Vicente não precisou procurar muito por sua namorada; ela nem sequer havia saído com o carro do estacionamento do prédio. À distância, avistou Sol dentro do carro fechado, com a cabeça apoiada no volante. O coração do rapaz estava partido por muitos motivos, assim como o dela, mas vê-la naquele estado de desespero reforçava que a decisão tomada semanas atrás nunca foi por ele, como ela havia deixado claro.
O astrofísico se manteve à distância por um tempo, difícil encontrar palavras quando se sentia igualmente despedaçado. Eles haviam reformulado suas vidas na espera do bebê, escolhido o nome e o quarto, e o escritório estava tomado por itens dele que chegaram durante a semana. Sol estava radiante, e mesmo se contendo, algumas pessoas já haviam descoberto sobre seu filho. Ela havia programado meses de licença para cuidar do bebê e aprender a ser mãe, assim como Vicente.
Com passos firmes, o rapaz se aproximou do carro e deu duas batidinhas no vidro. Logo foi encarado por olhos redondos e avermelhados. A porta foi destravada, e Vicente entrou no carro, fechando a porta devagar. Ao seu lado, permaneceu em silêncio. Não havia muito o que dizer, mas ele tentou.
—Eu deveria ter feito o teste antes de tudo, sabe... —a voz mansa dele a fez negar. —Não imaginei que ela pudesse se enganar sobre isso.
Sol, com a cabeça ainda apoiada no volante, negou lentamente, fungando e deixando claro que ainda chorava.
—Talvez nem ela pensasse que estava enganada, afinal você nunca iria saber —soltou ela, em um sussurro.
Vicente consentiu e, com ternura, tocou em sua cabeça, acariciando seus cabelos.
—Estou despedaçado também, Sol. Sinto como se uma grande parte de mim tivesse sido retirada. Em um mês, eu fui pai de alguém; eu amei alguém e o quis tanto... —ele falou, a voz baixa, encostando a cabeça no banco do carro.
Sol levantou a cabeça e se apoiou no banco, uma lágrima escorrendo pela bochecha enquanto encarava o estacionamento.
—Por que Deus fez isso? —perguntou ela, a voz embargada. —Ele transformou meu coração, me mostrou com clareza que Lucca era o que faltava na minha vida, mesmo que não nascesse de mim. Desde aquela noite todos os meus pensamentos, metas e planos giraram em torno dele.
Ela desabafou, e Vicente a encarou, os olhos cheios de lágrimas.
—Então, por causa de um papel, ele foi tirado de nós? Irá para um abrigo e ficará sozinho? Estamos cuidando dele há cerca de um mês, mesmo ele ainda no hospital. Eu o coloco para dormir todos os dias e hoje foi a última vez? Meu peito está doendo tanto, e me sinto tão impotente...
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Vicente, e ele consentiu, segurando a mão dela. Sol sentiu os dedos gelados entrelaçarem-se com os seus, com força.
—Estou quebrado... —ele prendeu o choro e retirou os óculos. —Confio que, de alguma forma, ele não esquecerá de nós. Me sinto impotente também, mas leis são leis, merda...
Mais lágrimas caíram do rosto de Sol, que tampou a face com o braço, escondendo sua dor exposta.
—Você voltará para o seu apartamento, não é? —perguntou com a voz abafada, fungando em seguida. —Quantas coisas acabaram de uma vez, que inferno.
Vicente abriu os olhos e a encarou; ela ainda escondia o rosto com o braço. O olhar dele se desviou para o celular, que tinha inúmeras ligações não atendidas. As mensagens chegavam como se a notícia já tivesse se espalhado. O celular de Sol tocava e vibrava insistentemente, mas era ignorado.
—Não. —ele sussurrou. —Não vou a lugar nenhum...
A patinadora o encarou, ela sentia seu coração acelerado por muitos motivos e não entendeu quando Vicente sorriu entre as lagrimas.
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...