A MISSÃO DE ERIK

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♦️ Erik Ludwig ♦️

— Não sendo uma missão suicida como a que vocês fizeram no Brooklyn, sou todo ouvidos. — Respondo para Marcelo. As mulheres cochicham entre elas, como se não tivessem interesse em nosso assunto. Talvez seja uma boa tática das duas, para Marcelo se sentir confiante para falar abertamente.

Estou realmente impressionado com a frieza de Valentina. Ela está se saindo melhor do que imaginei em nosso plano. Parece realmente ser capaz de domar Marcelo.

— Marcelo, coma, vai esfriar. — Tina voltou sua atenção ao perceber que o marido ainda não tocou no prato.

— Vou esperar o imprestável do Túlio mandar o seu jantar. Não vai jantar sozinha.
Ela se inclina sobre a mesa e aperta as bochechas dele.

— Meu amor, desse jeito até parece que você é um verdadeiro cavalheiro. Mas sei o que esconde por trás da máscara. Não precisa fingir na minha frente, faça companhia aos nossos convidados.
Tina dá um selinho, pega o garfo e leva a comida até a boca de Marcelo.

— Amor, fiquei com inveja deles, me deixa tratar de você também.
Ouvir aquela palavra de Samantha foi inesperado, e ver ela com o garfo na minha frente me paralisou.

— Não seja tímido Erik, até mesmo os brutamontes tem seu lado sutil. E não resiste ao charme da sua mulher, não deixe Sam com inveja, realize a vontade dela.

Valentina fala animada, o que me decepciona. Não era isso que esperava ouvir dela. Minha amiga aproxima mais o garfo e então eu abro a boca e a risada das duas ecoa pela sala de jantar. A chegada do chefe com o prato de Valentina encerra a gargalhada.

— Mil perdões pela espera, senhor e senhora Clark... Serei mais cuidadoso de agora em diante com suas refeições. Pedirei para que faça uma lista do que gosta ou não. Se tiver mais alguma alergia a qualquer coisa, por favor, inclua nesta lista. Espero que goste do seu Tagliatelle ao limão, bom apetite.

Com a saída do chefe, Valentina e Marcelo enfim começam a jantar. Marcelo, hora e outra, pedia um pouco da comida dela, fazendo-a tratar dele, na boca. Vendo a maneira que ele age e sorri, sinto revolta e nojo. Ele é igual à maldição do pai.

Depois do jantar — e de comermos a sobremesa — enquanto elas falavam de roupas e bolsas, dou um sinal para minha amiga por baixo da mesa tocando seu pé.

— Marcelo e Val, o chefe arrasou nessa torta gelada de chocolate com morango. Eu amei. Já está tarde, adorei passar um momento com vocês. Mas agora preciso ir. Amanhã eu trabalho. Vamos repetir esses encontros.

Apertei a coxa dela. Ela sorri e se levanta para despedir do casal.
— Venha visitar Valentina sempre que quiser, será bem-vinda em nossa casa. Erik, leve-a, e quando retornar, me procure no meu escritório.

Marcelo avisa e sobe com a esposa, deixo Sabrina em sua casa, volto para a mansão e vou direto para o local da reunião. Bato na porta e entro.

***

Segui as instruções de Marcelo, que me ordenou a dar um xeque mate em Kozlov. Às quintas é o sagrado dia de suas partidas de golfe no Forest Of Park. Me ajeito mais cedo que o previsto da chegada deles. Fico de tocaia em um dos anexos da Jackie Robinson Pkwy e observo o movimento à espera da chegada do alvo. Vejo ele à distância, cercado por seguranças à paisana, que logo se espalham pelo campo. Armo o fuzil de precisão ainda dentro da van e me posiciono entre algumas árvores na beira da estrada. Por trás da lente faço os ajustes necessários e fico no aguardo. Faz tempo que não ficava atrás de uma dessas, mas a adrenalina e a palpitação no coração não muda.

A vida de mais uma pessoa será ceifada por minha arma. O tempo passa e nada dele chegar no buraco propício ao meu tiro. Segundo os informantes de Marcelo, o buraco 17 é onde ele sempre fica vulnerável.

Quando estou pensando em ligar para Marcelo, Kozlov entra na minha mira e, para minha surpresa, não está sozinho. Em sua companhia vejo Declan Strauss. Parecem muito íntimos, o que me deixa com a pulga atrás da orelha. Eles olham o tempo todo o relógio, fico em alerta com o dedo no gatilho. Conversam e sorriem abertamente, Kozlov abre os braços e me preparo para dar o tiro.

Com o dedo já apertando o gatilho, vejo minha irmã pular em seus braços. Desvio o cano da arma no último instante. Acerto o ombro de Kozlov e uma pequena confusão se inicia. Deixo o local às pressas.

Que diabos Evelyn estava fazendo ali? Que ligação ela tem com os russos e os Strauss?
O que aquele velho fez?

Com a cabeça a mil, dirijo de volta à mansão de Marcelo, pensando em como explicarei meu erro proposital. Se ele souber do envolvimento de minha irmã com um dos seus maiores inimigos, isso desencadearia uma porção de problemas. Tanto ela quanto eu entraríamos em sua lista de possíveis alvos. Ainda não é o momento para perder sua confiança.
Procuro por ele imediatamente ao chegar na mansão. Sou avisado por um dos guardas que ele não está em casa.

Subo apressado à procura de Valentina que, por algum motivo, é a primeira pessoa que vem em minha cabeça.

— Luke, por favor, faz o mesmo daquele dia para mim.

Aviso e entro em seu quarto. Ela está deitada na cama. Não é normal uma garota ter tanto sono assim.

— Tina, por favor, acorde. Preciso falar com você. — Ela levanta coçando os olhos e me olha com preocupação.

— O que aconteceu, Erik? Você se machucou? Está pálido.

Ainda sonolenta, ela me examina à procura de algo que não existe.

— Eu estou bem, não estou ferido... Mas fiz uma grande merda... Não matei o homem que deveria ter matado...

Ela respira aliviada e me abraça apertado. Eu correspondo.

— Não pude fazer, minha irmã estava ao lado dele. Não sei o motivo, mas, se Marcelo souber sobre isso, vai ser um desastre. Vai mandar matá-la.

Com seu gemido, eu afrouxo meus braços em suas costas.

— Me perdoa, não quis te machucar, Tina. Vi Declan Strauss se reunindo com meu alvo. Ele é o nosso aliado que tinha comentado para tirá-la daqui. Só que agora eu não sei o que isso significa. O jogo está ficando perigoso, e nós estamos no fogo cruzado. Posso ser abatido de qualquer lado. Quero te proteger, e te deixar livre, mas agora tem minha irmã que também pode precisar da minha ajuda.

Sinto os lábios quentes dela, nos meus. O beijo calmo, isso me acalma e logo se encerra e ela abre um sorriso.

— Está mais calmo? Não vai te acontecer nada, eu não vou deixar. Conta-me, o que posso fazer para te ajudar?

Eu lhe dou mais um beijo e volto a falar:

— Tina, você é a rainha. Consegue manipular Marcelo como nunca imaginei que faria. Como disse, minha irmã tem relações com nossos aliados e com os russos. Ele não sabe que tenho irmã. Mas, se descobrir e saber que ela tem ligação com os russos, vai matá-la. Quero que a proteja. Eu estou com medo do que está por vir... Não quero perder você, e as mulheres da minha vida. Ela e minha mãe eram meus grudes favoritos.

— Eram? Deixou de ser por quê? — Pergunta.

— Não deixaram de ser meu amor, a lista só aumentou. Porque você entrou nela. Marcelo vai entrar numa guerra e eu estarei envolvido. Posso ser traído, e não sei como será o final disso. Preciso da sua ajuda para seguir tranquilo com nosso plano.

Eu exponho meu medo e preocupação. Ela me tranquiliza dizendo que fará de tudo para garantir a proteção de Evelyn.

— Eu vou te ajudar com essa notícia que irá dar a ele. Vou garantir que não reaja mal a sua revelação que falhou em cumprir sua ordem.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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