei para a administração, para que fosse impresso e entregue a meu tio Antônio. Desliguei meu computador, pois tinha que sair com Maiara em pouco tempo e informei ao meu tio assim que recebi as instruções de William sobre o velório.
Parecia terrorismo e até mesmo uma tortura passar por aquilo, mas não havia outra forma da Maiara entender que finalmente havia acabado. Guardei minhas coisas na pasta e ela se espreguiçou, jogando o cobertor para o lado e tirando o celular do bolso.
Maiara: Sua mãe está me ligando — ela sussurrou do outro lado do quarto. — Conte a ela antes que eu me sinta culpada e comece a chorar. — Espreguiçou-se e levantou, andando com cuidado e sentando em meu colo. — Entendo o esgotamento de todas as mães que ficam aqui. Uma noite e eu estou completamente acabada. Minha coluna parece pegar fogo.
Fernando: Estamos vivendo uma maratona.
Maiara: Eu acho que vou ter que pedir licença maternidade a Antônio. — Escondeu o rosto em meu pescoço. — Como vou fazer isso? Não quero deixar a minha carreira, tenho muitos planos e uma agenda apertada.
Fernando: Vamos pensar. Acho que podemos lidar enquanto ela estiver internada, depois podemos ver como funciona a creche, o hospital não tem uma, mas sei que a maioria aqui coloca os filhos em uma bem perto. Vamos ficar bem — garanti e ela me deu um beijo, mas seu telefone continuou vibrando. — Minha mãe é insistente.
Contei à minha mãe o que aconteceu depois que nos falamos e ela soltou diversos gritos, de alegria, raiva e surpresa. Tia Lúcia falou junto e Tati também gritava. Maiara riu, mas se afastou quando Eduarda chorou do berço.
Maiara: Eu não queria que ela ficasse sozinha, então, pedi para Roze passar a manhã com ela. Ela está de folga e disse que vinha sem problemas. Ela não entendeu nada, mas aceitou vir mesmo assim — Maiara disse e ficou parada. Eduarda estava choramingando e ela me impediu de segurá-la. — Não. Deixe-a tomar seu tempo para acordar.
Fernando: O quê? Por quê?
Maiara: Tocá-la pode assustá-la. Ela está choramingando, pode estar sonhando ou em processo de acordar. Ela precisa confiar em nós dois ainda — sussurrou e parei observando. Eduarda rolou para o lado e choramingou mais uma vez, ficando quietinha. — Talvez ela não acorde agora.
Fernando: Tem certeza de que está com medo?
Maiara: Muito. Estou apavorada. — Maiara passou a pontinha do dedo em um hematoma que estava muito feio. — Esses ferimentos me preocupam tanto.
Fernando: Você é muito boa nisso, amor.
Maiara: Eu sou uma pediatra, entendo sobre crianças, mas não entendo nada sobre ser mãe.
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Todas as coisas que eu sonhei
FanficMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...