— Está acordada? — Senti a mão de Jean tocar meu ombro.
O quarto estava escuro já que as janelas estavam fechadas, para mim era melhor assim, mas embora não quisesse admitir, a pouca luz que escapava sorrateira pelas frestas da madeira me fazia sentir menos assustada. Nos últimos dias meu corpo parecia ter assumido o controle sobre meu cérebro, realizando as tarefas básicas em modo automático para se manter vivo, enquanto isso minha mente vagava longe e em silêncio, escondida na escuridão do luto.
Embora não tivesse admitido em voz alta, eu não queria estar sozinha, sentia medo, medo de que Filip surgisse de repente e o pesadelo recomeçasse. Meus amigos estavam preocupados comigo, mas apesar disso precisavam se concentrar no novo plano do comandante Erwin, e isso exigia deles um intenso treinamento, por conta disso haviam deixado o casarão logo após eu acordar. Com exceção de Jean, que se recusou a me deixar sozinha, e aparentemente não houveram contestações sobre sua decisão, ou se o capitão discordou, ele não me contou.
Levi também havia partido, sem ao menos se despedir. Na verdade eu sequer havia o visto desde que acordei definitivamente, e não queria vê-lo também, então era proveitoso para mim que ele não surgisse em meu campo de visão. Ver seu rosto me faria sentir de novo todas as coisas ruins, traria a minha mente as faces dos bebês desfalecidos, e me lembraria de que eu fui fraca e por minha culpa nossos filhos estavam mortos. De uma hora para outra, o capitão havia deixado de ser o meu paraíso na terra para se tornar o meu próprio inferno, a lembrança viva das pequenas crianças que eu jamais conseguiria ver crescer.
O rosto de Jean surgiu em meu campo de visão, e olhei de soslaio em sua direção. Ele havia passado as últimas horas em algum outro andar da casa conversando com Levi. Imaginei que ele estava sendo orientado sobre a missão e como prosseguiriam com ela, mas em meu íntimo eu sabia que havia algo além disso já que a conversa estava demorando.
— Diga logo, o que ele quer? — Perguntei impaciente.
— Você irá embora. — Jean coçou a nuca.
— Como assim "embora"? — Me virei em sua direção, sentando na cama.
— O capitão Levi acredita que será melhor e mais seguro para você, ficar num lugar calmo e afastado por um tempo. — Ele explicou.
— Ele está me expulsando? — Levantei a sobrancelha.
Levi já havia deixado claro que não pretendia me ver mais, mas pensei que demoraria um tempo para ser expulsa do grupo de operações especiais. No entanto eu ainda não havia pensado sobre como seguir a partir dali, sabia que a cada dia estávamos mais próximos de Erwin colocar em ação o seu plano, e embora eu soubesse que era meu dever ir junto nessa missão, me sentia como uma casca vazia e sem motivo algum para continuar lutando em vão contra os titãs.
— Eu não usaria esse termo, mas... Ele está te aposentando oficialmente como soldado.
— Como é?! — Me levantei depressa.
— Kasaki, você passou por muita coisa, seu psicológico está totalmente abalado e...
— Ele acha que eu não sirvo mais. — Completei, sentindo meus olhos marejarem. — Está bem.
Desviei o olhar de Jean, e comecei a me movimentar pelo quarto para pegar minhas coisas, em silêncio, de forma ríspida e talvez um pouco agressiva.
— Kasaki, você...
— Eu estou bem, Jean, não precisa dizer nada. Já entendi e vou seguir as ordens do capitão.
— Não é isso, é que tem mais uma coisa... O capitão não quer que você saia dos limites da propriedade em que irá ficar, até que ele lhe dê novas ordens. — Jean mordeu o lábio inferior, seu tom era de receio.
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Shingeki no Kyojin - Caminhos do destino
FanficFanfic de Shingeki no Kyojin Romance Levi Ackerman Em um mundo despedaçado pelos titãs, entrei para o Esquadrão de Reconhecimento, determinada a proteger os que amo. Contudo, o destino tinha outros planos para mim. Minha ligação familiar me conduz...