Capítulo 17

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O jantar foi divertido, e ele pareceu animado quando contei que havia finalizado meu livro. Evitei entrar no assunto, que eu estava realmente querendo falar com ele, durante o jantar. Achei que seria melhor conversarmos sobre isso depois.

Estávamos na cozinha, e eu me sentei à bancada segurando a taça de vinho em minha mão, tomando coragem para entrar no assunto, quando o celular de Rodolffo, começou a tocar.

Ele estava em cima da bancada, ao meu lado, tão próximo, que acabei vendo no visor o nome de quem o ligava. Sentindo uma pontada de ciúmes me invadir, quando vi o nome de uma mulher.

- Quem é Clara? – perguntei, ao ler o nome na tela.

- Ninguém. - ele estava de costas, enchendo a lava louças e não se virou para me olhar quando respondeu, mas percebi os seus músculos se contraírem.

- Rodolffo. – insisti.

- Não achou que fosse a única, né? – ele perguntou, me olhando por cima do ombro e dando um sorriso descontraído.

Aí!

Mordi meu lábio inferior tão forte, que conseguia sentir o gosto metálico de sangue na minha boca. Suprimi toda a vontade que tive de atirar o celular na sua cabeça, e me levantei, ajeitando meu vestido e respirando fundo.

- O jantar estava delicioso. – minha voz saiu levemente embargada, e eu pigarreei tentando controlá-la, piscando várias vezes para impedir que as lágrimas que se formavam em meus olhos, caíssem. – Mas eu preciso ir.

Ele fechou a porta da lava louças, e se virou para mim.

- Ir pra onde? – ele perguntou enquanto se aproximava, segurando minha cintura e procurando meus lábios com os seus, mas eu desviei. – Que foi?

- Eu não menti quando disse a você que não tinha o hábito de me envolver em relações casuais. – me afastei de seu toque e dei um passo para trás. - E não acho que consigo continuar sendo apenas mais uma, na sua enorme lista de conquistas.

- Não faz isso, ainda podemos nos divertir. - ele voltou a se aproximar e eu dei dois passos para trás. – Vamos lá pra cima.

A situação era tão absurda, que comecei a rir compulsivamente.

- Qual a graça?

- Você é um babaca! – disse simplesmente e ele engoliu em seco. – E eu espero, do fundo do meu coração, nunca mais ter o desprazer de te ver.

- Você está mesmo com raiva?

- O que você acha, Rodolffo? – me exaltei, pouco me lixando que eu estava na casa dele. – Eu nem deveria ter vindo aqui hoje, eu já tinha me decidido a nunca mais te procurar.

- Nunca prometemos exclusividade.

- Vá se foder. – dei as costas, pegando as chaves do carro em cima do aparador e saindo as pressas da casa dele.

Ignorando completamente os chamados dele atrás de mim. Entrei no meu carro e sai do condomínio cantando pneu.

Não me permiti chorar, nem mesmo quando entrei no meu apartamento.

Aquele imbecil não valia as minhas lágrimas.

-

-

Entrei no escritório furiosa, pronta para ajudar a Sra. Werner a castrar o Sr. Werner, se ela assim quisesse. Aquele verme traidor merecia perder tudo o que tinha.

Simone me avisou que nossa cliente já havia chegado, assim como o Sr. Werner e seus advogados. Fui direto para a sala de reuniões e encontrei todos sentados à minha espera.

- Bom dia! – desejei sem humor, ocupando a cadeira ao lado da Sra. Werner.

Todos os presentes responderam ao meu bom dia, ao mesmo tempo que acenavam com a cabeça. Abri a pasta com o processo dos Werner, apertando a caneta tão forte em meus dedos, que sentia que pudesse quebrá-la.

- Na nossa última reunião, paramos na casa da barra, e acho que a Sra. Werner tem razão, e ela deveria ser cedida a ela, ou pelo menos deveria ganhar uma gorda indenização, como forma de pagamento a infidelidade do Sr. Werner. – apontei, evitando olhar para os advogados à minha frente.

- Não vai ser necessário Dra. Freire. – a Sra. Werner me interrompeu sorridente e lançou um olhar amoroso ao seu ex marido, e eu os olhei confusa, sentindo que eu havia perdido algo importante. – Decidimos reatar o nosso casamento.

Senti minhas bochechas arderem, eu os olhava incrédula, e parecia que apenas eu estava com tanta raiva de ver um casal se reconciliar, já que os demais advogados reprimiam um sorriso.

- Ele traiu a Sra. – falei num rompante, fazendo os demais me olharem surpresos.

- Dra. Freire! – Monalisa falou alto, repreendendo minha atitude.

- Eu amo o meu marido, querida. E estou disposta a tentar novamente, conversamos bastante e decidimos isso, marcamos a reunião apenas para informar que não haverá um divórcio.

– A Sra. é burra? Ele vai te trair de novo, e eu estou disposta a te ajudar a tirar tudo o que esse verme tem.

- Juliette! – Monalisa gritou, me fazendo bufar. – Pode se retirar, eu termino por aqui.

Me levantei a contragosto, pegando as minhas coisas e caminhando a passos duros até a minha sala. Que mulher estúpida, perdoar o marido depois de tudo!

Ouvi uma conversa descontraída no corredor, provavelmente a reunião havia acabado e eles já estavam de saída. Tentei me concentrar no processo de reconhecimento de paternidade, quando Monalisa entrou em minha sala.

- Qual é o seu problema, Juliette? – ela perguntou exasperada.

- Ele traiu ela com a babá do filho deles! – respondi como se fosse óbvio. – Na cama deles!

- Isso não é da nossa conta!

- Pois, deveria! – respondi firme. – Deveríamos avisar as otárias apaixonadas a não confiar nesses babacas, eles são capazes de tudo quando querem transar.

- Quer conversar? – ela perguntou, se sentando na cadeira à minha frente. – Estou sentindo que não está mais falando da Sra. Werner.

E assim, todas as lágrimas que reprimi a noite inteira, caíram como cachoeiras na minha face. Monalisa se aproximou, e me abraçou, quando me ouviu soluçar.

Ficamos abraçadas por um tempo, Monalisa passava as mãos pela minhas costas, num gesto acolhedor, enquanto eu me acalmava.

Quando eu finalmente parei de soluçar, ela me entregou a garrafinha de água que deixava em minha mesa, e depois de beber uma quantidade generosa, eu desabafei.

Contei a ela tudo o que aconteceu, e ela me ouvia atentamente sem expressar nenhuma opinião, respeitando meu momento.

- Ju, eu sinto muito que esteja passando por isso. – ela disse, após eu terminar de contar tudo. – Meu noivo trabalha no escritório do Rodolffo, se eu soubesse que estava se envolvendo com ele, eu teria falado alguma coisa. Ele não é do tipo que se envolve, e sinceramente, pelo que Guilibaldo conta, é estranho que ele tenha te levado para a casa dele. Ele nunca leva, ele aluga uma cobertura em um hotel, onde ele leva as mulheres com quem fica.

- Acho que devo me sentir especial? – perguntei debochada.

- Não. – ela respondeu firme. – Só estou te contando que o que ele fez com você, não é habitual. E acho também, que deveria bloquear ele, e se afastar.

- Já bloqueei. – informei, enxugando as novas lágrimas que desciam com as costas das mãos. – Não quero mais saber dele.

- É o melhor que tu faz. Só vai continuar se machucando se insistir nisso. Você é jovem, bonita, merece alguém que valorize você.

- Obrigada por me ouvir, Mona.

- Estou sempre aqui, Ju.

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