♡ Prólogo ♡

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Por sorte, seu assento no avião ficava nas últimas fileiras, e, por sorte, ninguém ocupou o lugar ao lado, o que a poupou de olhares curiosos sobre o motivo das lágrimas silenciosas que escorriam durante todo o voo, enquanto ela encarava a tela do celular que exibia a foto de um casal sorridente. Pela janela do avião rumo à Europa, Sol avistava diversas paisagens entre as pausas do choro. Ela não sabia o que a aguardava e se conseguiria enfrentar tudo sozinha, mas lembrava-se das palavras de sua avó na noite anterior, quando, ao consolá-la, sussurrou um ditado popular de sua juventude: "Minha querida, infelizmente, quando damos um passo para frente, algo fica para trás. Não há como fugir, mas dê o seu melhor e verá que foi a melhor decisão."

Ao desembarcar no aeroporto de Londres, onde sua madrinha a aguardava, Sol sentiu o rigor do inverno inglês, com a temperatura em torno de cinco graus, mas graças à insistência de sua avó, estava bem agasalhada. Depois de pegar suas malas e finalmente conter as lágrimas por um momento, deparou-se com um mundo completamente diferente do que conhecia: pessoas vestidas com elegância, absortas em telas de computadores e celulares, a neve caindo lá fora, e o inglês soando um pouco mais complicado do que aquele que aprendera com sua tia. Com algum esforço, puxando as malas desajeitadamente, conseguiu pedir informações e, por fim, avistou sua madrinha acenando animadamente, o que a fez sorrir.

Não muito longe de sua madrinha, Sol largou as malas e correu em sua direção, abraçando-a com alívio por encontrar alguém familiar.

— Estou muito orgulhosa de você, todos estamos. — Laís sussurrou em seu ouvido, apertando-a nos braços, enquanto Sol assentia. — Você foi muito corajosa, tudo vai dar certo!

Com os olhos marejados, Sol encarou sua madrinha e esboçou um leve sorriso, trazendo um pouco de alívio para Laís. Ela sabia bem o que era viver longe de quem mais amava por um bem maior e, por isso, entendia a dor da jovem. Quando voltasse, também saberia como sua melhor amiga Isis estava.

Laís era a prova viva de muitos sentimentos.

— Dói, madrinha. Meu coração está em milhões de pedaços, ainda não consigo estar feliz... — Disse Sol, deixando uma lágrima cair.

Laís prendeu o choro em sua garganta e respirou fundo, abraçando aquela menina tremula.

— Sim, eu sei, querida. — Laís murmurou. — Vai passar, a dor logo se transformará em saudade.

Sol a olhou e Laís gentilmente enxugou suas lágrimas.

— Eu preciso que passe... — Sol balbuciou. — Eu abri mão de tudo...

A menina falou baixinho e sua madrinha consentiu de volta.

— Não se preocupe, cuidarei das pessoas que você mais ama, e todos os anos te visitaremos, se você não quiser vir. Prometo que farei a distância o menor possível, irá encontrar muita felicidade nesse país gelado!  — Laís segurou uma das malas de Sol e respirou fundo. — Vamos, vamos passear um pouco, comprar coisas para o seu dormitório e, amanhã, seguimos para Loughborough. Não é tão longe de carro, em duas horas e meia estaremos lá, conhecendo lugares bonitos.

Sol assentiu e respirou fundo, tentando deixar de lado tudo que não fosse ela mesma, ao menos por enquanto. Ela daria o melhor de si naquela nova jornada, não importava quanto tempo levasse para juntar os cacos do seu coração, era sua chance de viver algo grandioso.

S2

Loughborough, situada no centro-oeste da Inglaterra, no condado de Leicestershire, era uma cidade acolhedora, pequena, fria e limpa. A apenas duas horas e meia de Londres, uma hora e cinquenta de Cambridge e a mesma distância de Manchester, Sol conhecia essas cidades de reportagens na televisão e pelas histórias que seu irmão contava com orgulho.

Mais que suficiente, amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora