Valentina e seu delírio.

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♥ Valentina Becker ♥

Eu estava úmida da cabeça aos pés.

O inverno rigoroso do lado de fora das janelas me desanimam por deixar a água tão fria.
É horrível tirar a agulha do braço e ver que o sangue voltar pelo tubo.

Embaixo do chuveiro morno deixo o jato molhar minha nuca. Relutante, visto um pijama de mangas compridas e um short que achei no closet, então retorno para o quarto, torcendo para que ele não venha.

Com calma, mas ainda um pouco zonza, troco a roupa de cama molhada.
Suspiro alto quando finalmente posso me deitar.

Sinto-me leve, o corpo envolvido por lençóis cheirosos e pelo silêncio. É fácil adormecer assim, então fecho os olhos e estou em Berna.

***

Minhas galochas fazem um barulho engraçado quando piso no chão molhado, os montes de neve ladeando as calçadas são familiares e os flocos brancos caem ralos do céu de prata.
Estou indo para casa com uma sacola de compras, as baguetes despontam do saco de papel pardo, estavam quentinhos quando comprei, mas estão esfriando na brisa, então tenho que chegar logo.

A porta abre sem esforço e deixo minhas botas ao lado dela, minhas meias encontram o piso liso e escorregam um pouco.

— Cheguei! — Anuncio, minha voz se perde na casa junto com uma melodia bonita tocada num violão.

Não é o tipo de música que mamãe escuta, mas agrada aos meus ouvidos.
Ao chegar à cozinha, não a vejo.

Em seu lugar e com o foco em algo fumegante no fogão, há um homem muito alto e largo em trajes pretos e botas pesadas.

Meu coração acelera e sinto medo a princípio, mas então o par de olhos azuis emoldurados por uma barba loira se viram gentis para mim. Ele está fazendo ovos.

— O que está fazendo aqui? — Idago e aperto as compras contra o corpo, como se fossem me proteger.

— Como assim? — Retorna sua atenção à frigideira. Não consigo sentir o cheiro. Ele encara o relógio por alguns segundos. — Achei que fosse gostar de um café antes de eu ir trabalhar.
Erik então se vira para mim com um volumoso omelete nas mãos, despejando-o em dois pratos. Embora esteja com as mesmas roupas que usava quando invadiu a casa de Klaus Bohn, a palavra "Polizei" — Polícia — Está escrita em seu colete em letras grandes e brancas. Ele parece feliz, e me olha com carinho como se fôssemos algo um do outro. Isso é estranho, demasiado estranho.

— Onde está mamãe? — Pergunto, fingindo estar apenas curiosa. Ele franze o cenho como se eu estivesse dizendo um absurdo.

— Na casa dela.

— O que houve com o Marcelo?

— Quem? — Erik ergue uma sobrancelha, visivelmente confuso. Então dá a volta no balcão da cozinha e não consigo recuar com o corpo engessado. Não consigo sentir o cheiro de canela de seu hálito quando tira de mim as compras com gentileza e as coloca sobre a superfície de madeira. — Quero que relaxe agora, Valentina...

A boca dele se curva num sorriso e sinto seus lábios nos meus. O beijo estala quando nos separamos por alguns momentos e ele tem o gosto de Marcelo.

A barba arranha meu rosto e meu pescoço quando ele desce um pouco mais, provocando um arrepio.

Sem minha permissão, minhas próprias mãos entram em seus cabelos macios e recém-cortados. Num flash, Erik não está mais lá, mas ainda sinto o rastro de seus beijos descendo pelo meu abdômen e o contraio por reflexo.

Sinto vontade de corresponder, meu corpo reage naturalmente, porém, me vejo sendo puxada da cozinha para um limbo escuro e distante.

O calor se acumulando entre as pernas ainda é presente e se intensifica misturando-se com um arrepio de frio.

Algo molhado e morno desliza naquela parte do meu corpo que nunca foi vista ou tocada.
Com os olhos fechados, no escuro, deixo escapar um suspiro quando sou "sugada". O formigamento faz meu interior se apertar e minhas mãos agarram o lençol e a borda do colchão para conter as respostas involuntárias.

Estou em chamas e não sei por quê! Um grunhido grave e masculino de deleite vibra sobre minha pele, e ouço outro estalo de um beijo, mas não é em meus lábios.

— Você gosta?

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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