Uma proposta ♡ Capítulo 8

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A física era fascinante e complexa, quase como um teletransporte mental. Vicente já estudava tudo aquilo há tantos anos que a rotina havia se tornado normal, mesmo em casa, onde continuava a trabalhar em suas pesquisas. As viagens para acampar em locais altos ou desertos o bastante para observar o céu tornaram-se comuns, e ele já havia feito isso incontáveis vezes. Contudo, aquela última viagem foi diferente; era mais pessoal do que profissional, embora estivesse tecnicamente a trabalho. Sua mente, no entanto, permaneceu em São Paulo, refletindo sobre os conselhos de Joaquim, Bruno e as palavras sinceras de Juliana ao fim daquele encontro.

Não importava o quanto ouvisse, Vicente sempre seguia seu coração. Ele sabia que seguir em frente era difícil, como uma viagem sem destino claro, mas com a esperança de chegar a um lugar bonito. E então começou a se questionar se realmente seria capaz de fazer aquilo — de se entregar por completo em um relacionamento com alguém que merecia felicidade e, acima de tudo, amor.

O amor, para Vicente, era real. Já havia experimentado isso e não podia negar. Ainda assim, ele se perguntava qual seria o segredo para amar novamente, para se apaixonar de verdade. Com Sol, tudo foi tão natural que mal podia ser explicado. A verdade é que ele tentava, em vão, convencer a si mesmo de que não a amava mais, de que não pensava no sorriso dela, de que não se importava em saber como ela estava. Mas a preocupação ainda persistia. E a solidão, por sua vez, era exaustiva. Sentia-se inútil após passar a noite com alguém e não sentir o calor de uma paixão genuína. Procurava por ela em outras pessoas, mas nunca a encontrava. Isso era desgastante, e ao mesmo tempo, egoísta.

Algumas semanas se passaram desde seu aniversário e fevereiro chegou. Juliana havia sumido por um tempo após o falecimento de sua avó. Ela viajou para o Ceará e, mesmo depois de retornar, não entrou em contato com ninguém. Vicente respeitou seu espaço, afinal, sabia que era um momento delicado.

Os amigos, raramente reunidos, finalmente estavam em casa juntos. Vicente tirou um dia de folga da universidade, e Joaquim trabalhava de casa, como fazia com frequência. O dia estava tranquilo, e a casa, organizada na medida do possível. O tédio pairava no ar.

—Af, cansei. —Vicente suspirou, jogando-se no sofá. —Meus dedos estão doendo de tanto digitar. Não sei por que fui inventar de palestrar para crianças, preciso de trinta vezes mais criatividade.

Joaquim, ocupado no computador, levantou os olhos e o encarou.

—E por que você faz isso? Não deve ser fácil manter as crianças quietas... —O engenheiro comentou. —Além disso, estou te achando mais pensativo do que o normal.

Vicente balançou a cabeça, negando, embora soubesse que tinha muito a dizer.

—Não é fácil, mas gosto de ver o brilho nos olhos delas quando falo do céu. —Ele sorriu, com orgulho. —E não estou pensativo, só trabalhando... Aliás, você tem notícias da Juliana? Sabe se ela está bem?

Joaquim franziu o cenho e deu de ombros.

—Não sei, como eu saberia? Até o seu aniversário, ela parecia ótima, até mais falante do que o costume. —Ele respondeu, sem muita emoção. —Você é que está saindo com ela, deveria saber como está a sua mina.

Vicente negou, balançando o dedo indicador em direção ao amigo.

—Primeiro, saímos só uma vez, e ela não é minha, somos só amigos. —Vicente corrigiu. —Eu também achei que ela estava bem, mas no meu aniversário, ela disse que não poderíamos conversar e sumiu, como se estivesse fugindo de mim. —Vicente explicou, enquanto Joaquim continuava digitando, mas ouvindo com atenção. —Dias depois, soube que a avó dela faleceu, e desde então ela desapareceu.

Mais que suficiente, amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora