O ano havia começado mais uma vez. Após passar o último Natal e Ano Novo com muitas tradições inglesas, um frio congelante e rodeada de pessoas conhecidas ao longo dos anos, Sol finalmente sentiu a ansiedade de voltar para casa e recomeçar sua vida. Mas não de onde tinha parado—dessa vez, precisaria criar um mundo novo.
Não era coincidência: decidiu retornar ao Brasil em janeiro, assim como quando foi embora. Afinal, era a época de férias escolares, o que facilitaria muitas coisas, desde seus planos com a escola de patinação até o convívio com seus irmãos e sua afilhada.
Quase todos os seus pertences já estavam no Brasil, ela optou por enviar suas coisas aos poucos por dois motivos: tempo e valores. A cada vez que arrumava as malas, a ficha caía um pouco mais de que estava realmente retornando ao seu país. Porém, algo a confortava, após cinco anos vivendo na Inglaterra, conquistara o tão sonhado passaporte britânico, o que lhe dava segurança para visitar o país que a acolheu tão bem por anos, e, claro, serviria como um plano B caso tudo o que planejara não saísse como esperado.
Janeiro na Inglaterra era marcado por um inverno extremamente rigoroso, com temperaturas variando entre dez graus e abaixo de zero. Embora neve não fosse tão comum naquela cidade, como uma despedida especial, estava nevando naquele ano. Sol sabia que sentiria saudade de ver o sol nascer apenas por volta das oito da manhã e se pôr logo às quatro da tarde, ela sentiria falta das pessoas nem tão calorosas mas com um coração enorme, sentiria falta dos seus alunos e do frio.
As músicas infantis ecoavam na escola de patinação onde ela dava aula todos os invernos. As crianças, pequenas e cheias de energia, facilmente deixavam os professores cansados. Sol, muito querida por todos, foi surpreendida com uma festinha de despedida em sua última aula, com direito a bolo, bebidas quentes, torta de maçã, e, claro, as torradinhas com geleia que todos sabiam que ela adorava, trazidas pelos pais dos alunos.
A patinadora e seus sete pequenos alunos organizaram um tipo de piquenique, sentados sobre uma toalha quadriculada no centro da pista de patinação. As crianças, com idades entre quatro e nove anos, conversavam e faziam a treinadora sorrir, quase esquecendo que aquele era um momento de despedida.
— Senhorita Seifer, então nunca mais vai voltar? — perguntou Clara, olhando para a treinadora.
Clara tinha seis anos e adorava patinar, ela estava na escola desde os quatro anos e era uma das alunas mais carinhosas e perseverantes.
— Claro que vou voltar para passear e ver meus lindos e talentosos alunos! Como eu poderia esquecê-los? — Sol respondeu, entregando uma torrada para a menina, que assentiu com um sorriso. — Mas não fiquem tristes, o senhor Smith irá cuidar muito bem de vocês.
Sol observava os rostinhos pensativos, alguns tristes e outros que pareciam entender melhor a situação.
— A gente não gosta do senhor Smith. Ele não brinca, nem deixa a gente descansar muito e nunca traz doces nas sextas, e quando caímos e bufa alto. — Nick desabafou, contando nos dedos os motivos para seu descontentamento.
Várias crianças começaram a concordar com Nick, e a sala logo se encheu de vozes em um protesto animado.
— Calma, calma, crianças! — Sol pediu, unindo as mãos. — Não podemos desmerecer o senhor Smith. Ele é uma pessoa muito boa, talentosa e inteligente, e gosta de vocês tanto quanto eu. Ele adora patinar e ensinar, então quero que tratem ele muito bem!
Sol levantou os dois polegares e falou um pouco mais séria, ela sorriu ao ver alguns pequenos polegares levantados.
— Acho que ele não leva muito jeito com as crianças menores. Ele é professor de alunos mais velhos, do colegial. — comentou Amy, uma garotinha um pouco mais crescida, fazendo uma observação importante.
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Mais que suficiente, amor.
RomantizmAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...