Joaquim não tirava férias desde que pediu demissão do posto de gasolina muitos anos atrás, e quando se mudou para São Paulo o seu aplicativo já estava dando certo, sendo assim ele focou apenas em estudar e se tornar o melhor em sua área. Quando não estava na faculdade, ainda fazia bicos, sempre em movimento, sem tempo para descansar. Agora, após fundar sua empresa chamada Supersoft, o ritmo não desacelerou; ele trabalhava sem pausas, e mal se lembrava de como era ter tempo livre. Fazia apenas vinte e quatro horas que entrara em férias forçadas, e já estava entediado.
Durante o dia no seu apartamento mediano, Joaquim havia organizado algumas coisas, lavou o banheiro e até arrumou seu guarda-roupa. Mesmo assim, passou a madrugada em claro, sem conseguir desligar a mente.
Outro dia chegou e já era a tarde, Joaquim havia virado a noite no computador e sua cabeça não dava uma pausa de pensamentos, ou melhor, ele não conseguia parar de pensar nela. Por sorte Juliana, agora com uma rede social, deixava exposto algumas coisas da sua vida como por exemplo a foto que postou com sua irmã, que era loira como ela, mas sem os olhos claros. Ela postou um pôr do sol na praia, e uma foto dos seus pés pequenos na areia da praia.
Joaquim mantinha os olhos em tudo que ela postava, cada detalhe o puxando mais fundo em suas lembranças. Descobriu que a irmã mais nova dela se chamava Mariana e que ela havia ficado noiva nos últimos dias, ele viu isso quando visitou a conta de Mariana, que era pública. Nela, encontrou uma foto de Juliana quando criança e percebeu que sua paixão por gatos começou na infância. Joaquim sorriu ao ver as fotos das duas fazendo caretas, um reflexo da cumplicidade que compartilhavam. Mariana parecia registrar tudo, mesmo que Juliana não estivesse ali para ver.
Mas ver aquelas fotos também trouxe um aperto no peito, ele sentiu saudade dela.
Enquanto encarava a tela do computador, várias janelas de sites de empresas aéreas estavam abertas, mas nada. Nenhuma passagem disponível para Fortaleza, o que o irritava.
— O ano inteiro tem passagens, mas quando eu preciso, só aparecem para daqui a dois ou três dias? — Ele resmungou, alongando o pescoço na esperança de aliviar a tensão.
Seu quarto estava gelado, cheirando a um desinfetante floral que ele havia passado no chão, e as cortinas ainda estavam fechadas, mergulhando o ambiente em escuridão. A cama ampla e confortável o chamava, mas ele não conseguia relaxar.
Bob, seu fiel companheiro, estava deitado aos seus pés. Joaquim o encarou com carinho, sentindo pena de levantar e acordá-lo.
— Bob, estou frustrado — sussurrou, e o cachorro abriu os olhos, como se entendesse a gravidade da situação. — Desculpa por te acordar.
O engenheiro pegou Bob nos braços e o deitou em seu colo. O cachorro não rejeitou o carinho; ao contrário, acomodou-se confortavelmente e permaneceu quieto. Joaquim atualizou o site mais uma vez e, frustrado, coçou a barba que crescia mais do que o habitual.
— JOAQUIM! — Um grito vindo do corredor fez seu cenho se arquear. — Venha aqui, vestido!
Ele puxou uma camisa da mesa do computador e se perguntou em voz alta:
— Vicente, sempre gritando quando quer me chamar... Eu sou surdo ou ele é maluco, Bob?
Sorriu ao ver o cachorro relaxado e, rapidamente, colocou uma camisa e um short florido, saindo do quarto.
— O que foi? — perguntou, passando pelo corredor. — Não fiz almoço, se virá cara, não sou seu cozinheiro.
Ao entrar na sala, avistou Sol, que estava desembalando sacolas na ilha da cozinha. Sorriu ao vê-la.
— Sol, quanto tempo! — Ele se aproximou e a abraçou rapidamente.
— Quanto tempo, Joaquim! — Sol retribuiu o abraço, e ele notou o sorriso dela iluminando o ambiente. — Trouxemos o almoço! — apontou para uma marmita grande. — Comida chinesa, sei que você adora.
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...