NÃO TENHO CERTEZA DE SUAS DECISÕES.

87 3 0
                                    

♦ Erik Ludwig ♦

Fiquei irritado durante as horas do maldito jantar. Eu não podia vê-los e nem ouvi-los, mas a maneira que ele olhou com lascívia ao descermos foi difícil de engolir. Ela deve ter se saído bem e tido uma conversa de modo civilizado, visto que o jantar foi mais longo do que eu imaginei que seria.

Na volta para o carro o infeliz me fez dirigir, ele não se cansa de me punir. Ao chegar em casa, achei que eu teria uma noite de sono, mas após acompanhá-los até o quarto, vi que não seria assim.

Eu fui escalado para guarda. Torcendo para não ouvir os gritos dela. Se ele fosse longe demais, eu não sei se conseguiria me controlar, ainda mais depois da maneira como ela me olhou antes do jantar, demonstrando o seu medo e repulsa por Marcelo.

Os minutos se passaram e lá dentro está silencioso, será que ele desistiu?
Foi quando a porta do quarto se abriu e Arlete apareceu, falando para eu entrar a pedido de Valentina.

Estranhei, afinal Marcelo está com ela, então por que me chamaria?
Entro e fecho a porta. Me deparo com ela deitada no sofá com os sinais dos dedos do maldito em seu pescoço, ele está caído sobre ela.

Me surpreendo com a resposta que me deu sobre o que estava fazendo. Mas seu pedido me deixou sem ação, seu corpo delicado exposto a mim em uma lingerie me fez engolir seco. Seu olhar é determinado e isso me causa arrepios. Eu neguei a todo custo em fazer o que me pediu. Mas o seu desespero e lágrimas penetrou meu coração.

Indo contra meus próprios princípios, fiz conforme desejou, dei tapas e a segurei com força, a cada tapa e apertão sua pele ficava marcada, deixando meu coração em pedaços. Ela com um lenço na boca para conter o barulho dos seus gemidos me destroça.

Não bastou tudo isso e Valentina ainda me pede para manchar a porra do lençol... e então, a ficha caiu. Entendi o motivo de se punir. Ela é inteligente e está começando a aprender a fazer o que é preciso para sobreviver, como ela mesmo disse.

Sinto ódio ao vê-la deitada ao lado dele. Só que, mais uma vez, ela se levanta e me surpreende, pisando em meus pés para unir nossos lábios num beijo calmo e gostoso. Meu coração bate descompassado, minhas mãos suam e meu nervosismo fica claro.

***

Passei a noite toda com a imagem dela me rondando, e seu gosto ainda está presente em minha boca. Foram horas tranquilas de vigilância. Fui tirado do meus pensamentos com gritos de medo, e então ela começa a falar sem parar. Clark sai de seu quarto irritado. Ela conseguiu se livrar dele, na noite passada, mas o que ela vai fazer na próxima tentativa?

Logo depois, Arlete sobe com a bandeja e me avisa que Marcelo mandou se preparar para voltar a Dover. Compreendê-lo é uma coisa cada vez mais difícil de fazer.

A governanta entra com a bandeja e Valentina sai em seguida, feito um furacão só de roupão escada abaixo, o que me deixa com o coração na mão. Eu a sigo e a vejo entrar no escritório. Eles começam a discutir de novo, Valentina faz um escândalo, então entro junto dos seguranças.

Deparo com Marcelo apertando a pistola contra o crânio de Valentina. Sinto vontade de socá-lo até a morte. Esse maldito não sabe lidar com ela sem segurar uma arma?
Eu me contenho para não piorar a situação. Abraço Valentina pela cintura e, depois de pegá-la no colo, a arrasto escadas acima.

— Você perdeu o juízo? — Falo e ela não responde. — Arlete, ajude-a se arrumar, eu venho buscá-la em 10 minutos.

Fecho a porta e desço novamente para preparar o carro. Me deparo com Marcelo na garagem.
— Erik, não volte de Dover até que eu mande. Cuide dela, se algo acontecer, já sabe o fim que te espera. — Falou e me deu as costas. Fui falar com Luke.

Expliquei por cima a situação e mandei preparar o carro, pois eu a levaria junto da escolta do comboio.

Vou até meu quarto e preparo minhas coisas. Levo para o carro e volto até Valentina. Bato na porta e entro, ela estava terminando de se vestir. Ao me ver já pega sua mala e me entrega. Seguimos para o carro e Marcelo não aparece para se despedir. Valentina entra no carro, guardo sua mala e dou partida. Ela não abre a boca, seu olhar está fixo na paisagem. Depois de uma noite agitada, seguida pela manhã, não é nada mal dirigir em silêncio.
***

Se passaram duas semanas, a rotina de Valentina é a mesma, biblioteca e quarto. Alguns dias depois que chegamos, Arlete substitui Helga a pedido de Valentina. Ela se sente melhor sob os cuidado da amiga. Já, a contragosto, Helga não pareceu feliz em ir para a mansão.

O dia se passou tranquilo como os outros. Já era tarde e a casa estava silenciosa. É até estranho essa calmaria enquanto a guerra de Marcelo acontece pelo Brooklyn. Ele está tendo pequenas vitórias como planejado. Logo, seu ego vai se inflar o suficiente para colocar em prática o plano principal, que foi interceptado por Valentina.

Ela ainda estava na biblioteca, e eu parado do lado de fora pensando sobre isso, quando, de repente, a porta se abriu.

— O que foi? Precisa de alguma coisa?

— Precisamos conversar. – São suas únicas palavras antes de voltar para o interior da biblioteca.

Eu dou um tempo, avaliando a situação, reflito e empurro a porta. Ouço uma música vindo de lá de dentro, "Head Above Water", Avril Lavigne, soando baixa e agradável. Não a vejo na escrivaninha, nem em nenhum dos amplos sofás de estampa verde escura. As lâmpadas amareladas nas altas prateleiras tomam a tarefa de clarear o ambiente. Nunca entrei aqui, e o lugar parece aconchegante.

Passo os olhos ao redor até encontrar o que estava procurando. Usando um vestido justo e preto, de mangas compridas, com as coxas cobertas por meias grossas de tricô três oitavos, Valentina está a alguns metros do chão, sobre a escada estreita com o braço esticando-se sobre uma fileira de livros. Está trêmula, temerosa de cair, os degraus parecem um pouco frágeis e rangem sempre que ela se mexe, tentando alcançar o livro verde.

Aproximando-me em silêncio com as mãos nos bolsos, me permito apreciar a cena. O vestido curto não cobre tanto, posso ver onde as meias terminam e a pele das coxas começam, se eu der mais um passo vou conseguir enxergar a calcinha enfiada entre elas.

Ela não se importa com minha presença, e com cuidado tira o exemplar da mesma enciclopédia que a flagrei lendo certa vez. Está fazendo seu dever de casa, mas o estudo não se fixa na mente sem prática.

Seus pés inseguros descem os degraus com cuidado, suas mãos estão agarradas às laterais da madeira, então, para dar uma "ajuda", fecho meus dedos em sua cintura fina.
Ela se assusta na hora, se agarra à segurança da prateleira mesmo já estando a três degraus do chão.

— Calma... — digo encarando o traseiro dela a centímetros do meu rosto. Ela olha para trás, com alívio. — Só quero te ajudar... O que quer falar?

— Tem notícia do Marcelo? Ele me mandou para cá, mas eu tenho que ficar perto dele, precisamos saber do seu plano. — Pergunta passando as mãos pelos cabelos.

— Nenhuma notícia, a única coisa que ele me disse é que não era para voltar enquanto ele não mandasse. Você, mocinha, foi esperta por um lado, mas causou isso... agora teremos que repensar no que fazer. — Falo e ela me olha receosa.

— Eu tenho uma ideia para me redimir com ele, mas preciso de sua ajuda.

— Tem certeza que essa ideia sua é boa? Porque eu não tenho certeza das suas decisões.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

Sem EscolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora