Capítulo 20

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Respirei fundo, e caminhei a passos duros até a recepção.

- Simone. – chamei, quando me aproximei de sua mesa. – Quem deixou aquelas coisas na minha sala?

- Acho que se chamava Guilherme. – ela informou. – Ficou um tempão aqui te esperando, disse que as ordens dele, eram para te entregar em mãos, mas demorou tanto, que ele se contentou em deixar em sua sala.

- Ele deixou algum contato?

- Na verdade. – ela procurou por algo em sua mesa, depois me entregou um cartão azul petróleo. – Deixou isso.

Peguei o cartão de sua mão, e senti um frio na barriga quando vi na extremidade esquerda, um "R2J" em letras grandes e em relevo, me lembrando na hora da empresa que Larissa disse que ficaria responsável pela divulgação do meu livro.

É claro que seria a empresa dele, droga de destino.

- Você conhece algum entregador? – perguntei e ela me olhou confusa. – Estou sem carro, e preciso devolver aquelas coisas.

- A..ah sim. – ela gaguejou, e procurou por um contato na tela do computador, digitando freneticamente nas teclas do teclado. – Na verdade, conheço.

- Pode ligar para ele? – perguntei. – O quanto antes ele puder, melhor. Dê o endereço da R2J, e peça para ele entregar diretamente para o Rodolffo Matthaus, ou até mesmo esse Guilherme, caso não o encontre.

- Vou cuidar disso agora mesmo.

- Ótimo. – sorri. – Obrigada, Simone.

- Disponha, Dra. Freire.

- Tem certeza disso? – Monalisa perguntou, enquanto caminhávamos de volta para a minha sala.

- Não quero esses presentes, não ligo para nada disso, na verdade. – respondi sincera, sentando em minha cadeira, e apontando para os itens em minha mesa. – Não sou interesseira, Mona. Eu gosto dele, e não do que ele pode me comprar. – dei de ombros. – Além do mais, me sentiria suja se eu aceitasse, não sou prostituta, e nem alguém que possa ser comprada com presentes caros.

- Mas você gosta dele?

- Eu amo esse babaca. – respondi, já sentindo as lágrimas se formarem. – E se ele está mesmo arrependido, não é tentando comprar meu perdão, que ele vai conseguir me reconquistar.

- Então você se decidiu? – perguntou. – Quer ficar com ele?

- Se ele realmente gosta de mim, e se ele realmente está disposto a mudar seu estilo de vida pra ficar comigo. – ponderei. – Eu quero. – confessei. – Eu senti coisas com ele, que eu nunca senti com mais ninguém. Eu nunca vivi algo tão intenso, e eu sei que posso estar sendo burra, ou precipitada, mas eu quero sim ficar com ele, mesmo que daqui uns meses eu me arrependa, e veja que não era isso o que eu queria. Quero pelo menos tentar.

- Não acha que deveria falar sobre isso com ele?

- Acho. – disse, enxugando com as costas das mãos, algumas lágrimas que começaram a descer pelo meu rosto. – Mas ao mesmo tempo, acho que preciso dar esse tempo pra nós dois, preciso que ele realmente se arrependa das coisas que fez. Ele foi o responsável por me apresentar o amor, e a paixão arrebatadora, que a gente acha que só existe em filmes, mas ao mesmo tempo, foi a pessoa que mais me magoou.

Ouvi uma batida de leve na porta, e me ajeitei na cadeira e limpei minhas lágrimas, antes de pedir para a pessoa entrar.

- Ju, o entregador chegou. – Simone avisou, e eu assenti.

- Pode pedir pra ele entrar. – pedi e ela assentiu, saindo em seguida.

- Vai escrever algum cartão? – Mona perguntou, quando me viu colocar as duas caixas dentro de uma sacola de papel. – Explicar o porquê está devolvendo.

Pensei por um momento, e achei que seria realmente interessante que eu escrevesse algo. Peguei um pedaço de papel em minha mesa, e escrevi nele.

"Obrigada pelos presentes, mas não me sinto bem em aceitá-los.

Juliette Freire"

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Suspirei aliviada, quando o dia finalmente chegava ao fim, e eu poderia ir para casa e tomar um banho de espumas. Comprei um celular novo, no meu horário de almoço, ainda não havia terminado de configurar ele, mas precisei baixar o aplicativo do Uber, já que meu carro ficaria, por sei lá quanto tempo na oficina.

Desliguei meu computador, e caminhei para fora da minha sala, me despedindo de quem eu encontrava pelo caminho, e indo até o lado de fora, com os olhos presos ao celular em minha mão.

- Me disseram que estava sem carro. – ouvi sua voz grave, e levantei a cabeça, o encarando.

Rodolffo vestia uma calça jeans clara e camisa gola polo preta, e estava encostado na sua BMW. Me assustei um pouco quando o vi, mas tentei não fazer transparecer. Na minha cabeça uma pergunta gritava "Como ele soube que eu estava sem carro?".

- C..como? – comecei a perguntar, depois desisti quando o vir sorrir. – Tanto faz. – dei de ombros. – Já chamei um Uber.

- Eu te levo. – ele desencostou da BMW e veio até mim. – Me deixa fazer isso pelo menos.

- Não precisa, Rod. – neguei com a cabeça, já me sentindo desconcertada por ele estar tão perto de mim.

- Por favor, Ju. Deixa eu levar ocê, te prometo que eu não mordo.

- Você morde às vezes. – respondi sem pensar, arrancando uma risada dele. – Quer dizer. – pigarreei.

- Eu entendi, amor.

Aquela pequena palavra de quatro letras, fez as minhas pernas estremecerem, e eu precisei respirar fundo para continuar me mantendo em pé.

- Cancela esse Uber, me deixa te levar. Não precisa nem falar comigo se não quiser.

Olhei para o celular em minhas mãos, o motorista estava há dez minutos de distância. Mordi os lábios pensativa, e acabei cancelando a viagem.

- Tudo bem. – concordei.

Rodolffo sorriu, e pousou uma das mãos em minhas costas, me conduzindo até o banco do passageiro. Seu toque era como brasa em minha pele, e quando ele retirou a mão e eu entrei, senti falta do seu toque.

Assim como eu sentia falta de muitas coisas, desde aquele fim de semana trágico.

Ele sentou ao meu lado, dando partida e seguindo até o meu bairro. Por um tempo, ele ficou em silêncio, me olhando pelo canto do olho, passando a língua pelos lábios. Mas logo ele ficou inquieto, e eu sabia que aquele silêncio não duraria muito.

- Não gostou dos presentes? – ele perguntou, afinal.

- Foram de muito bom gosto. – respondi sem olhá-lo.

- Porque devolveu?

- Nunca me interessei pelo seu dinheiro Rodolffo, nem pelo o que pode comprar pra mim. Eu gosto de você, por ser você.

- Então ocê gosta de mim?

- Infelizmente. – fui sincera e ele deu risada.

- Gosto d'ocê também. – ele admitiu, e eu me virei para olhá-lo.

Estávamos parados no sinal, nos olhando como se o mundo em volta não existisse. Meu coração estava inquieto, e eu sentia as borboletas no meu estômago se agitarem. Só desconectamos nossos olhos, quando ouvimos uma buzina atrás da gente.

Rodolffo suspirou, e se virou para a frente, voltando a dirigir. Continuamos o resto do caminho em silêncio. E ele só voltou a me olhar quando parou o carro na porta do meu prédio.

- Posso subir?

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