Conflitos, revolta e o acordo parte ll.

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♥ Valentina Becker ♥


Nem havia dito as palavras e já sentia a dor. Sento-me no sofá, cansada. 

— Eu quero fazer um acordo.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Deixe os meus pais em paz, prometa que não vai machucá-los e eu faço o que você quer.
Marcelo fica parado, mas posso ver que foi pego de surpresa.

— Sério? — indaga, ainda desconfiado. — Quer ajudar o homem que te vendeu?

— Por mais que dentro de mim eu tenha plena certeza de que Jack Becker não merece o meu sacrifício, ele me deu a vida, então é justo que eu salve a dele.

— Quase nobre da sua parte...

— Nem todos são como você, Clark.

— São mais do que imagina, eu só sou mais honesto nesse aspecto.

— Que se dane — interrompo. — Você quer... sexo. Não é?

Ele deixa escapar um sorrisinho e se aproxima.

— Ah, Valentina... — Diz quase com ternura, seus dedos erguem meu rosto para que eu o encare. — Eu quero muito mais que isso.

— Então diga, eu quero saber exatamente o que você pretende.

A luxúria brilha em seus olhos e de imediato me arrependo de ceder.
Ele afaga meu rosto com as duas mãos agora.

— Você faz ideia de como esperei por essas palavras? — Sinto meu corpo cada vez mais pesado e pergunto:

— O que você quer agora?

— Venha comigo. — Ele pegou meu braço com força e segurou minha mão.
— Aonde?

— Vamos anunciar a todos que você é minha noiva.

Agora o pesadelo se tornará real. O primeiro passo em direção ao precipício. E ele ainda quer anunciar?

Esse é o meu fim e o olhar de Marcelo diz que ele sabe disso.

Os planos que eu tinha, estudar, trabalhar, encontrar alguém para passar a vida, estão cada vez mais distante agora.

O contrato matrimonial ainda pousa sobre a mesa e ele o pega e o traz para perto de mim. Então me entrega uma caneta de luxo.

— Achei que só quisesse um noivado essa noite.

— Para o resto da casa sim, mas, entre nós quero garantias de que vai cumprir com a sua palavra. — Ele coloca o contrato sobre a mesinha de centro. — Vamos, Valentina. É só escrever seu nome e seus pais estarão seguros pelo resto da vida. Você tem minha palavra, mas só se assinar.

Meus dedos estão trêmulos. Assim que eu colocar meu nome nesse pedaço de papel, vou estar presa a Marcelo por sabe-se lá quanto tempo.

Minha liberdade, minha inocência... distanciando-se cada vez mais de mim a cada centímetro que a ponta da caneta avança para o documento.

Penso em mamãe, a única pessoa que já me amou na vida. Penso no que Marcelo pode fazer a ela, e em como seria fácil feri-la.

Mamãe se sacrificou tanto por mim, fez coisas inimagináveis apenas para me manter segura. Era a minha vez de retribuir.

Desenho meu nome naquela linha com todos os sentimentos que colidem dentro de mim.

— Viu? Não foi tão difícil. — disse Marcelo puxando a folha e analisando minha assinatura.
— Um dia você vai pagar por isso, Clark. — Deixei sair as palavras, ainda que baixas. — Nisso você tem minha palavra.

— É o que veremos, meu amor.

Meu rosto se contorce em desgosto. Ele abre a porta e em seguida encontramos minha mãe do lado de fora.

— Nós acompanhe até o salão, Ilana . — Ele fala me puxando pelo braço.

— O que você vai fazer?

— Logo todos saberão.

Descemos as escadas em silêncio total, só se ouvia o barulho dos saltos sobre o piso.
O fato de Marcelo estar agarrado à minha cintura e nossas mãos entrelaçadas, já estava chamando a atenção da multidão, quando chegamos ao centro do salão.

— Atenção! Tenho um anúncio maravilhoso para compartilhar com vocês — Diz ele em alto e bom som, a música diminui. — Hoje, como vocês sabem, estou comemorando os dezoito anos de aniversário de Valentina Becker.

Uma jovem linda, encantadora, inteligente, e muito amorosa e dedicada. Quase nenhum de vocês aqui não a conhece, certo?

Mas é com muito prazer e alegria que nessa noite maravilhosa, eu apresento a vocês, Valentina Becker como minha noiva.

Em meio a muitos espantos e convidados confusos olhando um para o outro, ele me vira de frente para si e tira do bolso uma outra caixa.

Dentro há um par de alianças, uma feminina e outra lisa. A minha brilhava sob as lâmpadas como se tivesse sido tirada direto do céu noturno, cravejada de diamantes.
Delicadamente, Marcelo a coloca em mim. Ele beija a aliança, o contato de sua boca com a pele me dá arrepios.

— Sua vez, querida.

Eu estou em choque. Minha aparência – ou que resta dela – certamente está pálida.
Com as mãos trêmulas, com certa dificuldade tiro a aliança da caixa e coloco em seu dedo.
A mão de Marcelo é grande e por isso seu aro é muito mais largo, os nós dos dedos são riscados de cicatrizes.

— Daqui, há exatamente seis meses, vocês estarão novamente reunidos para o nosso casamento.

— O que?! Seis meses? É muito pouco tempo!

Eu arregalo os olhos e olho para Marcelo que está com o sorriso de orelha a orelha.
Os convidados estão todos perplexos, minha mãe está com os olhos cheios de lágrimas, minha vontade também era de poder chorar e espernear, mas nada disso adiantaria.
Tento me afastar dele e ir até minha mãe, e sou impedida.

— Aonde você vai meu docinho?

— Vou falar com a mamãe.

— Agora não é o momento para isso, ela tem muito o que pensar e certamente tem que conversar sério com seu pai. Venha, dance comigo.

♣ ♥ ♠ ♦ Contínua no próximo capítulo. ♣ ♥ ♠ ♦

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