Com as mãos trêmulas apertando o buquê como se dependesse disso para se manter de pé, Júnior a encarou, o olhar preso naquela figura que parecia carregar o impossível. O tempo parecia se arrastar, e ele sentia como se sua alma estivesse à beira de se desprender do corpo. Seu coração martelava com força no peito, cada batida uma colisão entre esperança e medo. Poderia ser mesmo ela? A dúvida corria desenfreada, mas uma pequena chama de esperança surgia no meio do desespero — mesmo que ele tivesse certeza de que a havia perdido para sempre.
—Cecília... — A voz de Júnior soou pesada, quase quebrando, o nome ecoando com a dor de anos de saudade, enquanto uma lágrima silenciosa deslizava pelo seu rosto e caía, manchando sua camisa.
A moça, ainda agachada, congelou com o som daquele nome. Sua mão, que antes acariciava a foto no túmulo, parou no meio do movimento. Lentamente, ela levantou os olhos, surpreendida, fixando o olhar no rapaz à sua frente.
Júnior soltou o ar dos pulmões, como se até respirar fosse uma tarefa difícil naquele momento, o peito subindo e descendo em desespero. Ele a observava com atenção, esperando que qualquer movimento, a moça por sua vez, se levantou lentamente, ajeitando a roupa com calma, como se quisesse manter a compostura.
—Somos parecidas... ruivas na família. — Ela sorriu com doçura, jogando os cabelos para trás. — Me chamo Antônia, sou prima dela.
Júnior, ainda um pouco sem jeito, abaixou-se para pegar o buquê que havia deixado cair. Ao se aproximar da moça, percebeu que, de perto, ela não se parecia tanto com Cecília quanto havia imaginado.
—Nossa, eu realmente me assustei. — Ele sorriu, ainda nervoso. — Vocês são bem parecidas mesmo. Desculpa, acho que não te conheci antes.
A moça também sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-lo. Ao sentir a mão gelada de Júnior e ver seu rosto pálido, ela se sentiu culpada por ter causado aquela reação.
—Éramos bem próximas. — Ela começou, olhando brevemente para o túmulo antes de voltar a encará-lo. — Acompanhei alguns exames que ela fez nos Estados Unidos, mas como moro fora, não consegui me despedir quando ela se foi. Sempre que volto ao Brasil, trago flores. — Ela sorriu, percebendo que Júnior observava sua tatuagem no punho.
Ele consentia enquanto ouvia, mas seus olhos não deixavam de notar a semelhança entre as duas. Aos poucos, ele se lembrava das histórias que Cecília contava sobre a prima querida e as aventuras que viviam juntas, poucas vezes ao ano.
—A tatuagem... — Ele apontou com um sorriso leve.
Antônia mostrou o punho e assentiu.
—Fizemos juntas quando éramos bem novas, por isso é um coração tão clichê, apenas queríamos fazer!— Ela sorriu. — Você era o namorado dela, o pai da Liz, certo? Sempre vejo sua filha quando estou na casa dos avós dela. Ela é tão linda... se parece muito com a mãe.
Júnior sorriu, ainda com um toque de melancolia nos olhos.
—Sim... Ela se parece muito com a mãe e me lembra dela todos os dias.
Antônia demonstrava que sabia bem da situação, e Júnior assentiu, o que a fez sorrir.
—Sou sim, me chamo Júnior. A Liz está cada dia maior e falante, como a mãe. —Ele se apresentou e, de forma descontraída, falou sobre a filha. —Obrigado pelas flores!
Ela assentiu, voltando a olhar para o túmulo com a foto da jovem sorridente. Como quem não queria prolongar a visita, ajustou a bolsa no ombro e suspirou.
—De nada... também sinto muita falta dela. —Antônia murmurou, um pouco sem jeito. —Preciso ir agora, antes que outra pessoa me confunda com ela e desmaie. —Ela sorriu, tentando aliviar o clima. —Desculpa por te assustar!
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...