Vicente nunca foi um grande cozinheiro, mas quando saiu da casa da mãe, teve que incorporar o hábito à sua rotina, gostasse ou não. Afinal, seu salário não era alto o suficiente para comer fora todos os dias, por mais que a vontade estivesse sempre presente. Vestindo uma regata que deixava à mostra seu braço quase todo coberto por tatuagens e um short de pijama, ele preparava o almoço com uma lentidão quase deliberada, sem pressa alguma. A cebola era cortada com precisão, quase em câmera lenta, enquanto ele lidava com o ardor que invadia seus olhos. A meta daquela tarde era simples: macarronada com bife acebolado.
Sentados à mesa, Joaquim, Bruno e Cibele observavam Vicente de longe e suspiraram ao mesmo tempo. Os amigos se reuniram para um almoço de sábado e estavam curiosos para saber mais sobre o encontro com Juliana que aconteceria naquela noite. Todos queriam saber, mesmo que Vicente não fosse do tipo que gostasse de expor sua vida pessoal.
— Eu o conheço desde a infância, e essa lentidão nunca muda. — Cibele comentou, observando Vicente e arqueando as sobrancelhas.
— Era melhor ele ter começado a cozinhar ontem. — Bruno resmungou.
— Será que o almoço é para domingo e eu marquei errado no calendário? — Joaquim brincou, fazendo uma careta para os amigos.
Eles adoravam tentar irritar Vicente, mas provocar alguma reação nele não era uma tarefa fácil, embora sempre divertido. Logo eles entraram em uma serie de lamentação por Cibele precisar ir embora mais uma vez.
Cibele havia passado algumas semanas de férias no brasil, pois morava fora com o marido, Brad, eles se casaram logo após a formatura na faculdade, sem perder tempo. Primeiro, fizeram uma cerimônia nos Estados Unidos com a grande família de Brad e, em seguida, vieram ao Brasil para uma bela e alegre festa de casamento. Ambos eram advogados e pais do pequeno Ravi e o casal adorava passar as férias no Brasil, apresentando a cultura da mãe e da avó paterna ao filho. Depois de algumas semanas em Fortaleza, Cibele não poderia deixar de passar um bom tempo com seus amigos de infância em São Paulo.
— Podem reclamar à vontade. Estou acostumado com sua ironia, Joaquim, sua impaciência, Cibele, e com seu charme rabugento, Bruno. Aliás, como a Dani tem paciência? — Vicente provocou, sorrindo para os amigos.
Os amigos sorriram, desconsiderando a provocação, e voltaram a conversar sobre a enorme família de Brad.
— Não tem ninguém solteiro na família do Brad? — Joaquim perguntou, e Cibele assentiu, tomando um gole de vinho. — Sério, as vezes acho que nunca me apaixonarei!
Todos concordaram com Joaquim, afinal o rapaz nunca tinha se apaixonado antes ou se quer, namorado.
—Tem sim, é só ir lá migo. Quer homem ou mulher? —Cibele perguntou e Joaquim gargalhou.
Vicente sorriu de longe enquanto Bruno balançava a cabeça, batendo na própria testa com a maneira engraçada de Cibele falar sobre a bissexualidade de Joaquim.
— Parece que estamos na feira escolhendo alguma coisa, credo.— Bruno comentou, ainda rindo.
— Estou brincando, gente. Estou fugindo de problemas amorosos, alguém aí me deixou com traumas. — Joaquim apontou para Vicente, e Cibele prendeu o riso.
— Não me culpe de nada. Você gosta dos dois gêneros e ainda está sem ninguém... — Vicente provocou, e Joaquim concordou. — Tem certeza de que o problema não é você?
Bruno gargalhou com a calma do irmão, o que fez Joaquim sorrir também.
— Claro que o problema sou eu... Bonito, inteligente, dono de uma empresa e simpático. As pessoas não suportam tudo isso de uma vez.
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Mais que suficiente, amor.
RomanceAtenção leitores: Esse é o segundo livro da duologia suficiente, para entender a historia, leia o primeiro livro: Quase suficiente, amor. S2 Distância, no...