Willow POV:
— Ei, acorde. — A senhora ao meu lado me cutucou e eu abri os olhos lentamente. Já era de manhã.
— O que foi? — Bocejei.
— Vamos parar em poucos minutos para tomar café.
— Ai... que dor no pescoço. — Me estiquei.
— Se você está com dor, imagine eu. Uma velha de 70 anos não tem mais condição de fazer uma viagem tão longa assim de ônibus. — Ela reclamou.
— Agora que me dei conta que eu ainda não sei o seu nome.
— Me chamo Abigail. E você, querida?
— Sou Willow.
— É um nome bonito.
— Obrigada.
— Você me lembra muito a minha neta, sabia? Tem o mesmo jeitinho. Vocês se dariam bem.
— Está viajando para ir ver ela?
— Não, quem me dera... eu não a vejo a muitos anos. Depois que briguei com a minha filha, eu nunca mais a vi. — Abigail ficou triste.
— Sinto muito.
— Não sinta, a minha filha é uma ingrata. Cuidei dela e da minha neta durante anos, mas do dia pra noite ela quis me largar num asilo só por causa do novo marido dela. É por isso que tô indo pra Los Angeles, vou morar com o meu filho mais velho.
— Que horror.
— Ninguém gosta de idosos, querida. Ninguém nos quer por perto.
— Ah, pare com isso, Abigail. Tenho certeza que quem perdeu foi ela. Você é uma pessoa muito boa.
— Obrigada. Mas me diga você agora, o que vai fazer na Califórnia?
— Eu disse pra senhora na rodoviária, vou ficar com o meu pai enquanto minha mãe cuida da minha avó. — Respondi desconfiada.
— Não acredito nessa história, Willow. Tenho a impressão de que você quis me enganar apenas pra entrar no ônibus.
— E-eu...
— Tenho setenta anos, filha, já vivi e vi muita coisa. Se sua história fosse verdade, você estaria acompanhada de alguém.
— É uma história muito longa. — Balancei a cabeça.
— Temos tempo de sobra.
— Tá... minha mãe morava em Los Angeles antes de me ter, e lá ela conheceu meu pai. Eles ficaram juntos por alguns anos mas nunca se casaram. Durante esse tempo, ela acabou engravidando, mas o meu pai traiu ela. Por causa disso, ela não quis saber mais do meu pai e acabou indo embora pro Texas. Então, resumindo, minha mãe escondeu a minha existência por anos, só que agora eu descobri quem é meu pai e... bem... tô indo atrás dele.
— Você é uma garotinha muito corajosa.
— Obrigada, só espero estar fazendo a coisa certa. Eu tenho tanto medo de chegar lá e meu pai me rejeitar. — Minhas mãos começaram a suar só de pensar naquela possibilidade.
— Se isso acontecer, saberá que ele não é digno do seu amor, e que ele não lhe merece.
Assumo que ao mesmo tempo que eu estava extremamente ansiosa para conhecer meu pai, também estava com muito medo. E se ele já tivesse uma nova família? E se eu acabasse me tornando um fardo na vida dele? E se ele não me aceitasse e eu acabasse virando uma filha bastarda? Querendo ou não, tinha chance daquilo ocorrer.
Mas eu estava tão curiosa para conhecê-lo que tentei fazer com que o medo não tomasse conta de mim. Ao invés de ficar assustada, comecei a me fazer perguntas sobre como ele era. Será que a nossa personalidade era parecida? Será que nós iríamos nos dar bem? Eu apenas queria matar logo essa dúvida.
Depois de um tempo, o ônibus parou e todos os passageiros desceram para tomar café em uma cafeteria grande na beira da estrada. Abigail e eu ficamos juntas o tempo todo. Era impressionante o quão parecida com a vovó ela era.— Você come tão pouquinho. — Ela riu quando viu meu prato quase vazio.
— Não tô muito afim de comer.
— Você tá bem?
— Só tô insegura.
— Entendo. Vai dar tudo certo, querida, tenha fé.
— É que eu não consigo entender... por que ele nunca veio me procurar?
— Ele nem sabia que você existia, Willow.
— Eu sei, mas ele poderia ao menos ter procurado pela minha mãe. Se ele fizesse o mínimo de esforço, teria descoberto sobre mim. — Desabafei.
— Querida, talvez o destino das coisas fosse esse. Tudo tem um propósito. Talvez tudo isso esteja acontecendo agora para uma coisa maior acontecer lá na frente. — Ela me confortou.
— Tomara que sim.
Quando terminamos o nosso café da manhã, todo mundo voltou para o ônibus e prosseguimos com a viagem. Chegaríamos em Los Angeles apenas na manhã do dia seguinte, então ainda tinha muito chão pela frente.
Durante esse tempo, Abigail e eu conversamos sobre várias coisas. Ela me mostrava fotos dos netos com maior orgulho, dava para perceber que ela era uma pessoa que dava bastante valor para a família. Uma pena que a família dela era o contrário.
Falamos também sobre nós mesmas, sobre o que cada uma gostava e etc. Sempre me dei muito bem com idosos. Era incrível conversar com eles, ouvir suas experiências de vida, seus conselhos e tudo mais.
Devido a ausência do meu pai, quase sempre eu me sentia um fardo para todos, como uma pessoa indesejada. Mas quando eu interagia com pessoas mais velhas, principalmente com a minha avó, tudo aquilo ia embora. Eu conseguia me sentir acolhida.
É claro que minha mãe sempre tentava lutar contra essa minha baixa autoestima, mas mesmo ela sendo a mãe mais presente possível, a minha carência de pai ainda me sequelava. Apenas minha avó conseguia fazer eu me sentir menos carente. Mesmo ela tendo todos os seus problemas.— Você sabe que sua mãe vai ir lhe procurar mais cedo ou mais tarde, não é? — Abigail disse.
— Eu sei.
— Já pensou na possibilidade de ela e seu pai se reencontrarem?
— Já.
— O que acha disso?
— Bom... eu não posso dizer que quero que eles voltem, até porque eu nunca nem vi os dois juntos, não faço nem ideia de como era o relacionamento deles. Mas... sei lá, acho que seria legal ter um pai e uma mãe juntos.
— E se você for a chave pra isso?
— Pra volta deles?
— Sim.
— Muito difícil.
— Por que?
— Minha mãe já falou várias vezes que não quer se relacionar. Que só o que importa na vida dela sou eu e minha avó. Ela dizia que ter um namorado seria perda de tempo. — Dei de ombros.
— Talvez ela esteja tão fechada assim por ainda amar seu pai.
— Amar meu pai? — Ri. — Ela nem sequer toca no nome dele. Como alguém pode amar uma pessoa assim?
— Quando você ficar mais velha, Willow, vai perceber que às vezes os adultos dizem que odeiam uma pessoa mas, no fundo no fundo, estão apaixonados por ela.
— Adultos são estranhos.
— É, realmente são.
— Então você acha que tem chance da minha mãe, mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda ser apaixonada pelo meu pai?
— Pode ser que sim.
— Nunca parei pra pensar nisso.
Abigail poderia estar certa. E se o meu propósito, no fim das contas, era ser o cupido dos meus pais? Apenas o destino iria dizer. Mas eu iria tentar, se meu pai me aceitasse, eu iria tentar fazer com que eles se reconciliassem, independente do meu pai estar casado ou não, de ter uma nova família ou não.
A 12 anos atrás, os dois terminaram de forma trágica, sem ter uma nova chance. Agora era o meu trabalho tentar reverter tudo o que tinha separado eles.
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Our Little Gift / Nosso pequeno presente
FanficSem tempo para acreditar em amor e relacionamentos sérios, Rebeca foca 100% em sua carreira de jornalismo na revista GQ, em Los Angeles, com a tarefa de investigar fofocas de famosos. Sua vida vira de cabeça para baixo quando ela conhece o astro R...