Capítulo 29: Amor de mãe

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  Depois que Robert e eu nos separamos, eu decidi me mudar de Los Angeles, porque ele simplesmente tinha me feito odiar aquela cidade.
Fiquei dias e mais dias pesquisando até que achei um apartamento mobiliado de três quartos por um excelente preço de aluguel no centro de Austin, no Texas. Mark também tinha concordado com a ideia de me transferir para o escritório da People de lá. Já estava tudo certo para eu ir embora.
Robert me ligava e mandava mensagem quase todos os dias perguntado se podíamos conversar e dizendo que sentia minha falta, mas eu ignorava. Do jeito que eu me conhecia, eu jamais conseguiria confiar nele de novo, o nosso relacionamento tinha chegado ao ponto final. Eu tive poucos momentos de arrependimento, em um deles eu até havia escrito uma carta para ele, pedindo para que esquecêssemos tudo e cuidássemos do bebê juntos, mas essa carta nunca foi enviada. Ela só tinha sido uma loucura da minha cabeça que foi parar dentro de uma caixa que nunca seria aberta.
Ana ficou arrasada com a notícia de que eu iria me mudar e acabaria faltando ao seu casamento. Mas ela entendeu minha situação e não fez muito alarde. Minha melhor amiga se comprometeu em sempre ir me visitar no Texas para me ver e ver o bebê, me dando o sentimento de amparo que eu tanto necessitava.
  Quando retornei para a minha terra natal, minha mãe já me esperava no meu novo apartamento. Ela já estava ficando com mais idade, então sugeri que ela morasse comigo em Austin. Para a minha supresa, minha mãe aceitou a ideia.

  — Oi, querida. — Ela me agarrou quando entrei no apartamento.

  — Oi, mãe.

  — Oh, meu amor... você tá tão abatida. — Mamãe colocou as mãos em minhas bochechas.

  — Eu tô bem, mãe. Acha que eu vou parar minha vida por causa de homem? Dane-se o Robert.

  — Ele não é qualquer homem, Rebeca, é o pai do seu filho.

  — Tanto faz. — Fui caminhando em direção ao quarto. — Nem preciso dele pra criar esse bebê, posso ser mãe solo com prazer, assim como você foi.

  — Você não sabe o que é ser mãe solo, Rebeca. — Ela veio atrás de mim. — Deixa o Robert te ajudar a criar essa criança, mesmo que vocês estejam separados.

  — O Robert nem sabe sobre a minha gravidez, mãe. Nem vai saber. — Comecei a desarrumar a mala e a colocar minhas roupas no guarda-roupa novo.

  — Você tá sendo egoísta.

  — Egoísta? Eu sou a vítima e eu que sou a egoísta? — Dei um riso sarcástico.

  — Já parou pra pensar o quão traumatizado seu filho vai ser por causa da ausência do pai? Você passou por isso, você sabe como é.

  — Eu vou suprir essa ausência.

  — E o que você vai dizer a quando ele perguntar pelo pai?

  — Vou dizer a verdade, mãe. Que o pai dele tá com a amante e que não quer saber de nós.

  — Isso é muito errado, minha filha, e vai dar um problemão lá na frente, você vai ver.

  — DÁ PRA ME DEIXAR EM PAZ? — Elevei minha voz. — CHEGA DE FALAR SOBRE O ROBERT E SOBRE O MEU FILHO!

  — Tudo bem... desculpa então. — Minha mãe se encolheu e eu imediatamente me senti culpada por tê-la tratado daquela forma tão agressiva. A minha cabeça estava tão bagunçada que eu nem conseguia me controlar.

  — Desculpa... — Abracei ela. — minha cabeça não tá boa, eu tô enlouquecendo com toda essa situação.

  — Eu sei, já passei por isso... lembra? — Ela alisou minhas costas.

  — Tal mãe tal filha... — Suspirei.

— Pois é. Agora vá tomar um banho, esfriar essa cabecinha, enquanto eu vou fazer uma sopa pra você.

— Valeu, mãe. — Saí do abraço.

Minha mãe foi para a cozinha e eu fui para o banheiro tomar um banho. Liguei a banheira, coloquei uns sachês de banho de lavanda (que prometiam ter efeito relaxante) e entrei na água.
  Fiquei por volta de uns trinta minutos de molho naquela água quente. Às vezes dava um mergulho para molhar a cabeça, depois tirava um cochilo, ou então só ficava olhando para o nada.
  Eu me sentia tão vazia. Era como se uma parte de mim estivesse morta. Minha saudade pelo Robert era muito forte, mas eu prometi a mim mesma que não iria procurá-lo nunca mais. Por mais que fosse doer.
  Depois do banho, jantei a sopa com a minha mãe e nem quis saber muito de conversa. Quando terminei, apenas coloquei os pratos na pia e fui me deitar. Ali, coberta até a cabeça com o edredom, era onde eu podia extravasar. Eu tentava parecer forte para todo mundo, pagar de superada, mas quando as madrugadas chegavam, era completamente o contrário.
  Uma ferida grande tinha se aberto em mim, e eu não sabia se um dia ela se fecharia. Era como se dia após dia uma faca me mutilasse sem parar. Uma coisa eu sempre falo, existem vários jeitos diferentes de matar alguém que você ama, e talvez a maneira mais lenta e dolorosa é não amá-lo suficientemente. E Robert não me amou o suficiente.
  Sem eu chamar, minha mãe apareceu no quarto, já devia ser umas duas da manhã. Parecia que ela tinha o pressentimento de que eu precisava de ajuda. Era como um "sentido aranha", mas era o "sentido mãe".

  — Filha? — Mamãe chamou baixinho.

  — Mãe? — Limpei as lágrimas rapidamente.

  — Não precisa esconder que tava chorando. Pra mim, você não precisa esconder nada.

  — Eu não tava chorando.

  — Eu te conheço, Rebeca. — Ela se deitou ao meu lado na cama e eu coloquei minha cabeça em seu peito.

  — O que tem de errado comigo, mãe? Por que ele me trocou?

  — Meu amor, os homens são assim. Não foi sua culpa se você caiu na ilusão dele.

  — Eu só queria ser feliz. Ter um amor de verdade. — Voltei a lacrimejar.

  — Mas você tem, minha flor. Você tem o meu amor.

  — Obrigada por estar aqui.

  — Eu nunca vou lhe abandonar. Até quando eu morrer, vou continuar te vigiando lá do céu.

  — Não fala isso, por favor.

  — Um dia todo mundo vai morrer, filha.

  — Mães não morrem. — Funguei.

  — Tá bom. — Ela riu.

  — Mãe, por que você tá tremendo? — Questionei quando senti sua mão trêmula.

  — Tô com frio.

  — Mas você é a pessoa mais calorenta que eu conheço.

  — Sabe uma coisa que eu fazia que te acalmava quando você era bebê? — Ela trocou de assunto.

  — O que?

  — Eu cantava. Você parava de chorar num instante.

  — E você pode cantar pra mim agora? — Fechei os olhos.

  — Claro, meu bem. Essa era a que mais acalmava você, é do ABBA... começa mais ou menos assim: — Mamãe pigarreou. —

Schoolbag in hand
She leaves home in the early morning
Waving goodbye with an absent-minded smile
(Com a mochila na mão
Ela sai de manhã cedinho
Dando adeus com um sorriso brincalhão)

I watch her go
With a surge of that well-known sadness
And I have to sit down for a while
(Eu a vejo partir
Com uma onda de tristeza bem conhecida
E eu tenho que me sentar um pouco)

The feeling that I'm losing her forever
And without really entering her world
I'm glad whenever I can share her laughter
That funny little girl
(O sentimento de que eu a estou perdendo para sempre
E sem realmente entrar em seu mundo
Fico feliz quando eu posso compartilhar das suas risadas
Essa menininha engraçada)

Slipping through my fingers all the time
I try to capture every minute
The feeling in it
Slipping through my fingers all the time [...]
(Escorregando pelos meus dedos toda hora
Eu tento guardar cada minuto
O sentimento neles
Escorregando pelos meus dedos toda hora...)

  Não demorou para eu começar a me sentir mais leve e a ter sono. Alguns minutos depois, eu já estava dormindo no colo de minha mãe. Ali eu estava 100% segura. Nada nem ninguém podia me machucar.

  — Boa noite, florzinha. — Ouvi de longe sua voz.

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