Capítulo 11

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Durante toda aquela tarde, fiquei olhando o celular, esperando ansiosa por alguma mensagem dele, que obviamente não chegou. Ele estava me ignorando, e eu é quem não daria o braço a torcer.

Se ele queria me ignorar, tudo bem, eu o ignoraria também. Por mais difícil que estivesse sendo e por mais que sentisse meu coração saltar, a cada nova notificação que eu recebia. Eu não mandaria mais nenhuma mensagem, e não o procuraria mais.

Mesmo sendo uma pessoa romântica, também era igualmente orgulhosa e teimosa. Se ele achava que eu iria largar tudo e correr atrás dele, estava enganado.

Entrei nessa, única e exclusivamente por causa do meu livro, não podia abandonar tudo só porque ele não era capaz de entender isso. Não era como se eu o dispensasse em definitivo, era só por aqueles dias, até escrever o necessário para impressionar Larissa e o restante dos editores.

Olhei novamente para o celular, e já se passavam das seis da tarde. Juntei minhas coisas, e resolvi ir embora. Enquanto caminhava pelos corredores, fui chamada por Monalisa.

- Ju. – me virei em sua direção, quando ouvi meu nome ser chamado. – A Sra. Werner vem na sexta, quer conversar com a gente, antes da próxima reunião de conciliação. – eu respirei fundo e assenti.

- Tudo bem.

- Você está com uma carinha triste, quer conversar? – ela perguntou com a voz amável, e eu sorri em agradecimento.

- Não é nada, apenas cansaço. – dei de ombros. – Nada que uma boa taça de vinho e um banho de espumas não melhore.

- Você sabe que pode desabafar comigo, certo?

- Sei sim. Obrigada, Mona. – acenei com a cabeça, e me virei para ir embora.

Monalisa era uma boa amiga, fizemos faculdade juntas, e acabamos conseguindo vaga de trabalho no mesmo escritório de advocacia. Mas apesar de termos carinho uma com a outra, não erámos exatamente confidentes.

Ela nem mesmo sabia sobre meu lado escritora, na verdade, pouquíssimas pessoas sabiam sobre isso. Seria estranho falar com ela, sobre o que estava me incomodando. Na verdade, não sabia se queria contar para a Vivi nesse momento.

Todas ás vezes que eu me via assim, eu escrevia, isso me fazia bem e me relaxava. A escrita me transportava para outro mundo, onde eu podia me desligar por algum tempo da minha realidade.

Era como uma fuga, uma válvula de escape. E por mais que estivesse doendo ser ignorada, sabia que isso me ajudaria a escrever afinal de contas.

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-

Me espreguicei e estalei os dedos, somente agora olhando para as horas. Já se passavam das três da manhã, a taça de vinho ao meu lado estava vazia e a garrafa pela metade. Já havia feito um grande avanço com o meu livro, e já havia reescrito uns cinco capítulos.

Reescrever, era infinitamente mais complicado do que escrever uma história do zero. Meu romance estava bom, e eu gostaria de mantê-lo, mas para encaixar as partes que Larissa solicitou, precisei incluir muitas coisas, deixando o livro um pouquinho maior.

Além é claro, de tirar as partes que ela havia marcado de caneta vermelha, dizendo estar ruim. Dei uma última relida nos capítulos que escrevi, antes de me deitar. A editora tinha uma ótima equipe de revisão de texto, mas era perfeccionista com minhas obras, e gostava de revisar tudo, antes de entregar a finalização.

Terminei a revisão, já eram quase quatro da manhã, sabia que não teria muitas horas de sono, mas mesmo assim resolvi me deitar. Salvei meu trabalho, fechei o notebook e me joguei na cama, dormindo quase instantaneamente.

Não sei dizer quantas vezes apertei o "soneca" do despertador, só sei que isso me fez acordar apenas as sete e quarenta da manhã. E com uma leve ressaca do vinho, obviamente.

Levantei preguiçosa, indo até o banheiro e tomando uma chuveirada rápida. Meu cabelo estava uma tristeza, mas não teria tempo o suficiente para lavá-lo. O que significava que era dia de fazer um rabo de cavalo.

Saí do banho as pressas, passando os hidratantes e protetor solar no meu rosto, como não teria tempo de me maquiar, e minhas olheiras estavam medonhas, passei o protetor solar com cor de base, e selei a pele com um pó da minha tonalidade, passando um blush de leve, máscara de cílios e liptint.

Prendi meus cabelos, apenas os ajeitando com os dedos, fazendo um rabo de cavalo despojado. Corri para o quarto, vestindo um conjunto básico de lingerie, e pegando uma camisa preta de botões e uma calça social caqui de perna larga. Calcei o primeiro sapato que vi jogado pelo quarto, um scarpin preto, e sai apressada, colocando os brincos e anéis, enquanto saía pela porta e a trancava atrás de mim.

Demorei mais do que queria no trânsito, e quando finalmente cheguei no escritório, já se passavam das oito. Cumprimentei rapidamente a Simone, que trabalhava na recepção e fui direto para a minha sala, mas assim que entrei, Augusto entrou logo atrás de mim.

- Está atrasada novamente, Juliette. – ele me censurou, parado na porta de entrada e com as mãos no bolso do terno italiano.

Trabalhava num grande escritório de advocacia, Augusto era filho de um dos sócios e era extremamente arrogante e prepotente. Odiava trabalhar, e estava sempre ganhando os créditos do trabalho de outros advogados.

Era um homem bonito, não dava para negar esse fato. Devia ter quase 1,98 de altura, corpo malhado, mas não exagerado, pele clara e cabelo escuro, barba rala e bem desenhada e um lindo para de olhos verde esmeralda.

Mas toda a sua beleza, era o de menos diante de toda a sua petulância. Nós nunca nos demos bem.

- Acabei pegando trânsito, me desculpe, Augusto. Não vai voltar a acontecer. – me desculpei, sentando na mesa e ligando o meu computador, pronta para começar a trabalhar.

- Tudo bem, não precisa ficar nervosa. – ele deu um sorriso galante, e se aproximou da minha mesa, apoiando as duas mãos em cima dela e se inclinando um pouco, me encarando com aqueles enormes olhos verdes. – Queria saber que dia finalmente vai aceitar meu convite e sair comigo? – ele estreitou os olhos, enquanto meu pensamento gritava "nunca".

- Você não tem uma namorada? – perguntei, desviando meu olhar do seu, e pegando uma pasta com um processo que analisava no dia anterior.

- Terminamos tem alguns dias, sabe bem que sempre te achei linda, e agora não vejo impedimento para que possamos finalmente sair juntos. – fiquei tentada a responder "vejo vários impedimentos, inclusive o fato de você me importunar desde que entrei nesse escritório e ser um crápula" mas me contive e dei um sorriso que não chegava em meus olhos.

- Estou com uma pessoa. – menti, talvez não seja completamente mentira, eu não sabia exatamente como a minha situação com Rodolffo estava, mas também não queria sair com Augusto.

- Não sou ciumento. – ele insistiu, e eu suspirei profundamente, tentando não me estressar com o filho do meu chefe, que acabava sendo meu chefe por tabela.

- Augusto, eu realmente tenho muito trabalho e não estou disponível. – respondi firme, mantendo meu olhar no seu.

- Vou te deixar trabalhar. – ele endireitou o corpo e levou as mãos ao bolso. – Por hora. – piscou para mim, antes de sair da minha sala e fechar a porta atrás de si.

- Mereço. – bufei, levando os dedos em minha têmpora e massageando.

Olhei novamente para o meu celular, nenhuma notificação de Rodolffo. Aquilo já estava começando a me incomodar.

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