Joaquim detestava ficar em casa sozinho. Afinal, há muitos anos ele contava com a companhia do amigo mas que frequentemente viajava para serras ou observatórios no interior. Sem a presença de Vicente, ele tentava não morrer de tédio.
Atualmente, Joaquim era um engenheiro da computação e se destacava na criação de softwares, aplicativos e jogos, além de estar entrando no universo dos robôs. Os últimos cinco anos foram relativamente tranquilos para ele, especialmente do ponto de vista financeiro. O aplicativo "Circle of Friends" continuava em alta e era um dos mais seguros, garantindo uma rentabilidade significativa.
Ser assumidamente bissexual não era algo que o incomodava. Pelo contrário, ter se assumido trouxe-lhe um senso de liberdade, mesmo que ocasionalmente enfrentasse desaprovação de algumas pessoas da sua família distante que de algum modo, souberam. No passado, sua sexualidade não foi bem aceita por seu pai, as visitas eram frequentemente preenchidas por perguntas incômodas e discussões. Após uma briga, Joaquim passou alguns meses sem contato com o pai, contudo esse período de afastamento durou pouco, pois, após uma conversa franca, Joaquim deixou claro que não estava disposto a trocar sua paz por nada, pois precisava ser feliz. A partir desse momento seu pai pode entender um pouco mais os sentimentos do filho, as discussões diminuíram, e ele se sentiu mais livre e tranquilo.
É claro que levou algum tempo, mas, para alívio dele, seu pai eventualmente abriu a mente e deixou o preconceito de lado, valorizando o amor que sempre existiu entre eles. Afinal, sempre foram apenas um para o outro. Joaquim sabia que nem todos tinham a sorte de ter pais que os aceitavam, então era imensamente grato pelo amor e amizade que compartilhava com seu pai.
Recém-saído do banho, o rapaz observou a mesa de cabeceira, adornada com fotos de sua formatura. Uma delas destacava-se especialmente: seu pai, que havia viajado de avião pela primeira vez para ver o filho se formar, sorria amplamente enquanto o abraçava e beijava a testa do rapaz. A imagem era ao mesmo tempo engraçada e tocante.
Joaquim pegou o celular e discou o número do pai. O telefone chamou algumas vezes até ser atendido. Seu Antônio era conhecido por adorar a tecnologia, especialmente para assistir a vídeos engraçados.
— Painho.
Joaquim o chamou quando a ligação foi atendida.
— Oi, meu filho, já jantou?
O engenheiro sorriu com a pergunta, uma constante nas conversas noturnas com o pai.
— Minha janta está no fogo, liguei para saber se você recebeu o dinheiro que mandei. Também agendei o check-up no médico; ele vai me passar todas as informações, então não adianta me esconder nada! — Joaquim comentou, e o pai resmungou.
O filho, ainda preocupado, revirou os olhos ao ouvir o desagrado do pai.
— Oxente, não sou velho. Por que preciso ir todo ano a um médico caro? E você me manda mais dinheiro do que eu preciso, já prometi que ia parar de trabalhar e cuidar apenas da minha roça.
Joaquim sentou-se na cama e passou o pente pelos cabelos molhados.
— Eu disse que se meus planos com o aplicativo dessem certo e a minha profissão me garantisse estabilidade, não queria que você continuasse trabalhando sob o sol quente. Já passou a vida toda assim... Agora precisa se cuidar, se manter saudável!— Joaquim suspirou. — Sabia que morar longe é difícil?
Antônio bufou, concordando.
— Acha que é fácil ver meu amado filho longe?
— Então, eu me cuido aqui e você precisa se cuidar aí. Não são médicos caros, eu pago o plano de saúde para que você use e permaneça saudável, não seja uma mula teimosa...
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...