• Maiara •
Anos depois
Maraisa estava parada na minha frente, de saltos altos, uma saia jeans curta, blusa rosa e bolsa azul berrante. Ela ficou sorrindo como se estivesse feliz em me ver. Como se eu não tivesse gritado com ela feito uma louca e dito para nunca mais aparecer na minha frente enquanto a nossa mãe a defendia e a puxava para longe de mim, que segundo todos, estava descontrolada e mal amada.
Minhas pernas pareciam engessadas no chão, mas o meu bipe começou a tocar. Dei as costas e ela pulou na minha frente.
Maraisa: Eu sei que você não quer me ver, mas acredite em mim, por mais que eu sofra com isso, preciso da sua ajuda. Ajuda como médica e como irmã mais velha.
Maiara: Vá para o inferno. Desapareça da minha vida! — Dei a volta e ela segurou meu braço.
Maraisa: É para a minha filha. Por favor, Mai. Eu não te pediria se não fosse importante, ela precisa de ajuda. Ela é só um bebê de sete meses de idade, por favor — ela disse, me apertando ainda mais. Arranquei meu braço com força.
Entrei no hospital calmamente. Eu não queria correr, mesmo que precisasse. Chamei o elevador e quando as portas se abriram, me refugiei no fundo. Cheguei ao andar da pediatria e não conseguia pensar em nada. Ângela estava me esperando na porta do elevador e meu paciente pronto para a cirurgia.
Parei por um momento.
Eu tinha duas opções: sair do hospital e ficar escondida na minha cama até esquecer o encontro como se ele nunca tivesse acontecido ou seguir com meu trabalho, que era mais importante do que tudo. Pedi um minuto para lavar meu rosto antes de falar com os pais do paciente.
A minha chance de esquecer era com meu trabalho, mas eu ainda tinha que enfrentar Fernando à noite e contar tudo, inclusive que minha irmã, muito cara de pau, teve a coragem de simplesmente aparecer e me pedir ajuda como se eu realmente fosse ajudá-la. Assim que as visitas acabaram, revisei os prontuários da UTI.
Ângela: Mai? Você não vem almoçar? — Ângela me chamou, segurando a porta do elevador. Entreguei o último prontuário assinado. — Melhor comer bem.
Ela parecia nervosa com o atendimento que faria sozinha.
Maiara: Está ansiosa? É um procedimento simples e vai tirar de letra. Acredito que indo bem hoje, poderemos te liberar para fazer a próxima sozinha e quem sabe Antônio acrescenta esse procedimento à sua prova final. — Enfiei minhas mãos nos bolsos. — Chamou Paulo para almoçar? Ele está com Fernando, talvez venha junto.
Ângela: Paulo venha junto ou Fernando? Por que você não o chama?
Maiara: Quem?
Ângela: Mai, você tem certeza de que está bem hoje? Olha, eu não quero ser intrometida, mas eu te considero minha amiga, você vai ser minha madrinha, eu só estou te achando completamente distraída, está pálida e tremendo. Durante as visitas, perguntou três vezes a mesma coisa para cada interno, como se não estivesse ouvindo. — Ela me deu um sorriso carinhoso.
Maiara: Achei que estava bem, mas acho que não estou depois de ouvir isso. — Fiquei meio sem jeito. — Encontrei alguém do meu passado que eu nunca gostaria de ver novamente, terei uma conversa importante com Fernando, estou nervosa e distraída com tudo isso. Mas vou ficar bem, sempre melhoro depois que consigo comer.
Encontramos Fernando sentado com Paulo e Diego. Eles tinham acabado de sair de uma cirurgia de emergência e meu namorado sinalizou que já estava com nosso almoço.
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Todas as coisas que eu sonhei
FanfictionMaiara Carla Pereira estava perdida em um mar de amargura. Traída da pior forma por duas pessoas que muito amava, ela se muda para São Paulo disposta a começar uma nova vida, comandando toda ala da pediatria de um dos melhores hospitais do país. Mui...