IMPONDO REGRAS l.

79 2 0
                                    

♥ Valentina Becker ♥

Acordo com o corpo pesado, olho em volta e não vejo ninguém. Vejo que estou novamente com um cateter no braço e uma bolsa de soro. Com dificuldade me sento na cama e me recordo do que aconteceu, e a incerteza do certo ou errado é perturbadora. Será que consegui tocá-lo como gostaria? Qual deve ser meu próximo passo? Não devo agir de forma que ele suspeite, devo agir de maneira natural. A primeira carta eu lancei, vou esperar para ver qual será sua reação.

Permaneci no quarto lendo. Arlete vinha trazer as refeições e eu tentava não olhar para ela para não constrangê-la. Marcelo  não apareceu mais, Erik também não…

A porta do meu quarto se abre e lá vem Arlete com a bandeja. Volto a atenção ao meu livro.

Ela coloca a bandeja na mesa de cabeceira e então mexe no soro.

— A senhora ainda não tomou banho, né?  — Sou surpreendida com ela puxando conversa.

— Não, me sinto fraca e tenho dificuldade em me mover. — Respondi.

— Eu ajudo a senhora, o banho irá lhe fazer bem. E depois, coma o seu lanche que vai melhorar. — Falou já desconectando a mangueira do cateter.

Com sua ajuda, fui para o banheiro e me sentei no vaso.

— Erik me pediu para te entregar isso. — Ela tira do avental uma caixa retangular preta.

Fico curiosa e então a abro e vejo uma caneta com minhas iniciais. Junto dela há um papel.

"Carregue essa caneta sempre com você, assim saberá que estou sempre ao seu lado. Ela tem uma escuta. Se sentir medo ou insegura, aperte uma vez e eu vou saber o que está acontecendo. Vou avaliar a situação e agir se necessário."

As lágrimas rolam ao ler as palavras. Ele realmente se importa comigo… Jogo o papel na patente e dou descarga.

— Não chore minha menina, vai ficar tudo bem. Fica calma, vamos tomar um banho. — Arlete fala com sua voz suave e me ajuda a despir…

Senti vergonha em mostrar meu corpo a ela, os hematomas ainda não tinham sumido por completo. Ela não falou nada e cuidou de mim como minha mãe costumava fazer… depois do banho, ela me ajuda a se secar e então me enrolo no roupão e guardo a caixinha que recebi no bolso. Volto para o quarto. Arlete vai até o closet e me traz uma roupa. Visto a lingerie e em seguida o pijama de cetim bordô.

— Coma, e depois vá descansar. Amanhã se sentirá melhor, você vai ver. Se precisar de mim, sabe que é só me chamar.

Abraço Arlete como se estivesse diante de minha própria mãe.

— Obrigada. Não sabe como é bom poder falar com você de novo. Me perdoa se eu te causei mal…

Ela afaga minhas madeixas para me acalmar.

— A culpa não é sua. Não pense mais nisso. Amanhã eu venho te ver. — Ela me dá um beijo na testa e me sinto aliviada. — Boa noite querida.

Como o lanche, escovo os dentes e coloco a caneta embaixo do travesseiro. Finalmente consigo dormir sem medo.

Acordo no dia seguinte com o canto agradável de um cardeal na janela. O relógio ainda marcava 05:30 am. Me espreguiço e pego meu "presente". Me sinto ainda mais animada.

Levanto e vou ao banheiro, tomar um banho e fazer minha higiene. Coloco um conjunto moletom preto e calço meu tênis. Antes de sair do quarto, guardo a caneta no bolso.

Me deparo com o rapaz loiro que fez a minha escolta de volta. Erik nunca sai de perto de mim… Será que Marcelo  fez algo?

— Bom dia, onde está o Erik? Por que você está fazendo minha segurança e não ele? — Sinto o nervosismo crescer em mim.

— Bom dia, senhora, Erik está no quarto descansando. – Respiro aliviada. — Logo trocaremos o turno e ele vai assumir o posto novamente. — Explica o rapaz.

— Quero sair para fazer uma caminhada pelo jardim, pode me acompanhar?

Ele me olhar surpreso.

— Bom dia, se quiser ir descansar, eu assumo agora. — Ver Erik e ouvir sua voz faz meu interior reverberar.

— Bom dia, ele irá me escoltar na minha caminhada pelo jardim, você fica aqui. — Falo e dou um sinal para o rapaz me seguir.

A verdade é que queria muito Erik ao meu lado, mas isso causaria irritação em Clark. E agora é exatamente o que preciso evitar a todo custo. O rapaz me segue em silêncio e mantêm uma distância. O vento está gelado, mas só de poder sair um pouco daquele quarto me sinto viva.

Caminho pelo imenso jardim e os olhares dos seguranças nos acompanham. Me sento em um banco de frente para a fonte de água, cardeais vermelhos cantam e salteiam sobre a borda congelada do chafariz, deixando o cenário menos sombrio. Gostaria de poder tirar fotos e registrar, mas não tenho mais meu celular…

— Senhora, vamos entrar, está frio e você ainda está se recuperando. — Não mensurei por quanto tempo estou aqui. Mas é tempo suficiente para fazer meu queixo tremer.

Coloco o capuz da blusa e volto para meu "cativeiro". Ao entrar, ouço uma voz feminina desconhecida.

— Ah, não acredito que essa pirralha ainda está aqui. Ele ainda não se cansou dela?

♣️♥️♠️♦️Contínua no próximo capítulo. ♣️♥️♠️♦️

Sem EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora