SEASON 2 - Capítulo 12 - Resistência

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Alguns dias passavam tão rápido que tínhamos a sensação de que logo ao acordar o sol já estava se pondo. Em contrapartida, outros pareciam demorar o dobro, e as horas se arrastavam de maneira vagarosa, enquanto buscávamos algo para fazer. Jean escrevia religiosa e detalhadamente para o capitão conforme as ordens que havia recebido. E nós fazíamos o possível para nos manter entretidos, e poucos dias depois de chegarmos ali, percebemos que treinar era a atividade que mais nos ajudava a gastar energia e fazer as horas passarem mais rápido, e além disso eu cheguei a conclusão de que retornaria ao reconhecimento, quer o capitão Levi quisesse ou não, mas tinha ciência de que para que ele não dificultasse as coisas para mim, precisaria arranjar uma forma de me recuperar e ficar bem, ao menos na medida do possível. De fato não havia sentido para mim continuar lutando contra o fim eminente, eu não tinha a mesma motivação de antes, mas havia feito um juramento para proteger as pessoas ao máximo possível, e se eu perdesse isso também, se eu deixasse de cumprir com os meus princípios, com os meus valores, então eu perderia a única parte boa que havia sobrado em mim. Se eu perdesse o desejo de proteger aos inocentes, então Filip conseguiria me destruir por completo.

Jean havia se mostrado um excelente treinador. Talvez porque ele tinha plena noção de como me motivar. De qualquer forma, seus métodos eram bons, ele estava sempre ao meu lado nas corridas, contando de forma animada e esperançosa a cada abdominal que eu fazia, e segurava o saco de pancadas para mim como se sua vida dependesse disso, como se me ver socar aquele monte de areia fosse a coisa mais importante no mundo para ele, e comemorava o treinamento ao final de cada dia, sempre preparando algo para eu comer ou beber.

Passamos semanas focados no treinamento intensivo, focados em corrida, escalada, porém sem poder usar as lãminas, pois elas assim como o restante do equipamento precisavam estar em perfeitas condições para o caso de uma urgência. Então, não era viável gastar o fio das espadas e gás dos DMTs. No septuagésimo quarto dia, eu havia aprendido a usar a dor como motivação. Estaria eternamente de luto pela morte de meus bebês, mas decidida a salvar o maior número de pessoas possível, e de praxe talvez até decapitar o comandante Akharon.

Avancei em direção a Jean, desferindo golpes rápidos e objetivos. Meus pés descalços sobre a grama se movimentaram em sincronia com meu corpo, enquanto um vento gelado atingiu meu rosto, trazendo algumas mechas de cabelo para frente, atrapalhando minha visão. Jean desviou de todos os meus golpes, e num movimento rápido, seu braço enlaçou-se ao meu tronco, quase me derrubando. No entanto fui mais rápida, fiz outro movimento, e o acertei com um soco em sua costela, e num giro lhe dei uma rasteira, fazendo-o despencar de costas sobre o gramado, para sua sorte a grama estava fofa.

— Eu devia ter aproveitado mais os dias em que você estava mais fraca. — Ele fez uma careta de dor.

— Você sabe que é mais forte que eu, só precisa de estratégia, seu problema é confiar que o adversário não vai fazer coisa pior. — Levantei a sobrancelha e lhe lancei um sorriso provocativo.

— Desde quando você virou a professora e eu o aluno? Pensei que era o contrário. — Ainda deitado, Jean usou seu antebraço para tampar o sol que iluminava seu rosto.

— Só estou reivindicando meu trono. — Brinquei, estendendo a mão em sua direção para ajudá-lo a levantar.

Gradativamente eu vinha aprendendo a ficar sozinha novamente, nunca totalmente, mas agora minha mente havia entendido que Jean ainda estava perambulando por algum cômodo no mesmo andar da casa que eu, e que ninguém entraria ali porque ele não deixaria. E se entrasse, eu seria perfeitamente capaz de me defender. Talvez fosse um pouco errado, de certo modo criei uma espécie dependência de Jean, eu havia me adaptado a estar com ele todos os dias e me surpreendi ao notar que gostava tanto de sua presença que jamais enjoaria dela. Mesmo após todo o tempo que estávamos lá, ainda dormíamos no mesmo quarto, ele no chão, e eu na cama, segurar sua mão havia se tornado outro hábito. Eu nunca seria capaz de agradecê-lo o suficiente por tudo o que ele havia feito e ainda estava fazendo por mim. Enquanto o capitão o qual dizia sentir tanto amor sequer havia pisado na fazenda para me ver, Jean estava ao meu lado em todos os piores momentos, até mesmo nas crises de choro e pânico que aconteciam esporadicamente.

Shingeki no Kyojin - Caminhos do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora