O Corpo De Uma Sereia

Enquanto vivesse, seu reinado seria de terror.

Na plataforma elevada, na traseira do iate, Jensen controlava a vontade de se jogar no mar para finalmente abraçá-la.

Sem dizer uma única palavra, eles se olhavam nos olhos. Lisa estava mais perto agora, no entanto, mantinha-se dentro do mar por causa do pequeno filhote do povo do mar.

Sentado com as pernas dentro da água, ele não tirava os olhos da mulher parada à sua frente. Ela parecia uma miragem, como se o mar estivesse lhe pregando uma peça após tantos meses.

Hesitante, sem saber por onde começar a falar, ele ergueu a mão para tocá-la. Lisa ainda era a mesma, com toda a sua beleza paradisíaca. Seu cabelo loiro estava maior, sua pele tão lisa quanto a do bebê, e adereços de pérolas e outras joias enfeitavam a parte de cima de seu corpo. Ela estava tão linda quanto na noite em que se conheceram. Ele poderia imaginar que ainda era a mesma mulher e que nada havia mudado.

Mas seria um grande engano.

Lisa parecia cansada agora, abatida e até mesmo fraca. Seus olhos claros não tinham o mesmo brilho de antes e, além disso, havia um corte superficial em sua bochecha esquerda.

Com cuidado, ele tocou seu rosto, acariciando sua bochecha ferida com o toque mais gentil que podia oferecer.

Seu peito apertou com o desconhecido, o não saber o que ela havia passado, ou o que a havia machucado. Ele se arrependia ainda mais de ter dado motivos para ela ir embora, agora que finalmente a estava vendo.

Jensen Christopher passou mais tempo procurando por ela do que com ela, mas agora que estavam ali, reunidos outra vez, os últimos meses não pareciam nada.

─ Eu não sei por onde começar... ─ Ele sussurrou, com todas as boas lembranças invadindo sua mente.

Lisa sorriu para ele, mas o sorriso não era o mesmo.

─ Achei que nunca mais veria você. ─ Ela confessou.

Os lábios dele se apertaram em um meio sorriso.

─ Eu não sairia desse mar até te ver outra vez... ─ Ele disse, olhando para a água.

A sereia ainda segurava o bebê contra o peito. A pequena cauda parecia tentar dar a volta no corpo dela, como se estivesse se aninhando. O pequeno, com os olhos fechados, parecia estar dormindo. Seus curtos fios de cabelo eram castanhos, sua cauda não tinha escamas como a de Lisa, e sua pele não era tão clara quanto a da mulher.

Jensen observou em silêncio, remoendo dentro de si. Por um segundo, ele desejou mais do que qualquer coisa nessa vida que ela estivesse segurando um bebê deles... Que aquele pequeno filhote do povo do mar, com a mão tão miúda, fosse dele. Ele daria tudo por isso, Deus sabia que sim.

Seu desejo secreto era apenas um sonho, pois ele sabia, tinha consciência de que aquilo era impossível.

─ Quer me falar sobre o bebê agora? ─ Ele perguntou, enquanto se curvava para tocar a pequena cabeça.

Lisa abaixou a cabeça, fugindo dos olhos dele, mas não antes de ele ver seus olhos ficarem vazios.

─ É uma história complicada... ─ Ela olhou em volta, comprimindo os lábios. ─ Eu não posso ficar parada por muito tempo, Christopher. Eu preciso ir.

De repente, parecia que ele tinha sido chutado para longe. O abismo entre os dois ficou maior quando ela o chamou pelo segundo nome. Agora, não pareciam mais que viveram tantas coisas juntos. Quando ela o tratava assim, pareciam apenas meros conhecidos...

Jensen franziu as sobrancelhas, atento ao que ela dissera.

─ O que isso significa? ─ Ele perguntou, cauteloso.

Lisa olhou ao redor mais uma vez, suspirou e falou sem olhar para ele:

─ Wiqtar está atrás de mim... O bebê é filho dele. Eu estou fugindo... Tem algumas semanas.

Os olhos dele se fecharam automaticamente, enquanto ele bloqueava pensamentos e ideias que surgiam em sua cabeça sem permissão.

─ Lisa... ─ Ele continuou de olhos fechados. ─ Esse bebê é de Wiqtar... E de mais quem? Por que está com ele? ─ A pergunta foi formulada enquanto ele tentava evitar um piripaque do coração.

Uma mão molhada e gentil tocou seu joelho, e quando ele abriu os olhos, viu Lisa sorrir, mesmo que os olhos claros estivessem profundamente tristes e aflitos, revelando seus verdadeiros sentimentos.

A cena lhe partiu o coração. Ele queria pegá-la no colo e abraçá-la tão forte quanto ela abraçava aquele bebê que dependia completamente dela.

─ Wiqtar pegou minha melhor amiga como parceira depois que eu fugi. O bebê é filho dela, mas ela... ─ Lisa fechou os olhos e respirou fundo. ─ Ela está morta, Jes. Ele a matou, e quer fazer o mesmo com o filho dela...

Lisa tentou, com todas as forças, se manter forte, no entanto, seus lábios rosados tremeram e ela não resistiu. Seus olhos se apertaram e ela virou o rosto, tentando controlar suas próprias emoções.

Jensen entrou na água, naquele mar onde ele tinha certeza que nunca encontraria o chão, mesmo se tentasse procurar. Mas ele não precisava do chão agora, precisava apenas dela.

Seu corpo explodiu quando ele a envolveu em seus braços. A mulher não reagiu, na verdade, ela simplesmente paralisou, mas, pela primeira vez em mais de um ano, ele se sentiu em paz ao tê-la em seus braços novamente.

O Sr. Manson tinha razão, Wiqtar sempre seria um problema, não importa quanto tempo passasse, ou o que acontecesse. Enquanto vivesse, seu reinado seria de terror.

A mão delicada de Lisa parou nas costas dele e ela apoiou a cabeça em seu ombro.

Jensen suspirou e a envolveu ainda mais.

─ Eu estou bem, está tudo bem. ─ Lisa sussurrou.

Mas ele não acreditava nela.

─ Não vá embora ─ Ele pediu, com o rosto colado no dela. ─ Por favor, suba, eu te levo para longe daqui. ─ Ele disse contra o ombro dela, enquanto ainda a tinha nos braços.

Lisa negou com a cabeça.

─ Não posso subir. O bebê não pode ficar muito tempo fora da água...

O moreno alto se afastou, apenas para poder encarar mais uma vez o rosto da mulher que ele amava. Agora entendia por que seu lindo rosto estava machucado, por que ela estava tão cansada e tão triste.

─ Eu vou cuidar disso, apenas aceite... ─ Ele insistiu mais uma vez.

Lisa tocou o rosto dele com a mão molhada, então sorriu, concordando com a cabeça.