Capítulo 03: Sumiço

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Rebeca POV:

O resto da noite foi repleto de um clima de tensão. O aniversário de Willow havia ido por água a baixo, precisei ligar para todos os convidados desmarcando a festa porque minha filha nem queria dar as caras. Ela estava extremamente magoada, por minha culpa.

— Todo mundo sabia que esse dia iria chegar, Rebeca. — Minha mãe me olhava com seriedade.

— Eu não esperava que fosse tão cedo.

— Mentira tem perna curta, minha filha. Você sabe disso mais do que ninguém.

— Não acha melhor tentar ir falar com ela? — Ana sugeriu. — Ela já tá a muito tempo dentro do quarto.

— Ela não vai querer falar comigo agora. — Balancei a cabeça.

— Como você não previu isso, Rebeca? — Minha melhor amiga continuava tensa.

— Eu não lembrava da existência daquela merda de caixa, Ana, muito menos daquela maldita carta. Achei que tinha jogado fora.

— Agora você vai ter que dar um jeito nisso. Pelo que eu conheço a Willow, ela não vai mais querer saber de outra coisa a não ser conhecer o Robert.

— Não posso levar ela pra ver ele. — Respondi rápido.

— Tem como você deixar o passado de vocês de lado pelo menos uma vez e pensar na sua filha? — Mamãe me deu bronca. — Caramba, Rebeca, pensa no sofrimento da menina!

— Sua mãe tem razão. — Ana concordou.

— Tá... eu vou dar um jeito nisso, mas não hoje, já tá tarde. — Olhei para o relógio pendurado na parede onde o ponteiro indicava que já era meia noite. — De manhã eu chamo a Willow pra conversar sobre isso. Vou tentar ir dormir agora.

— Aproveita esse tempo pra você descansar sua cabeça e se acalmar pra ter essa conversa com ela. — Minha mãe me aconselhou.

— Eu vou. — Respondi. — Ana, você se importa de depois ajudar minha mãe a descer da cadeira de rodas e se deitar na cama? Hoje realmente não dá pra mim.

— Posso, amiga, relaxa.

— Valeu.

Então fui para o meu quarto, com plena consciência de que essa noite eu não iria conseguir dormir direito. Meus pensamentos estavam todos voltados para Willow.

Willow POV:

Ao ouvir todas as portas dos quartos baterem e ver pela brecha da porta as luzes se apagando, percebi que era a minha deixa. Então, andando de fininho, esvaziei a minha mochila da escola e coloquei várias roupas dentro dela para viajar.
Abri a porta do meu quarto devagar e fui até o quarto da minha mãe para pegar seu cartão dentro da carteira. Ela estava dormindo profundamente, nem ia reparar que eu estava ali.
Então, quando peguei todas as minhas coisas, finalmente fugi de casa. Era uma sensação muito louca. Eu estava com medo, mas também estava me sentindo mais livre que nunca. Todos iam se arrepender de terem mentido para mim.
Na rua, todo mundo me olhava esquisito. Com certeza se perguntavam "O que essa criança está fazendo na rua uma hora dessas?", mas eu nem ligava. Continuei de cabeça erguida e carregando a mochila nas costas até a estação de metrô.
Passei o cartão da minha mãe na catraca e nem precisei quebrar cabeça com senha, pois sempre era a data do meu aniversário. Então peguei o bilhete e fui direto para dentro do vagão. O metrô foi direto até a rodoviária, sem fazer nenhuma parada, me deixando cada vez mais animada para sair do Texas.
Ao chegar na rodoviária, não fazia ideia do que fazer, então decidi acompanhar o tumulto e ver onde ia dar. No balcão, a atendente estava vendo a identidade de todo mundo. Se ela visse que eu estava sozinha e que era de menor, ela não ia me deixar comprar a passagem. Foi aí que comecei a me desesperar. O que eu ia fazer agora? Eu precisava bolar um plano.
Tinha uma senhorinha atrás de mim na fila, ela me lembrava muito a minha avó. Talvez se eu pedisse para ela fazer de conta que estava me acompanhando, eu conseguiria comprar o ticket do ônibus. Agora era torcer para ela aceitar seguir a minha ideia louca.

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