Prólogo parte l.

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🃏 Jackson Becker 🃏


Mais um dia de trabalho chega ao fim. O céu está fechado e a chuva cai sem parar. O vento gelado sopra e meu corpo estremece. Visto o meu casaco, abro o guarda-chuva e saio da fábrica. Nada vai me impedir de ir para o cassino.

Hoje foi dia de pagamento. Eu sigo minha rotina, caminho pelas ruas agitadas e iluminadas de New York. Pessoas voltam do trabalho, casais apaixonados andam abraçados, e eu aqui: solitário, indo para o local onde costumo me distrair das burradas que cometi na minha vida e continuo a cometer. Não me canso de tentar atrair a sorte. É como uma fome, uma urgência por uma esperança cega de voltar a ser mais do que agora sou.

Perdi todo meu império, e junto com ele minha família. Ilana, o grande amor da minha vida, não apenas me deixou, como também levou com ela nossa linda e doce Valentina.
Graças a esse maldito vício de apostas em jogos de azar, ela não suportou viver como eu vivo. Depois de anos, o jogo é tudo o que sobrou. Lembrar da partida delas me entristece, mas, ao mesmo tempo sei que ela fez o melhor por ela e por nossa filha.

Eu tento não jogar. Juro que tento. Mas o desejo e ambição de ter meu império de volta é mais forte do que eu. Luto comigo mesmo, mas essa é uma batalha que já perdi há muito tempo e sempre acabo aqui. O que ganho no trabalho venho apostar na esperança de recuperar o que já perdi. É inevitável, eu sempre acabo fazendo merda. 

Essa noite não será diferente. Alguns minutos de caminhada e estou parado em frente às luzes do cassino. Sinto meu coração acelerar e meus dedos coçam para segurar as cartas. Minhas pernas cruzam a linha tênue entre a ética e a moral, e não há mais volta.

Comecei a noite com sorte, estou ganhando todas. Sinto que hoje, enfim, será o meu dia de sorte! Pego o uísque e viro o restante do copo. É hoje que eu vou recuperar minha vida, minha glória e mandar um pouco de dinheiro para minha filha. Preciso ajudar, de fato, em sua criação. Estou muito ausente, sei disso, nunca fui capaz de ajudar minha ex, e sei que elas passam muita coisa por causa disso.

Ilana é uma mulher espetacular. Tão boa que não demorou a ver o poço sem fundo de miséria para qual eu a estava a arrastando. Certamente Valentina se transformou em uma boa moça. De qualquer forma, hoje, enfim, poderei levantar a cabeça e ir finalmente visitar a minha filha. Só falta um jogador

O dealer distribui as cartas. Recebo um sete e oito de espadas. Não é a melhor das mãos, mas vou continuar no jogo. Afinal, uma sequência é sempre uma sequência.
Ele distribui o flop sobre a mesa. Dez, valente e dama de espadas!

Não tem erro! "Straight flush!" Vou me dar bem e voltar a ter uma vida decente.
Aposto todas a minhas fichas. O babaca pagou pra ver. Vem pro papai, dinheiro, eu tenho planos pra você.

Eu estou sorridente enquanto olho para outro jogador. Ele revela suas cartas. "Royal Flush!"
Sinto o meu sorriso sumir por completo, a alegria que era pra ser minha, agora está no rosto do meu adversário. Puta merda! Eu perdi... Como isso foi acontecer? Estava tudo ao meu alcance, tudo indo na direção certa! Como vou fazer para pagar?

Sinto o suor acumular em minha testa e escorrer por dentro da minha roupa, estou tentando achar o melhor jeito de dizer que não tenho dinheiro.

Com que cara vou olhar para minha filha? Agora, com certeza, me sinto como se fosse soterrado vivo. Perdoe seu pai inútil, minha filha, mais uma vez eu te decepcionei e não vou ter coragem de encará-la. Não depois dessa noite...

Tenho poucos segundos para pensar o que vou fazer. Ele está rodeado de homens, que não sei se estão em sua companhia. Penso em jogar a mesa em cima dele e sair correndo, mas isso seria insano demais, até mesmo para mim. Agora, o que vejo são formas cada vez mais criativas de morrer.

Respiro fundo e só tenho como alternativa criar coragem de dizer:

— Eu não tenho dinheiro. — Sinto que me voz está mais trêmula do que eu gostaria.

O meu adversário me olha furioso e, de repente, saca sua arma e aponta em minha direção. Quem é esse homem que traz uma arma ao cassino? Como ninguém o impede?

Todos em volta ficam de pé, espantando com a arma em minha direção e cercados pela tensão quase palpável no local. Não demora muito para que o alvoroço comece. Cadeiras são derrubadas e fichas se espalham pelo chão. Enquanto os gritos ecoam pelo salão, a única coisa que escuto é a minha própria voz.

— Calma, não precisamos partir pra violência...

Ele puxa o cão da arma.

— Eu não tenho dinheiro... mas...

— Mas o quê?

— O que eu tenho é o meu bem mais precioso.

O que estou fazendo?

Sinto espasmos nervosos se alastrarem com o suor frio. Os olhos infantis dela vieram à minha memória.

♠ Marcelo Clark ♠

— O velho ainda me pede calma, John! — digo ao meu advogado. Viro para o sujeito do outro lado da mesa, que certamente não tem ideia de que já o conheço:

— Você era o poderoso magnata Jack Becker, tinha várias empresas, bens e agora não tem meu dinheiro? ─ Ele me olha e seus olhos castanhos estão tomados pelo pânico e marejados. Acho que a perda do patrimônio afetou a saúde mental do maldito. A sua pele clara já mostra os sinais da idade, mas ele não é tão velho. Como pode estar tão acabado? O cabelo grisalho está todo bagunçado. Ele mesmo desarrumou com o desespero. Era um titã dos negócios, e agora parece um mendigo perturbado.

Eu respiro fundo e encaro o homem e volto a falar:

— Você sabe quem eu sou, Jack!?

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo ♣ ♥ ♠ ♦

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