Capítulo 8

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• Fernando •

Cheguei ao andar da pediatria e vi Tati escrevendo em seu computador, lendo um prontuário, e vários outros internos faziam a mesma coisa. Ângela estava conversando com a mãe de um paciente e havia um grupo de limpeza em uma das salas vazias. Olhei pelos corredores, procurando-a, e virei na direção oposta ao ouvir a voz do meu tio muito alterada. Encontrei uma cena raramente vista: Antônio perdendo a cabeça.

Fernando: Ei! O que está acontecendo?

Antônio: Inacreditável — ele disse, ainda vermelho. — Os relatórios são falsos! Todos os relatórios foram alterados pelo menos nos últimos seis meses! — Apontou para uma pilha de papel.

A funcionária da administração chorava, encostada na parede. Maiara estava do outro lado, com a expressão impassível, mãos enfiadas nos bolsos do jaleco e os pés cruzados.

Antônio: Em um único dia, todos esses erros explodiram no meu rosto e há pauta para muitos processos aqui.

Fernando: Acalme-se, vá para a sua sala e chame a corregedoria para abrir uma investigação. Ligue para os advogados e eu resolvo a partir daqui — falei com meu tio.

Quando ele perdia a cabeça, acabava perdendo a razão e não precisávamos de mais um processo de assédio moral, mesmo que a funcionária aparentemente estivesse errada. Antônio deu as costas, pisando duro.

Fernando: Alguém pode me atualizar? — Olhei diretamente para Maiara. Ignorei as batidas aceleradas do meu coração e a vontade de pegar em seus dedos finos, puxando-a para mim. Ela virou o rosto para o outro lado e soltou um suspiro, como se fosse inevitável falar comigo.

Maiara: Conforme mencionei mais cedo na reunião, encontrei erros graves nos prontuários que não foram bem analisados pela administração, sendo assim, não chegando à diretoria como deveriam. — Maiara soou calma, sendo profissional e não uma acusadora furiosa. — Antônio pegou seus relatórios e comparou com meus prontuários. Descemos, encontramos esta senhora, seu nome é Maria e ela é responsável pelos relatórios emitidos, nos informou que recebeu uma ordem da doutora Stela de padronizar conforme a indicação de tratamento para o faturamento e foi isso que ela fez. O seguro tem pago um valor, em alguns casos, muito maior do que o paciente está usando e em outros casos, bem menor.

Fernando: Há quanto tempo a doutora Stela solicitou isso? — questionei a Maria.

Maria: Uns seis meses.

Fechei meus olhos. Foi quando eu pedi o divórcio.

Fernando: Ok. — Respirei fundo, precisando pensar. — Vá até o RH e escreva detalhadamente tudo que lembrar sobre a sua conversa com a doutora Stela. Cada ordem ou alteração solicitada por ela deve ser relatada. Acalme-se, beba um pouco de água, escreva com paciência e o máximo de detalhes que conseguir. Assim que terminar, me chame.

Assentindo e ainda chorando, saiu calmamente em direção aos elevadores.

Fernando: Pode me mostrar um dos prontuários? — pedi a Maiara e ela deu de ombros, seguindo até a sala onde estavam os internos.

Maiara: Doutora Tatiana, pode me apresentar seu prontuário? Tati rapidamente se levantou.

Tati: Maiara, estou com o prontuário de um recém-nascido com a Síndrome do Bebê Azul — Tati disse nervosa e atraiu a atenção de Maiara.

Maiara: Tem certeza?

Tati: Esse é o bebê de quatro dias que está na UTI neonatal, nasceu semanas antes do previsto e está em observação, mas hoje cedo quando fomos fazer a visita, percebi que ele estava cianótico, e Ângela disse que é comum bebês...

Todas as coisas que eu sonheiOnde histórias criam vida. Descubra agora