Aos poucos, a vida foi voltando ao normal na medida do possível, Sol e Vicente ainda estavam imersos em seus próprios mundos sendo consumidos por uma imensa tristeza. Lucca estava finalizando seus dias no hospital após um mês e encontrava-se completamente saudável e Miguel prolongou sua estadia em São Paulo para alguns dias de descanso, todos seguiam com suas vidas embora ainda tristes com tudo que havia acontecido.
Era fim de tarde, no meio da semana. Vicente observava algumas imagens do espaço via satélite e anotava diversas informações em um caderno cheio de letras e números que se misturavam. Após semanas sem conseguir trabalhar, ao finalmente retorna precisou retomar suas linhas de pesquisa, artigos prestes a serem publicados e claro, voltou a receber mais propostas para dar algumas aulas extras aos alunos de física.
Vicente tentava manter a mente focada no trabalho, sabendo que Sol fazia o mesmo em sua academia. Poucos dias haviam se passado, e ambos não conseguiam tirar o bebê de seus pensamentos e de buscar uma solução rápida para isso, mas nada era rápido o suficiente. A patinadora estava dando o máximo de si ao treinar para os Jogos Pan-Americanos, mas seu joelho, frequentemente machucado refletia sua infeliz falta de concentração.
No meio de muitos livros Vicente suspirava, completamente imerso. Apesar de muito jovem, fazia parte da equipe principal de pesquisadores, o que havia gerado burburinho anos atrás, mas o diretor do observatório sabia que Vicente estava exatamente onde deveria estar.
— Posso entrar? — Silveira bateu na porta enquanto a abria. — Espero não estar atrapalhando.
O diretor do observatório entrou sorrindo após Vicente acenar com a cabeça, indicando que estava tudo bem. Eles até se davam bem, quando o diretor não agia como um completo egocêntrico.
— Fique à vontade, estou observando eventos transientes. — Vicente explicou, enquanto estava diante de várias telas.
Silveira observou a cena, ele ainda não entendia por que Vicente gostava tanto de escrever à mão, quando digitar seria bem mais fácil. O diretor olhou algumas fotos na mesa: Vicente com sua namorada e seus pais, outra com amigos, e uma na formatura, eram muitas para um espaço pequeno.
— Supernovas de colapso de núcleo? Essa é sua nova linha de pesquisa? — Silveira perguntou, apontando para o computador.
Vicente o encarou, enquanto o homem se sentava ao seu lado e cruzava os braços.
— Sim, além da observação, estou desenvolvendo um artigo sobre o tema. Existem poucos artigos atualizados sobre isso e estamos sempre sendo cobrados quanto a isso.— O astrofísico explicou. — Posso ajudar em alguma coisa?
Silveira sorriu, demonstrando alívio com o retorno de um dos seus pesquisadores mais dedicados.
— Primeiramente, fico feliz que tenha voltado e espero que tenha resolvido suas questões pessoais. — O diretor disse, encarando Vicente e assentindo.
O astrofísico ajeitou os óculos e suspirou.
— O termo resolver, neste momento, ainda é uma constante na minha vida, mas sigo firme. Agradeço pelos dias que me deu...
— Entendo, e você passou anos sem folgas ou férias, ainda tem bastante coisa no banco de horas. — O diretor suspirou. — Vim pedir um favor.
Vicente sorriu ao ouvir aquilo, sempre que Silveira batia à sua porta, nunca era à toa. Ele pedia algo, reclamava de outra coisa, trazia estagiários ou oferecia mais trabalho.
— Em que posso ajudar? — Vicente tornou a perguntar.
— Poderia dar uma força à equipe de análise de dados? Eles estão com algumas dificuldades, e, a essa hora, todos já estão indo para casa mas seria inviável deixar para amanhã. — O diretor falou calmamente, e Vicente sorriu.
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...