Cinquenta e cinco

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Gizelly analisava através da janela do trailer como Rafaella estava há quase uma hora deitada entre o matagal, admirando o céu. Ela só pôde identificar pois ela havia deitado com as pernas para fora.

Gizelly não queria ir até lá, afinal Rafaella queria ficar sozinha, mas a menor sentia que parte de sua vida era sugada a cada segundo que estavam naquele clima ruim, então ela decidiu que iria até lá sim e, caso Rafaella não quisesse falar com ela, então ela esperaria.

Abriu a porta do trailer e caminhou até ela, parando em sua frente com uma expressão triste em seu rosto.

– Posso falar rapidinho com você? – Gizelly perguntou e Rafaella a fitou. – Eu vou ser rápida e prometo ir embora assim que eu falar.

– Como assim ir embora? – Rafaella perguntou rapidamente.

– Para o trailer. – Gizelly esclareceu e Rafaella suspirou aliviada.

– O que foi? – Rafaella indagou se sentando e Gizelly se jogou ao lado dela, empurrando matos compridos com o corpo ao se sentar.

– Preciso que acredite que eu não fiz de propósito. Eu sei que você não quer filhos agora, mas preciso que saiba que se você estiver grávida, nem que eu trabalhe dias seguidos, você vai ter uma gravidez segura.

– Não é que eu não queira um filho agora. – Rafaella disse e Gizelly segurou sua mão.

– Nos tempos antigos seria estranho ter filho com tão pouco tempo estando juntas. – Gizelly disse e Rafaella mordeu seu lábio inferior. – Você quer se certificar de que dará certo, não é? O transplante de cromossomo.

– Em um mês vai ser a primeira tentativa. E se der errado e eu estiver grávida? Não vou ter tempo de trabalhar tanto com uma criança.

– Suas amigas nos ajudarão nisso e, bem, eu vou estar lá. Não é como se você estivesse sozinha nisso. – Gizelly disse e Rafaella encostou sua cabeça no ombro da menor. – Mas pense por outro lado, talvez você não esteja grávida. Sua menstruação acabou antes de ontem, os óvulos estão apenas amadurecendo ainda. Temos mais chances do que se estivesse no período fértil.

– Mas mesmo assim, a gente transou muito. Conheço a porcentagem de chance de estar grávida. – Rafaella disse e Gizelly a olhou.

– Desculpe. – Rafaella negou com a cabeça.

– Eu que peço desculpas, não deveria ter falado daquele jeito com você. – Rafaella disse e Gizelly passou um braço pela cintura da maior. – E se tivermos um bebê ele será bem-vindo.

– E se estiver, bem, faltarão só quatorze. – Rafaella riu e se aconchegou nos braços de Gizelly.

– Não teremos quinze filhos, esqueça esse sonho. – Rafaella disse.

– Está bem.

– E se eu estiver grávida, o vírus voltar e nosso bebê for menino? – Rafaella perguntou baixinho, deixando sua respiração tocar o pescoço de Gizelly. – Da outra vez morreram mesmo na barriga das grávidas, Gizelly.

– Não vai acontecer. O babaca do Gripp morreu. Não teremos outra catástrofe dessas.

– Eu tenho medo. – Rafaella confessou e Gizelly a abraçou mais forte. – Se essa merda voltar pode me tirar você.

– Eu não vou a lugar nenhum. – Gizelly disse acariciando as costas de Rafaella.

– Obrigada. – Rafaella sussurrou, sentindo um beijo em sua testa antes do silêncio se instaurar.

– Amor, estamos no mato. Podemos dar uma aqui para nos despedir com estilo. – Gizelly disse e Rafaella riu.

– Você não sossega esse pinto.

– Confessa que você gosta dele que eu sei. Ele é charmoso e bonitinho. – Gizelly disse.

– Ele é lindo. – Rafaella disse rindo. – Mas vou ficar com ciúmes desse amor incondicional todo que você nutre por ele.

– Amor só por você. – Gizelly disse e Rafaella ergueu a cabeça apressadamente.

– O que disse?

– Que amor só por você. – Gizelly disse, esboçando um sorriso singelo. – Não sei quando virou amor, mas eu te amo. – O coração de Rafaella acelerou e ela ficou sem expressão por algum tempo, até que finalmente sorriu abertamente. – Por isso vim me desculpar, levei semanas para voltar a te beijar, não quero te perder de novo.

– Está dizendo isso só para transarmos aqui? – Rafaella perguntou brincando.

– Rafaella, não pode levar tudo na brincadeira o tempo inteiro. – Gizelly disse o que Rafaella havia lhe dito uma vez e a maior riu.

– Eu tenho duas coisas para te falar. – Rafaella disse antes de depositar um beijo nos lábios de Gizelly. – Uma é que eu também te amo.

– E a outra?

– Não iremos transar no mato. – Gizelly olhou para o meio de suas pernas e suspirou.

– Ele é perversa, viu só, meninão? Deu a notícia boa para logo tacar gelo no meu rabo.

– Para de falar com ele como se ele fosse uma pessoa, Gizelly. – Rafaella disse e Gizelly negou.

– O meninão é da família, Rafa. Eu sei, as meninas sabem e você também. – Gizelly disse naturalmente.

– Você está louca. – Rafaella disse se levantando.

– Ele foi meu único companheiro por anos. Não me critique. – Gizelly disse se levantando também. – É tipo onde o náufrago fala com uma bola, mas no meu caso são duas.

– Fica quietinha, meu amor. – Rafaella disse rindo, entrelaçando seus dedos nos da menor. – Agora vem, é hora de irmos embora. Adeus meio do nada e olá grande cidade.

– Sabe que vou precisar me esconder lá, não é?

– Só por esse mês, estou apostando no transplante e aí todo mundo vai poder ter filho e vão deixar minha namorada gostosa em paz. – Rafaella disse sorrindo e Gizelly assentiu.

– Se me pegarem e decidirem assassinar a dona do último pênis, peça para cortarem ele fora, não quero morrer. – Gizelly disse e Rafaella riu, começando a caminhar de mãos dadas com a maior de volta para o trailer.

– Estou ouvindo ele reclamar dizendo que isso é traição, porque ele diz que é da família. – Rafaella disse e Gizelly assentiu.

– Ele é, mas tenho chances de ser mãe, prefiro viver sem pinto do que não conhecer meu bebê. – Rafaella se virou para ela e sorriu encantada.

– Ele ajudou nesse processo. – Rafaella disse.

– Mas minha namorada é cientista e encontraria um jeito de ainda usar meus cromossomos Y mesmo sem o meninão. – Gizelly disse orgulhosa. – E ainda quero conhecer meu bebê.

– Sabe que ouvindo você falar assim dá até vontade de torcer para dar positivo? – Rafaella perguntou fitando as orbes avelãs.

– Então vamos voltar para o mato e foder o resto do mês todo lá que esse positivo sai. – Rafaella negou e selou os lábios de Gizelly.

– Não iremos transar.

– Droga. – Ela disse, deixando seus ombros caírem.

– Droga, comprei um binóculo a toa. – Manu gritou da janela do trailer ao lado e Rafaella a fuzilou com os olhos.

– Manu!

– O quê? Eu queria ver ele em ação.

– Veja pornô.

– Gosto de viver perigosamente, dá licença. – Ela disse entrando e Rafaella negou com a cabeça. Estava cercada de loucas.

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Temos mais dois capítulos e o epílogo para finalizar.

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O último pênis - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora